Sob a Luz do Divinal Querer - Sidney Fernandes

Luz do divinal querer / Seria uma sereia / Ou seria só / 
Delírio tropical, fantasia / Ou será um sonho de criança / Sob o sol da manhã.
Lulu Santos/Nelson Motta
 
Assim como já ocorre em outros países, o Brasil foi autorizado a usar plasma de pacientes curados de coronavírus para o tratamento de casos graves da doença. Surge a grande pergunta:
— Por que algumas pessoas se curam, não obstante serem idosas e portadoras de comorbidades? 
Ou ainda:
— Por que existem certos indivíduos imunes à doença?
Essas perguntas nos levam a outras reflexões, diante de incógnitas não respondidas pela ciência.
— Por que pessoas são diferentes? Se todos têm a mesma origem espiritual, por que alguns nascem atletas e outros deficientes, ricos ou pobres, doentes ou saudáveis, gênios ou medíocres?
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Ocorreu em Araguari, Minas Gerais, o atropelamento de uma criança de dois anos. O veículo arremessou-a para o alto e em seguida passou com as duas rodas em cima de suas perninhas. Levada para o pronto atendimento, surpreendentemente a pequena vítima não apresentou nenhuma fratura, teve somente um dente quebrado, um corte na nuca e alguns arranhões.
Quem esteve no local ou assistiu à forte cena pelo vídeo gravado por uma câmera de monitoramento ainda não consegue explicar como os danos não foram mais graves.
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A presença de placas beta-amiloide afeta a região do cérebro responsável por nossas memórias. Durante muito tempo, cientistas acompanharam idosos com mais de noventa anos e verificaram o estado de seus cérebros, depois que morreram.
Pela presença das placas, todos deveriam ter sido diagnosticados como doentes de Alzheimer. Mas não foi isso que aconteceu. Inexplicavelmente, alguns desses idosos nunca apresentaram qualquer sintoma do transtorno.
Estudos mais profundos concluíram que existe um grande grupo de pessoas que se mantêm imunes ao desenvolvimento da doença. Pesquisadores ainda não conseguiram entender qual é o mecanismo de ação que os protege.
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— Minhas vias aéreas estavam todas queimadas pela fumaça que eu tinha respirado. Tinha taquicardia. Minha queimadura não cicatrizava e podia infeccionar os rins. Tomei muitas transfusões de sangue, tinha febre alta.
Este foi o depoimento de Ricardo Trajano, então com 21 anos, único passageiro sobrevivente do “desastre de Orly” (acidente aéreo ocorrido em 1973, nos arredores de Paris). Os demais 123 passageiros não sobreviveram.
Mesmo após décadas, até hoje as autoridades da aviação não conseguem explicar como esse jovem se salvou.
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Representantes da ciência não têm respostas para esses casos, deixando às entidades filosóficas, religiosas e à sociedade campo aberto às suas conclusões. Milagre? Mérito? Moratória? Proteção espiritual? Ou, como anuncia a belíssima letra de Nelson Motta, musicada por Lulu Santos, “sob a luz do divinal querer”?
Ensina-nos a Doutrina Espírita que fomos programados para o bem e para o equilíbrio. Se desrespeitamos as leis divinas, desajustamo-nos espiritualmente e o sofrimento torna-se necessário para a nossa correção. Doenças, deficiências e dores são efeitos, condicionados às causas que provocamos, nesta ou em vidas anteriores.
E o contrário, também pode acontecer? Quando nos apegamos ao bem e cultivamos a espiritualidade, contamos com alguma proteção especial? 
Concluiria a sabedoria popular:
— Anjos protetores cuidaram dessas pessoas!
Enfatuados e torcendo o nariz, diriam homens do saber que isso é crendice popular e exagerado misticismo.
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Informa-nos a Doutrina Espírita: 
Não vos parece grandemente consoladora a ideia de terdes sempre junto de vós seres que vos são superiores, prontos sempre a vos aconselhar e amparar, a vos ajudar na ascensão da abrupta montanha do bem? 
Mais sinceros e dedicados amigos do que todos os que mais intimamente se vos liguem na Terra? 
Eles se acham ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Deus quem aí os colocou e, aí permanecendo por amor de Deus, desempenham bela, porém penosa missão. Sim, onde quer que estejais, estarão convosco.     
Espíritos protetores nos orientam, quanto ao procedimento moral e quanto a todos os demais assuntos de nossa vida. Esforçam-se para que vivamos da melhor maneira possível.
Exercem suas influências não apenas pelo pensamento, mas, às vezes, diretamente no cumprimento das nossas coisas materiais, de maneira tão suave que as atribuímos à sorte, destino ou ao natural encaixe dos acontecimentos da vida.
E quando chegou a hora prevista para os acontecimentos? Nada mais a fazer e aceitar resignadamente o soar das badaladas dos senhores da vida? No mais das vezes sim, mas mentores espirituais ainda podem nos surpreender.
