Alma Generosa - Sidney Fernandes

É preciso ter muito cuidado com o poder. Ele pode colocar à mostra o que o homem tem de pior. O ditado português “Se queres conhecer o vilão, dá-lhe a vara na mão” quase sempre sintetiza o comportamento dos que se lambuzam com o poder.

Poderá acontecer de o endinheirado passar a desprezar o pobre, o intelectual a abusar da sua inteligência ou a autoridade a pisar no mais humilde. Parece que a altitude afeta o caráter da hierarquia superior e o subordinado sofre os efeitos desse desequilíbrio.

Isso acontece com o professor? Afinal de contas, mestres do ensino encontram-se em patamar mais elevado do que seus educandos. Improvável!

Salvaguardadas desonrosas exceções, os que se dedicam à louvável arte de ensinar tendem a tornar-se inspiração de grande número de educandos. Nos educadores encontramos, geralmente, exemplos dignificantes, porquanto dedicam-se à honrosa missão de plasmar almas e forjar caracteres e raramente se desviam de seus objetivos.

A história que lhes trago, de autoria desconhecida, foi muito veiculada pelas redes sociais, mas merece ser relembrada.

***

        Um jovem judeu foi até um outro judeu em um casamento e disse:

— Você se lembra de mim?

— Não, não me lembro, quem é você?

E ele se apresenta.

— Ah, você foi meu aluno! Na terceira série, você foi meu aluno.

— Sim!

— Uau, não o vejo há tantos anos, como está sua vida, o que você faz?

Ele disse:

— Eu sou professor.

— Uau, como eu!

—O que inspirou você a ser um professor?

—O que me inspirou a ser um professor foi você.

Ele disse:

— Como eu inspirei você a virar um professor?

—Eu vi o impacto que você teve em mim e percebi o impacto que eu poderia ter na vida de outras crianças e decidi entrar para a educação.

—Que tipo de impacto eu tive em você?

—Vou lembrá-lo, mas tenho certeza de que você se recorda da história.

—Um dia, um dos meus amigos ganhou do pai e da mãe um lindo relógio de pulso. E eu sonhava com um relógio, mas não podia comprar um, então decidi roubar o relógio dele. Ele o guardava no bolso. Eu peguei o relógio. Ele veio para a aula e falou que alguém tinha roubado seu relógio. Foi reclamar com você que alguém havia roubado o seu relógio e então você fez uma declaração:

— “Quem quer que tenha roubado o relógio desse menino, por favor devolva-o”.

—Eu estava muito envergonhado e não queria devolvê-lo, então não devolvi. Então você trancou a porta e disse:

—“Eu vou ter que colocar todo mundo em uma fila e esvaziar seus bolsos para recuperar o relógio”.

—E foi o que você fez.

—Eu pensei comigo mesmo: “esse vai ser o momento mais constrangedor da minha vida”.

— E aí você disse, com todos os garotos em fila na parede:

— “Mas eu quero que todo mundo fique de olhos fechados. Todo mundo precisa estar com os olhos fechados”.

—E você foi de bolso em bolso, e todos estavam de olhos fechados, e você chegou ao meu bolso e achou o relógio, recuperou-o e continuou revirando os bolsos, com todos de olhos fechados.

E então você disse:

 — “Tudo bem, podem abrir os olhos”,

— Você deu o relógio de volta ao seu dono e nunca disse uma palavra para mim sobre isso em todo o ano.

— Nunca mencionou a história, nunca mencionou o episódio.

— E quando eu pensei em como você salvou minha dignidade naquele dia, em vez de ser estereotipado como um ladrão, um aproveitador, um mentiroso, como uma criança desprezível, você realmente salvou minha alma. Você salvou minha dignidade. E nunca me disse uma palavra. Não só para mais ninguém ou mesmo para o dono, nem mesmo para mim.

— Aconteceu, acabou, eu entendi a mensagem.

— E quando olhei para isso eu pensei:

— “Uau, isso é um professor, isso é um educador. Isso é o que eu quero fazer com minha vida”.

— E por isso entrei para a área da educação.

O professor estava ouvindo e disse:

— Nossa, isso é incrível. É realmente incrível.

E o jovem disse:

—Mas rabino, você não se lembra? Não se lembra da história? Quando você me vê e escuta meu nome, eu tenho certeza de que você se lembra de que roubei o relógio e o que você fez para não me envergonhar, com todos de olhos fechados. E eu sou essa pessoa.

E ele disse:

— Na verdade eu não teria como saber. Não teria como saber essa história

— Por que não? É uma história bem dramática

E ele respondeu:

— Porque eu também fechei os olhos.

***

Raros são os homens que ajudam o semelhante a escalar os degraus da vida e poucos se mobilizam no amparo social.

Jesus, o Mestre dos mestres, foi o mais poderoso dos homens e jamais se prevaleceu de seus atributos. Ao contrário, proporcionou inigualáveis exemplos de humildade e misericórdia.

Emmanuel denomina seu programa iluminativo de auxílio eficiente, pois ele ensinou sem se vangloriar, ajudou o homem a dignificar a vida, a edificar-se pelo trabalho sadio e a sentir-se melhor.

Todos os homens, que detêm ou não, circunstancialmente, a posição de mando, que pretendem honrar e servir a Jesus, devem imitar os seus exemplos.

 

Referência: Vinha de Luz, Emmanuel.