Vou lhe apresentar, caro leitor, três situações bem semelhantes. Naturalmente, você tenderá a se posicionar como censor e escolherá uma delas como aquela que seria a sua, na vida real. As três ocorrências são verídicas e isto é uma espécie de teste. O que faria você?
1 – Um veículo avança um sinal de “pare”, coloca-se na frente do seu carro e quase provoca um acidente. Instintivamente você aciona a buzina. O transgressor ofende-se, faz gestos obscenos em direção ao seu carro, convidando-o a um entrevero pessoal. Você se surpreende com a atitude agressiva do outro motorista, contorna-o cuidadosamente e, sem mesmo olhar para ele, segue o seu caminho.
2 – Uma motocicleta corta a sua frente. Para evitar abalroá-la, você aciona o freio do seu carro. Assustado, o motociclista diminui a velocidade, mas em seguida profere palavrões. Indignado, você acelera, vai atrás do mal-educado, emparelha com ele e profere várias palavras que homenageiam sua genitora.
3 – Você dá sinal que vai entrar à direita e freia seu automóvel. O motorista do carro que vem atrás se assusta e o repreende, com alta buzinada. Mesmo coberto de razão, você levanta o braço num gesto de pedido de desculpas.
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O que faríamos, em idênticas situações?
A primeira tendência nossa será a do julgamento e a imposição de determinado comportamento, no mínimo compatível com a educação, com a moral ou com princípios de cidadania.
Consideremos, entretanto, que dentro do imperativo da perfeição, Deus respeita o nosso livre-arbítrio e não nos impõe qualquer obrigação ou dever. Poderíamos nos arvorar em julgadores e dar lições de procedimento?
Dale Carnegie, conferencista e escritor, escreveu em um de seus livros que você nunca pode vencer uma discussão. É melhor fugir dela, pois, se perdê-la, perdeu mesmo, e, se ganhar, também perdeu, pois poderá humilhar seu opositor e, saiba, um homem convencido contra a vontade sempre conservará sua opinião anterior.
Carnegie narra que, quando jovem, estava em um banquete, ao lado de um especialista em Shakespeare. Em dado momento, o homem proferiu uma frase que atribuiu à Bíblia. Dale tinha certeza de que ela estava em uma das obras do escritor e teatrólogo inglês. Quando começou a se armar para arrasar o especialista, um amigo ao lado, que percebeu o quanto Carnegie iria embaraçá-lo, deu-lhe um cutucão por baixo da mesa e o fez calar-se.
À saída, Carnegie disse ao amigo:
— Eu sei que a frase não é da Bíblia e sim de Shakespeare.
— Claro — disse o amigo —, Hamlet, ato V, cena 2. Mas, nós éramos convidados, numa ocasião festiva, meu caro, e aquele não era o momento de contestar nosso anfitrião e de humilhá-lo perante os demais convidados.
Esta foi uma lição que Dale Carnegie aprendeu para o resto da vida e repassou a todos os que assistiram aos seus cursos.
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A não ser que sejamos solicitados a opinar e isso venha a trazer algum benefício para alguém, o debate precisa ser analisado com muita prudência, pois simplesmente poderá se constituir em crítica inquisitorial, inútil para todas as partes.
É preciso entender que estamos em diferentes níveis evolutivos e que devemos compreender os comportamentos dos outros, da mesma maneira como Deus e os espíritos superiores respeitam o nosso, sem exigir perfeição nos outros e nem mesmo em nós.
Na medida do possível e da liberdade que o próximo nos conceda, poderemos e deveremos ensinar o certo, desde que sejamos solicitados. A luta maior, contudo, deverá ser travada contra nós mesmos, comportando-nos e respeitando o meio em que transitamos, tornando-nos a cada dia um pouco melhores.
Útil seria que o homem observasse no Planeta a sua imensa escola de trabalho; e todos nós, perante a grandeza universal, devemos reconhecer a nossa condição de seres humildes, necessitados de aprimoramento e iluminação.
Emmanuel
Referências: Caminho, Verdade e Vida, de Emmanuel, e Como fazer amigos e influenciar pesso