O Gigante do Evangelho - Sidney Fernandes

Paulo conseguiu atingir as culminâncias, entretanto, quantos golpes de açoite, pedradas e ironias suportou, adaptando-se aos ensinamentos do Cristo, em escalando a montanha!...

Emmanuel

A QUEM DEVEMOS O CRISTO?

Não fora Paulo de Tarso, não conheceríamos o Cristo, nem sua gloriosa mensagem de amor. Graças à sua fibra, dedicação, fidelidade e determinação, a mensagem cristã espalhou-se além dar cercanias do Mar Mediterrâneo. De igreja em igreja, de cidade em cidade, o convertido de Damasco inflamou corações e, com suas epístolas, tornou o cristianismo conhecido por todo o planeta Terra. A mensagem do Evangelho poderia ser sufocada e perecer, não fora a extraordinária veiculação que o convertido a ela imprimiu, dando-lhe caráter de universalidade.

O jovem Saulo, 30 anos, portava virilidade e beleza, temperamento indomável, agudo e resoluto e reprimia atividades que considerava perniciosas, oriundas dos seguidores de um pobre carpinteiro, no seu modo de ver, obscuro, inculto, originário da Galileia. 

Na estrada para Damasco, quando para lá se dirigia a fim de algemar, prender, atormentar e talvez até matar Ananias — que o salvou, a mando de Jesus, da cegueira —, Saulo recebeu o apelo de Jesus, para que passasse a segui-lo e a pregar a sua palavra.

Ao meio-dia, ó rei, vi no caminho uma luz no céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu e aos que iam comigo. E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: — Saulo, Saulo, por que me persegues? Atos, 26, 13:14

O episódio narrado ao Rei Agripa descreve a imagem e a voz captadas somente por Saulo. Os homens com quem viajava chegaram a pensar que o Doutor de Tarso estivesse gracejando, ou se encontrasse extremamente perturbado ou houvesse ficado gravemente doente.

A voz daquela personagem iluminada, que somente ele ouviu, lhe fez perguntas e lhe passou instruções. Cego, levantou-se do chão e foi conduzido pela mão até Damasco. 

Aquele fenômeno modificou totalmente o curso de sua vida, pois a partir dali cessou a sua violência criminosa e começou uma nova era. Iniciou-se, então, a nova vida de Paulo de Tarso.

POR QUE JESUS ESCOLHEU PAULO DE TARSO?

— Por que o Cristo foi convocar um moço apaixonado e caprichoso, ferrenho defensor da Lei de Moisés? Qual a razão de aparecer para um perseguidor político-religioso, que não vacilava em torturar e matar, quando concluía que essas medidas extremas eram necessárias e oportunas? O moço de Tarso parecia mais um rochedo áspero, portador de um coração impulsivo e envenenado, um louco incapaz de ser piedoso diante de mulheres indefesas e crianças misérrimas.

Para tentar responder essas seculares perguntas, teríamos que conhecer o que o Cristo sabia e nós, até hoje, apenas podemos deduzir. Muito provavelmente, de longa data Jesus havia detectado no futuro rabino Saulo a energia, a determinação e a inflexibilidade, capazes de serem transformadas em lealdade e sinceridade, incondicionalmente consagradas ao serviço da mensagem cristã.

Para aquela fundamental missão, Jesus precisava de um homem culto, que falasse o grego, o latim e o hebraico e pudesse pregar em todos os lugares conhecidos. Nenhum dos doze discípulos tinha esse preparo. Além disso, Paulo era cidadão romano e podia viajar por todo o império, com todos os direitos que eram inerentes ao seu passaporte.

Jesus fechou os olhos para os espinheiros ingratos, estendeu suas mãos divinas sobre aquela ovelha perdida e a transformou no gigante do Evangelho, que a ele se entregou para sempre.

O QUE ERA O ESPINHO NA CARNE DE PAULO?

Alguns dizem que o espinho na carne de Paulo era a perda da sua visão, outros que tinha alguma dificuldade para se expressar ou alguma forma de paralisia. Em Gálatas, 4:13-14, ele fala em enfermidade. Um de seus exegetas atribuiu o espinho na carne aos suplícios que sofreu na cidade de Listra, tais quais as perseguições de Antioquia e Icônio, durante suas pregações. Outros intérpretes, incluindo Richard Simonetti, supõem que além de problemas físicos possuía também provações (obsessões) espirituais. Muitos entendem que Paulo carregou por toda a vida a responsabilidade pela morte de Abigail e Estêvão, como verdadeiro espinho na carne.

O apostolado de Paulo foi pleno de adversidades e momentos difíceis. Mesmo tendo orado por três vezes para ser liberto, teve que conviver com o espinho até o fim dos seus dias. Paulo atribuía ao permanente incômodo uma espécie de função limitadora capaz de contê-lo, a fim de que não se exaltasse com a grandiosidade de sua missão.

SAULO OU PAULO?

