As aparências enganam - Sidney Fernandes

As aparências enganam

- Sidney Fernandes

Num dia de 1883, Gabriel Delanne recebeu uma carta de uma senhora, pedindo-lhe para ir a Versalhes, onde ela morava, a fim de lhe dar conhecimento de uma coisa importante referente ao Espiritismo. Lendo essa carta, Delanne teve a impressão de rece­ber uma coisa bem ridícula e de que iria perder o seu tempo. Mesmo assim, resolveu dar atenção à pobre senhora.

Tocou a campainha de uma humilde casa. Esperou um bom momento e ia retirar-se, porém, lo­go depois, tocou novamente uma segunda e uma terceira vez.

— Que deseja? - ­ perguntou velha e desgrenhada senhora. Dellane mostrou a carta que havia recebido.

— Entre! Entre - disse ela, entusiasmada.

Delanne, com um rápido exame observava sua interlocutora. Com um terrível acento inglês, a mulher falava repetida­mente que desejava fundar um pequeno jornal para divulgar o Espiritismo.

— Mas, senhora, é preciso dinheiro, porque isso custa caro - objetou Delanne.

Então, de uma das bolsas ela tirou cinco notas de mil francos, que colocou tranquilamente diante de Delanne.

— Aqui está, disse ela, para as primeiras despesas. Aceita redigir o jornal?

— Sim, articulou Delanne, e lhe agradeço, se­nhora, pelo interesse que parece ter pela difusão do Espi­ritismo.

Delanne se sentiu aliviado por ter dado atenção àquela senhora, embora inicialmente tenha se deixado levar pelas aparências. Foi graças a essa generosa inglesa, que não era outra senão a Sra. D'Espérance, ainda desconhecida na França naquela época, que a revista Le Spiritisme veio a lume.

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Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia, cheios de hipocrisia e de iniquidade.

A forte metáfora de Jesus, contida no capítulo 23 das anotações de Mateus, indica que nem sempre a aparência reflete o interior de alguém.

E Allan Kardec, no item 350 de O Livro dos Médiuns, faz uma oportuna observação:

Que importa crer nos Espíritos, se isso não nos torna melhores, mais benignos, mais indulgentes, mais humildes e pacientes? Assim, todos os homens poderiam acreditar nas manifestações dos espíritos e a humanidade ficar estacionária.

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Não é o rótulo, a aparência, o poder, a cultura ou a posição social que ocupamos aqui na Terra que vão determinar a nossa situação além desta vida. O que temos em nosso interior é o que realmente vai contar.

Diz André Luiz que é dever do espírita cristão verificar, de vez em quando, com rigoroso exame pessoal, a sua verdadeira situação íntima. E afirma com energia:

Espírita que não progride durante três anos sucessivos permanece estacionário.

Por meio de um periódico balanço, constataremos se o nosso interior está correspondendo às nossas aparências. E esse exame deve ser feito agora, enquanto temos tempo de desfazer nossos enganos. Ao passarmos para o lado de lá, poderá ser muito mais difícil.

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As aparências enganam. Parece que é, mas não é. Talvez aqui na Terra as coisas possam ser assim. Na espiritualidade, porém, as coisas são bem diferentes. A nossa transformação e o nosso esforço irão refletir, efetivamente, o estágio evolutivo que conseguimos alcançar.