Com fé, tudo é possível? - Sidney Fernandes

  Em verdade te digo que, de maneira nenhuma, sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil.

Mateus, 9:23

Se eu realmente tiver fé todos os meus problemas se resolverão? Diz-nos a razão que, mesmo que tenhamos fé inabalável, ainda assim, nem tudo poderá ser alcançado, enquanto não consertarmos as besteiras que cometemos, isto é, antes de repararmos os males que praticamos.

Precisamos aprender que nem com toda a fé do mundo conseguiremos eliminar todos os obstáculos da vida, simplesmente porque muitos deles ainda não podem ser removidos.

— Pode ser — afirma Allan Kardec em O Livro dos Médiuns — que o melhor, para o bem do doente, seja ainda sofrer (Item 176).

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Não nos desesperemos! É perfeitamente possível, com fé, combater o mal que existe em nós, não apenas com sofrimento e inquietação.

Em 1938, Nicholas Winton, filho de pais judeus, trabalhava como corretor de valores em Londres. Em 10 de março de 1939, quando Hitler ordenou a ocupação de Praga, Winton decidiu abandonar seu trabalho e dedicar todos os seus esforços no sentido de resgatar crianças judias da então Tchecoslováquia.

 Persuadiu as autoridades britânicas a receberem essas crianças no Reino Unido, mesmo sem os documentos à época exigidos. Seu plano consistia em convencer um grupo de famílias inglesas a abrigá-las, a fim de salvá-las da perseguição nazista. Graças à coragem e determinação de Nicholas, suas ações permitiram que 669 crianças sobrevivessem ao holocausto.

 Nicholas Winton: um homem de fé. Não a fé da aceitação passiva, sem murmúrios e queixas, mas a da aceitação ativa, de quem se mobiliza na dedicação ao bem.

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Dirá talvez, o caro leitor, que estou descrevendo um Deus implacável e insensível, cuja justiça distributiva que preside a punição dos culpados não se deixa seduzir pelo arrependimento e pela submissão. Não é bem assim!

Calma, caro amigo. A confiança e a ligação com Deus são fundamentais. É preciso, no entanto, bem definir fé, diante da revelação espírita:

A fé, sob a luz da razão, representa a convicção de que existe um plano maior que tudo dirige e que nos proporciona exatamente aquilo de que necessitamos, ainda que sob o ponto de vista humano isso não represente algo muito agradável.

A pretensão que não podemos alimentar é a de que, por murmurarmos algumas palavras ou nos submetermos a algumas privações voluntárias, estaremos quites com a lei e nos eximiremos de nossas responsabilidades.

O reconhecimento da culpa e a consciência de que as punições guardam correspondência com os nossos merecimentos são pontos fundamentais de partida para as eficazes atitudes que vão minimizar e até, eventualmente, comutar as nossas penas.

Deus é infinitamente justo, mas também é infinitamente bom.

Se na Terra tendemos a querer escapar da infelicidade a qualquer preço, da espiritualidade vêm notícias, a todo momento, de Espíritos que não conseguiram mercantilizar com a divindade e nos recomendam as providências que efetivamente nos trarão paz e alívio para as nossas dores.

A fé que nos impulsiona para a oração, que proporciona o alívio e a esperança, deverá ser a mesma que nos impulsionará à resignação e à reparação de nossos males. É a mesma que nos fará trocar a moeda da dor pela do amor, do trabalho e da transformação interior, fórmula infalível à nossa autêntica redenção perante Deus.

Se a dor se origina nos males que devemos purgar, nada mais lógico que a nossa reforma interior limpe esses males. Daí, não haverá mais necessidade de sofrimento, porque o amor tomou o seu lugar.