Muitos pensam que Saulo mudou de nome para marcar a sua extraordinária conversão, um dos fatos mais marcantes da história do cristianismo. Na verdade, seu primeiro nome era Chaul, em hebraico, cuja versão grega era Saulo, nome que se tornou mais popular entre os cristãos da Inglaterra, no século XVIII. Era costume, no entanto, naquela época, o uso de um segundo nome, latinizado ou grego, além do primeiro em hebraico ou aramaico. O seu segundo nome era Paulo, com o qual passou a assinar as suas famosas epístolas.

Em Tarso, Paulo recebeu a formação básica comum dos judeus. Embora não se saiba exatamente quando ele foi para Jerusalém, é certo que lá foi educado, sob o ensino do renomado doutor da lei Gamaliel. 

Conhecia profundamente a cultura grega, falava o aramaico e era avançado no judaísmo. Possuía sólida formação teológica, pois desde a mocidade demonstrou ser aluno aplicado, esforçado e estudioso das leis judaicas. 

COMO SURGIRAM AS EPÍSTOLAS?

Paulo passou a ser muito requisitado pelos sítios por onde espalhara as alvissareiras notícias da mensagem cristã. Não daria conta de estar em todos os lugares e não bastaria enviar seus emissários, pois os irmãos, carinhosos e confiantes, contavam com sua sinceridade e dedicação. Diante da impossibilidade de atender a todos, simultaneamente, orou a Jesus que o orientasse. E novamente a inspiração não faltou, na voz dirigida ao coração:

— Poderás resolver o problema escrevendo a todos os irmãos em meu nome.

As epístolas obtiveram imediato êxito e passaram a ser aguardadas ansiosamente pelos rincões mais humildes, pelas consolações que levavam, comovendo a todos e assinalando uma nova etapa na história do Evangelho do Cristo.

COMO SURGIU O EVANGELHO DE LUCAS?

Paulo foi preso várias vezes, acusado de defender e espalhar o cristianismo, em períodos que, somados, totalizaram entre cinco ou seis anos, presumidamente.

Durante sua reclusão em Cesareia, aproveitou o tempo para continuar mantendo relações com suas igrejas, com troca de mensagens que iam e vinham, consultas, pareceres e instruções. Numa dessas ocasiões, lembrou Lucas, seu fiel discípulo, de velho projeto de escrever uma biografia de Jesus. 

Lucas, médico grego, não havia sido apóstolo, nem havia convivido com Jesus e provavelmente, como gentio, havia se convertido ao cristianismo pela pregação dos primeiros discípulos do Mestre. De onde ele colheria as informações para a obra encomendada por Paulo? A resposta não se fez esperar. 

Maria, que havia participado intensamente da vida do filho, guardava, indelevelmente, preciosas informações que municiariam Lucas para a composição do livro.

Paulo reputava esse trabalho de capital importância para os adeptos do cristianismo. O médico amigo deslocou-se para Éfeso, onde Maria vivia sob os cuidados do apóstolo João, e lá fez as anotações evangélicas que até hoje se destacam pela riqueza de luzes e esperanças divinas. Certas parábolas, como a do Filho Pródigo e a do Bom Samaritano, são encontradas apenas no Evangelho de Lucas.

Graças a Maria, o Evangelho de Lucas destaca-se dos demais por conter a anunciação, a infância, a vida e o ministério de Jesus, bem como detalhes que demonstram que o médico evangelista deve ter tido conhecimento pessoal com ela. De todos, o Evangelho de Lucas e o Livro dos Atos são o que mais citam Maria, por noventa vezes, de um total de 152 versículos em todo o Novo Testamento.

QUAL FOI A SUA MAIOR TRISTEZA?

Paulo teve muitas tristezas e problemas em sua missão apostólica. Todos eles estão enumerados na segunda epístola aos Coríntios. 

Mas, se houve algo que o desagradou sobremaneira, foi o insucesso na conversão dos judeus. Estêvão, o primeiro mártir do cristianismo, conseguiu que Paulo, finalmente, aceitasse o Cristo. O mesmo não aconteceu com seus irmãos judeus, que o perseguiram sob a alegação de que ele havia se levantado contra a lei e contra o templo.

QUAL FOI A PRINCIPAL RAZÃO PARA PAULO ACEITAR JESUS?

Não apenas a queda e a cegueira ocorridas nas portas de Damasco foram fundamentais, mas a experiência avassaladora com Jesus lhe deu a certeza de que estava lidando com o Messias, que viera para cumprir as promessas feitas no passado em forma de profecias, para dar ao povo o caminho glorioso da espiritualidade. 

O profundo amor que ele tinha por seu povo de um lado e a experiência com o Cristo do outro lado, eram faces de uma mesma moeda que atendia seus irmãos judeus e estava abrindo um novo caminho para toda a sociedade humana.

Jesus o escolheu pela extrema fidelidade ao Antigo Testamento, que o levou a aceitar e divulgar para o mundo o Novo Testamento. Graças a Paulo pudemos conhecer Jesus e a sua imensurável mensagem de amor à humanidade.

 

 

Referências: Paulo e Estêvão e Pão Nosso, Emmanuel; Entrevista com o Apóstolo Paulo, Carlos Mesters.