Não desanimemos na prática do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos.
Paulo, Epístola aos Gálatas, 6:9
Richard Simonetti nunca deixou de compartilhar a intuição de que havia sido sacerdote e médico, em vidas anteriores. Sua escrita e seu verbo sempre foram fluentes e agradáveis, esmerando-se em expressar-se de maneira simples, despojada, os difíceis conteúdos de que tratava e esmiuçava, firmando um estilo simples, despojado, bem-humorado, com o intuito de trocar em miúdos a Doutrina Espírita, colocando-a ao alcance de qualquer leitor.
Nesse contexto, destacavam-se os textos relacionados com a medicina, não apenas da alma, mas também do corpo físico, discorrendo sobre a saúde humana e suas intrincadas nuances, com a maestria de quem era catedrático no assunto.
Prova disso encontramos facilmente, ao desencravar, dos idos de 1963, o primeiro texto que Richard remeteu para a Federação Espírita Brasileira e que foi publicado pela Revista O Reformador, em abril daquele ano: Medicina Pioneira, foi o título do artigo.
Nele, enfocava um médico que orientava uma paciente quanto à necessidade de mudar sua postura diante da vida, a fim de superar problemas existenciais e físicos que a infelicitavam.
À par de sua extraordinária lavra de sessenta e cinco livros , entre dissertativos, romances, histórias e séries, seguiram-se textos e palestras em que, volta e meia, Richard derrapava para a área médica, como por exemplo:
“Cérebro – Agente ou Gerente do Espírito? ”, “Dinâmica do Perdão”, “A Saúde da Alma”, “O Plano B”, “Mudança de Rumo” e “Depressão – Uma História de Superação”, só para citar os mais conhecidos.
Contando com extraordinária memória, cultura geral e doutrinária, Simonetti também se abeberava, naturalmente, nas obras clássicas da literatura espírita, lastreando suas lucubrações em sólidos princípios doutrinários, ora oriundos de Allan Kardec e seus imediatos seguidores, ora oriundos da psicografia de Francisco Cândido Xavier.
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Corpo: reflexo da alma
Aprofundando conhecimentos de sábios milenares que, dentre outras conclusões, já defendiam o Mens Sana In Corpore Sano, do poeta romano Juvenal, o Espiritismo vem reiterar que a saúde do corpo é apenas um reflexo da saúde da alma.
Dependendo dos olhos da nossa alma , isto é, como administrarmos as coisas da vida, nosso corpo terá luzes ou sombras, saúde ou doença. A calma e a resignação hoje são consideradas como fatores fundamentais, tanto para a saúde do corpo, quanto à do espírito, assim como a inveja, o ciúme, a ambição e outras doenças do espírito, são fatores desestabilizantes do organismo físico e do psíquico humano.
Ensina-nos, ainda, a Doutrina Espírita , que a cólera, a intemperança e os excessos de todo gênero, atingem igualmente, tanto nosso corpo espiritual, quanto nosso corpo material. Assim como a fraqueza orgânica nos torna mais susceptível às más influências espirituais, o processo obsessivo prolongado pode, reciprocamente, ocasionar desordens patológicas que precisarão ser tratadas pela ciência médica.
Como vemos, o entrelaçamento das zonas vibracionais entre corpo e espírito leva-nos, como ensina André Luiz, em Ação e Reação, a considerá-los um conjunto harmonioso, enfeixado pelos laços dos centros perispirituais.
Enquanto não se debruçar o homem à renovação mental dos padrões do bem, concluir pela necessidade do estudo para a assimilação do conhecimento superior e pelo serviço ao próximo, com o esquecimento de suas próprias mazelas, o ser humano permanecerá patinando na limitada ciência humana, com dificuldades para transitar pelos caminhos evolutivos da vida.
Arremata o assunto André Luiz dizendo que todo mal por nós praticado conscientemente expressa, de algum modo, lesão em nossa consciência e toda lesão dessa espécie determina distúrbio ou mutilação no organismo que nos exterioriza o modo de ser.
Eis o motivo porque a medicina do futuro há que considerar o doente como um todo psicossomático, se quiser realmente investir-se da arte e curar.
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Fechamos estes rápidos parênteses para chamar a atenção do caro leitor que essa medicina do futuro, anunciada por André Luiz por volta de 1957, foi reiterada por Richard Simonetti, em 1963, naquele seu primeiro artigo e depois reafirmada em sua palestra A Dinâmica do Perdão.
Antes, uma indagação: será que esse futuro da medicina, anunciado por André Luiz, e depois reforçado por Simonetti, ainda é, mesmo, um ideal distante?
