A luz que liberta - Sidney Fernandes

A Luz que Liberta

- Sidney Fernandes

Como dobrar as cervizes de execráveis vingadores, insensíveis às dores alheias, que se projetam em seus adversários de forma odiosa e rancorosa?

Quando a imaginação humana se vê impotente, achando que os métodos persuasivos da espiritualidade se esgotaram, surpreendemo-nos com infinitas formas de convencimento, que sequer concebíamos. Fique claro que estamos falando somente de metodologias de recuperação alusivas ao planeta Terra e ao seu correspondente nível evolutivo. Imaginemos por esse universo afora...

O que fazer com espíritos que não se reconciliam e continuam desafiando as regras da vida? Que destino podem ter as criaturas que insistem em medir forças com o Criador? O que fazer com quem combate a má luta, tripudiando nos tormentos dos seus semelhantes? Que destino está reservado aos que insistem em lançar lodo e treva no caminho de seus semelhantes?

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Antes de responder a essas perguntas, amigo leitor, quero confidenciar-lhe uma experiência de meus verdes anos de juventude. Eu assistia a uma palestra no Centro Espírita Amor e Caridade de Bauru, quando fui surpreendido com a seguinte síntese, proferida pelo orador, sobre o desamor que alimentamos em relação ao próximo:

— Preocupamo-nos muito mais com a dor da nossa cutícula inflamada, do que com o câncer do nosso vizinho.

Infelizmente o absurdo dessa frase é comprovado por uma rápida observação do comportamento humano perante o seu semelhante.

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Petrus e Joanes odiavam-se há séculos. E mesmo tendo vivenciado inúmeras e dolorosas experiências, não se reconciliavam e não se rendiam aos parâmetros divinos.

Até que ocorreu um fato inesperado aos olhos humanos, que vem corroborar a tese de que existe um imenso arsenal de convencimento nas paragens da espiritualidade.

Lembro aos que acompanham estas despretensiosas linhas, que eventuais acometimentos que envolveram nossos personagens não devem ser considerados como castigos divinos e sim frutos de suas más semeaduras.

O mentor logo percebeu os sintomas clássicos do AVC, caracterizado pela dor de cabeça, vômitos, início de dormência nos membros inferiores, por enquanto, em apenas um dos lados do corpo de Petrus. A dificuldade da visão era notória e a fala estava suspensa.

O coágulo precisava ser dissolvido ou o paciente pereceria em poucos minutos, pois a trombose localizava-se exatamente numa das artérias que irrigava o córtex motor do cérebro. A apoplexia era iminente!

Nesse ínterim, Joanes, que havia recebido a chuva de vibrações de Apolo quais chispas de luz que lhe descerraram a visão espiritual, passara a ver e a acompanhar as operações do mestre, na tentativa de salvar a vida de seu antagônico irmão, Petrus.

Imediatamente chamou para si, intimamente, toda a responsabilidade do estrago cerebral do paciente. Exatamente porque Petrus, por suas culpas, não dispunha de defesas próprias, Joanes havia conseguido penetrar profundamente em suas entranhas espirituais com suas negras emanações de ódio.

Joanes, pela primeira vez em dezenas de anos, não sentiu qualquer prazer com a dor do desafeto. Mais do que isso, passou a experimentar os mesmos sintomas do enfermo em vias do desencarne.

Era um gosto amargo que lhe provocava intensas náuseas, vista turvada, forte dor de cabeça e gradativa paralisia dos membros, embora estivesse desencarnado. O processo de xifopagia espiritual se lhe instalara com toda a sua extensão de gravidade.

 

E então aconteceu o milagre que todos esperavam:

Joanes ajoelhou-se perante todos e começou a chorar. Petrus estava morrendo por sua causa e ele estava sentindo, na própria pele, todos os sintomas que havia provocado no irmão.

“— Eu sei quem pode salvar meu irmão! ” — disse Joanes, lavado em lágrimas. E saiu em desabalada carreira.

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Percebeu, amigo leitor, a extraordinária providência adotada pelos luminares espirituais? Se antes os protagonistas de nosso drama se compraziam com suas recíprocas agressões, indiferentes à dor do outro, de repente tudo mudou, quando passaram a experimentar o gosto amargo dos seus próprios remédios. Sentindo a mesma dor que provocavam em seus próximos, tomaram imediata consciência de suas atrocidades.

Mas, não é exatamente assim que a espiritualidade age, no desfiar das várias encarnações a que somos submetidos? Sofrendo os mesmos efeitos das dores que causamos, passamos a refletir e a cogitar seriamente de mudanças em nossos comportamentos.

— A dor, a doença e a velhice — alertava Richard Simonetti — são enfermeiras da alma.

Que tal, amigo leitor, passarmos imediatamente a cogitar da reflexão, do perdão, da condescendência e da reparação dos males que nossa consciência teima em nos lembrar, antes que nos ocorra coisa pior? Ou vamos ficar esperando pela dor, considerando-a como única luz que liberta?

Fiquemos com Allan Kardec:

Apressa-te, pois, visto que cada dia de demora é um dia perdido para a tua felicidade.

        (Texto adaptado do livro SOB A LUZ QUE LIBERTA, de Sidney Fernandes)

 

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