Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo (João 1:9)
— Fora daqui, embusteiro, mistificador. Fora daqui!
Quem assim agressivamente se expressava era Licínio, dirigindo-se a Joaquim Mota. Mas, um momento! Licínio e Joaquim Mota não eram amigos inseparáveis? Quase irmãos? Não estavam sempre juntos nos negócios, nos interesses, nas férias e excursões?
Vamos explicar melhor essa história contada por Irmão X, na página Espiritismo e divulgação, que fui buscar em um dos livros que mais iluminaram minha juventude: Cartas e crônicas, da maravilhosa lavra psicográfica de Francisco Cândido Xavier, que aqui trago bem resumida.
Licínio desencarnou. E tão desconsolado estava Joaquim Mota, que a espiritualidade autorizou uma visita ao seu grande amigo, pelas vias do sono. Assim que se reviram, depois das jubilosas saudações Licínio assim se manifestou:
— Mota, Mota, meu caro Mota. A morte é apenas uma mudança. Cuidado, meu amigo, muito cuidado. Quanto tempo perdi em razão de minha ignorância espiritual. Saiba, Mota, que a vida continua. O homem, na Terra, habita provisoriamente um corpo de carne. Quando nascemos, levamos as dívidas do passado, com obrigações a cumprir. Nossos parentes e amigos são pessoas que conviveram conosco em outras existências.
— Ah, meu amigo - respondeu Mota. Mas eu sei de tudo isso. Desde muito cedo entrei no conhecimento da imortalidade da alma, do ensinamento e da lógica da reencarnação.
— Mota - continuou Licínio, visivelmente alterado -, você já está certo de que a vida aqui é a continuação do que deixamos e fazemos? Você sabe de tudo isso?
— Sim, sim - confirmou Mota, com o intuito de consolar o amigo.
Nesse momento, Licínio fica desvairado e, com o olhar esgazeado, brada:
— Fora daqui embusteiro, fora daqui.
— Licínio, meu amigo, o que é isso? Sou eu, Joaquim Mota, seu companheiro de uma vida inteira.
— Nunca! Embusteiro, mistificador. Se Mota conhecesse essas realidades, jamais me teria deixado no suplício da ignorância. Meu amigo Joaquim Mota é como eu, enganado nas sombras do mundo. Ele foi sempre o meu melhor irmão! Nunca teria permitido que eu chegasse aqui nas trevas.
Mota, em prantos, foi conduzido de imediato pela equipe espiritual que o acompanhava de volta ao corpo físico. Guardava certeza absoluta do reencontro espiritual. Começou imediatamente a refletir. Naquele momento, dezenas de pessoas estavam partindo do mundo, nas mesmas condições do amigo Licínio. Começou a pensar, naquele instante da madrugada, de maneira muito diferente de outrora, a respeito do Espiritismo e sua divulgação.
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Mas, por que Mota havia feito essa maldade com seu amigo Licínio, quando ainda estava encarnado? Não foi maldade. Simplesmente ele achava que religião era assunto exclusivamente de consciência. Encasquetara na cabeça a ideia de que ninguém deveria falar a outrem a respeito de seus princípios religiosos. E prosseguiu, vida afora repelindo qualquer palpite que induzisse alguém à renovação. Mesmo sendo um homem sincero e respeitável, era espírita à sua moda, só para si mesmo.
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Não é exatamente isso, caro leitor, o que acontece com a nossa atitude em relação à divulgação da Doutrina Espírita, mesmo sem maldade da nossa parte?
Por que muitas vezes nos esquivamos do apoio aos valorosos companheiros que mantêm acesa a chama da veiculação do Espiritismo, às vezes com dificuldades de toda ordem, inclusive financeira, para manter uma editora, um jornal, uma revista, uma rádio, uma TV ou mesmo uma feira de livros?
Não dão eles extraordinária contribuição para o consolo e esclarecimento de multidões de pessoas nas mesmas condições de Licínio?
Na verdade, não é bem maldade da nossa parte, e sim absoluta falta de consciência de que todos somos responsáveis pelo Espiritismo e por sua divulgação.
Parece-nos oportuno, no trato deste assunto, apresentar a experiência de Gabriel Delanne, quando, em 1883, recebeu a carta de uma senhora de Versalhes. Lendo essa carta, Delanne teve a impressão de receber uma coisa bem ridícula e de que iria perder o seu tempo. Mesmo assim, resolveu dar atenção à pobre senhora.
Tocou a campainha de uma humilde casa. Esperou um bom momento e ia retirar-se, porém, logo depois, tocou novamente uma segunda e uma terceira vez.
— Que deseja? - perguntou velha e desgrenhada senhora. Delanne mostrou a carta que havia recebido.
— Entre! Entre - disse ela, entusiasmada.
Delanne, com um rápido exame, observou sua interlocutora. Com um terrível acento inglês, a mulher falava repetidamente que desejava fundar um pequeno jornal para divulgar o Espiritismo.
— Mas, senhora, é preciso dinheiro, porque isso custa caro - objetou Delanne.
Então, de uma de suas bolsas ela tirou cinco notas de mil francos, que colocou tranquilamente diante de Delanne.
— Aqui está - disse ela, para as primeiras despesas. Aceita redigir o jornal?
— Sim, articulou Delanne, e lhe agradeço, senhora, pelo interesse que parece ter pela difusão do Espiritismo.
Delanne se sentiu aliviado por ter dado atenção àquela senhora, embora inicialmente houvesse se deixado levar pelas aparências. Foi graças a essa generosa inglesa, que não era outra senão a Sra. D'Esperance, ainda desconhecida na França naquela época, que a revista Le Spiritisme veio a lume.
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Emmanuel nos faz sério alerta, em página absolutamente atual para os dias de hoje, em página denominada Socorro oportuno, contida no livro Estude e viva, de sua autoria, em parceria com André Luiz, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira.
Exalta o socorro prestado aos obsidiados e doentes da alma. Chama-nos a atenção, no entanto, para criaturas que ele chama de desambientados de um mundo ainda sem recursos, fronteiriços da obsessão.
Esses – continua Emmanuel – esperam por algo que lhes pacifiquem as energias, suspirando por um raio de luz.
Refere-se o mentor aos lesados pela crueldade, aos espancados pela injúria, aos pais relegados ao abandono, aos que toparam enfermidades e aos que se emaranharam em labirintos de tédio.
Convida-nos Emmanuel para que trabalhemos por esses loucos de sofrimento, estendendo-lhes o socorro oportuno da Doutrina Espírita. Convida-nos ainda para o estudo das obras de Allan Kardec, sob as luzes da mensagem do Cristo.
E seja – pontifica com energia o mentor de Chico Xavier – no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita espécie permanente de caridade:
A CARIDADE DA SUA PRÓPRIA DIVULGAÇÃO.
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Nós somos a luz do mundo e não podemos esconder a gloriosa mensagem do Espiritismo, edificada sobre a montanha dos ensinamentos do Cristo.
E não podemos permitir que o Cristianismo redivivo seja colocado sob o alqueire das nossas omissões e das conveniências humanas, e sim no velador das tribunas, dos jornais, das revistas e do livro espírita.
É preciso que essas luzes continuem brilhando, mostrando as boas obras dos heróis da divulgação da Doutrina Espírita de forma que continuem glorificando o Nosso Pai que está nos Céus.
O Espiritismo será o que dele fizerem os homens.
Léon Denis