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Medicina Pioneira
Artigo de Richard Simonetti
– Ah! … doutor! …. Eu queria tanto ter saúde, a fim de ser um pouquinho feliz! … – suspirava aquela senhora que se habituara a percorrer os consultórios médicos, presa de distúrbios diversos.
– Minha filha – respondeu bondosamente o experiente facultativo –, esse é o erro de muita gente, porque não se trata de procurarmos ter saúde para ser feliz, e, sim, de procurarmos ser felizes para ter saúde. Somente as pessoas em paz com a vida, que guardam a euforia de viver, desfrutam do equilíbrio físico e mental que todos almejamos.
Após esse diálogo, Simonetti discorreu livremente sobre a verdadeira felicidade, afirmando que ela não é uma oferta gratuita da vida e exige esforço e dedicação para que seja alcançada.
A Dinâmica do Perdão
Palestra de Richard Simonetti
— Há pessoas que são assim: biliosas, agressivas, não levam desaforo para casa, estão sempre brigando, tiranos domésticos, resolvem tudo no grito. Elas acabam desenvolvendo problemas circulatórios, que evoluem para a hipertensão arterial e acabam afetando o próprio coração. Num belo dia, o cidadão tem um infarto fulminante e cai durinho!
— Habilitam-se a sofrimentos. Morrem antes da hora. Vão para o plano espiritual na condição de suicidas inconscientes. Não tomaram consciência de que a sua maneira de ser estava promovendo a sua própria morte.
— Nós vamos aprendendo, na medida em que estudamos o evangelho, à luz do Espiritismo, que perdoar é um ato de inteligência. Nós não estamos fazendo favor para ninguém, estamos fazendo um favor para nós mesmos. É o mínimo que fazemos para manter a nossa estabilidade, o nosso equilíbrio, procurando viver o tempo de vida que o Senhor nos concedeu.
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A medicina do futuro
Lá, em 1963, quando Simonetti encerrou seu artigo Medicina Pioneira, fez o seguinte vaticínio, que julgava ocorreria em distante futuro:
— Muito mais eficiente que prescrever medicamentos para o corpo será cuidar do Espírito. Os pacientes deixarão seus consultórios com interessantes receitas: integrar-se em instituições de assistência social; participar de campanhas que visem ao bem-estar da coletividade; recolher livros para hospitais e prisões; angariar fundos para instituições socorristas; visitar doentes; atender necessitados, adotar órfãos…
Da espiritualidade, Richard Simonetti deve estar se regozijando com as recentes notícias oriundas do meio médico, pois, aquele distante futuro acabou de chegar.
Espiritualidade é importante para a saúde
Repórter: — Médicos devem abordar a espiritualidade dentro dos consultórios. A orientação, inédita em todo o mundo, é da Sociedade Brasileira de Cardiologia. A ideia é respaldada por mais de cem estudos científicos que comprovam benefícios da vida espiritual para a saúde do coração.
Dr. Álvaro Avezum – cardiologista: — Perdão, altruísmo, compreensão, gratidão, ressentimento, mágoa.... Isso previne ou aumenta o nosso adoecimento.
O que levou a sociedade médica a passar a considerar a espiritualidade como coadjuvante dos tratamentos convencionais? A iniciativa ganhou o apoio da Sociedade Brasileira de Cardiologia a partir do congresso realizado em Fortaleza, Ceará, que abordou, em suas atividades especiais, temas relacionados com os benefícios da espiritualidade e a medicina cardiovascular.
As pessoas estão cada vez mais conscientes de que precisam se libertar de atitudes negativas, que somente lhe fazem mal e provocam doenças. Há dois anos a mente da Caroline ficou mais calma e o coração também.
Repórter: — Você acha que consegue perdoar mais?
Caroline: — Consigo.
Repórter: — Por que?
Caroline: — Porque é esse o processo. Você começa a entender que você não perdoa para o outro. Você perdoa para você, para você seguir. Você começa a entender que tudo isso é para o seu bem.
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Allan Kardec, André Luiz e Richard Simonetti anteciparam conclusões que somente agora a ciência médica está comprovando. A origem espiritual das doenças vem atestar o mecanismo da lei de causa e efeito, irmã-gêmea da reencarnação, habilitando o homem ao reequilíbrio, diante de seus desvios pretéritos.
Levantou-se apenas a ponta do imenso iceberg. O tempo, inexorável, pois que senhor da razão, se incumbirá de levantar todo o véu que obsta as descobertas científicas. Assim como o Mestre Hermínio Miranda, constatamos, amigo leitor, que as ideias e os conceitos em que a Doutrina se antecipou aos tempos começam a receber a estampa confirmatória das conquistas intelectuais dos tempos atuais. Está chegando a hora e a vez da espiritualidade.