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No livro Obreiros da Vida Eterna, André Luiz descreve os preparativos de equipe espiritual encarregada de dar assistência a quatro espíritos, cujas vidas, aqui na Terra, estavam se findando: Fábio, espírita; Albina, evangélica; Cavalcante, católico; e Adelaide, médium espírita que, inclusive, tinha méritos para contar com a companhia do bondoso Bezerra de Menezes em seus momentos finais. 
Foram conduzidos por amigos espirituais à Casa Transitória de Fabiano, para tarefas de preparação. Não foi tarefa difícil, pois todos eles, pela proximidade da desencarnação, com moléstias prolongadas, já estavam se desligando dos corpos em ação quase mecânica, dado o estado de enfraquecimento em que se encontravam. Segurando suas mãos, mentores os impulsionaram, volitando, em direção à casa espiritual.
— Amigos, o concurso desta noite não se destina à cura do corpo grosseiro, posto agora a distância pelas necessidades do momento. Tentamos revigorar-vos o organismo espiritual, preparando-vos o desligamento definitivo, sem alarmes de dor alucinatória.
Quem assim se expressou foi o assistente Jerônimo, acompanhado por vários cooperadores, dentre eles André Luiz, cuja missão era prestar assistência às entidades infelizes dos círculos mais baixo da vida espiritual, que rodeiam a crosta da Terra. 
A partir daí, intensificaram-se os esforços da equipe espiritual, ultimando os preparativos, com efetivas providências, dada a proximidade de todos os desencarnes. Tudo corria bem, de acordo com os planejamentos que facilitariam os desligamentos, quando, de repente, o mentor Jerônimo recebeu chamado urgente de autoridade superior. Precisou partir imediatamente, pois, conforme determinações recebidas, o entendimento era inadiável.
Ao regressar, todos os cooperadores foram surpreendidos com inesperada notícia: Albina fora autorizada a permanecer na Terra por mais tempo e sua desencarnação fora adiada. Quiseram, saber, naturalmente, o que havia ocorrido de tão grave que houvesse determinado o abortamento da morte de Albina, com a renovação da missão que traziam.
— A medida não deve provocar admiração — explicou Jerônimo. Todos nós experimentaremos limitações nos atributos e ou no acréscimo de deveres, segundo os desígnios superiores.
André insistiu em obter melhores esclarecimentos, mas, não obstante sua insistência, apenas tomou conhecimento de que, quando ocorre semelhante modificação de roteiro, é porque o interesse coletivo prevaleceu. Ainda mais interessado ficou quando soube que a modificação se originara em atenção a pedido vindo da Terra e não de esferas superiores.
Visíveis melhoras de Albina suscitaram novas indagações de André Luiz, que, seguidamente, buscava de onde havia surgido pedido tão veemente que modificara o destino da doente. Achou que a petição atendida havia surgido de um grupo de jovens evangélicos ou das filhas que a atendiam. Diante da negativa de Jerônimo, André aquietou-se, paciente, aguardando a resposta definitiva.
De repente, um menino miúdo de oito anos adentrou o local e correu para beijar a enferma com grande ternura. 
— A súplica dessa criança alcançou-nos a colônia espiritual e modificou-nos o roteiro — disse Jerônimo, começando a desvendar o mistério. Joãozinho é grande e abnegado servo de Jesus, reencarnado em missão do Evangelho. Tem largos créditos na retaguarda. 
Observando melhor, André notou que a filha mais velha da enferma estava grávida de uma menina. Esclareceu o assistente Jerônimo que a criança no ventre de Loide, filha de Albina, era companheira de muitos séculos de Joãozinho. Juntos iriam cumprir abnegada tarefa de continuadores da obra evangélica da avó. Apesar da condição infantil, Joãozinho tomou conhecimento da sua morte. Imediatamente concluiu que o fato repercutiria negativamente em Loide e poderia prejudicar a companheirinha em gestação.
Esse fato poderia afetar profundamente o rumo do serviço de que João era portador. Nos instantes de desdobramento espiritual, consciente da grave situação que se avizinhava, rogou adiamento do desencarne de Albina.   
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Milagre? Mérito? Moratória? Proteção espiritual? Ou a vontade de Deus expressada por seus mensageiros que trazem a luz do divinal querer?
Nossos anjos da guardam jamais descansam. Estão sempre alertas para que recebamos o melhor da vida, às vezes por simples inspiração, outras vezes por efetiva interferência na vida material.
Encerro este texto com a manifestação de André Luiz, que se sentiu encantado e surpreso com a iniciativa de uma criancinha de oito anos:   
E contemplando, sob forte enlevo, a pequena família em santificado júbilo doméstico, eu chegava à conclusão de que, ainda ali, numa câmara de moléstia grave, a oração, filha do trabalho com amor, vencia o vigoroso poder da morte. 
 
Fontes: Obreiros da Vida Eterna, André Luiz; Música Sereia, de Lulu Santos e Nelson Motta; O Livro dos Espíritos, Allan Kardec