Efeito Colateral do Amor - Sidney Fernandes

EFEITO COLATERAL DO AMOR

Sidney Fernandes

O bem por interesse

Diante do sofrimento, há pessoas que fazem o bem buscando cura. Como alguém lhes disse que a assistência ao pobre, a contribuição à casa religiosa ou o trabalho voluntário pode lhes trazer alívio, assumem atitude altruística, visando benefícios, por interesse. Se não dão continuidade a esses gestos de benevolência, a tendência é que ocorram recidivas ou surjam outras doenças.

O bem por dever

Muitas tomam gosto e, mesmo depois de curadas, tornam-se criaturas abnegadas, que sentem que é seu dever amenizar as dores do próximo. Encontramos um grande número de voluntários em casas religiosas, clubes de serviço e outras organizações que, desinteressadamente, tornam-se valorosos mantenedores.

O bem por amor

Com o passar do tempo, esquecem-se completamente do interesse, do dever, e atingem outro patamar. O bem torna-se algo natural, impregna-se em suas vidas, seus gestos, palavras e atos. Agem naturalmente, simplesmente pela satisfação de ver o outro feliz, saudável e equilibrado. Eu diria que começaram a trilhar os primeiros passos do autêntico amor.   

Não nos incomodemos com aqueles que agora se prestam à generosidade por interesse. No começo é assim mesmo. Mais tarde aprenderão a fazê-lo por dever e, lá na frente, por amor.

O benéfico efeito colateral

Detectei, caro leitor, não propriamente uma outra classe de caridosos, mas uma variação desta terceira, observando uma espécie de efeito colateral nos que, contínua ou esporadicamente, desprendem-se do egocentrismo humano e se tornam protagonistas de gestos inesquecíveis, ainda que de forma espontânea ou não intencional. Para melhor me fazer entender, vou lhe apresentar algumas situações absolutamente admiráveis e verídicas.

André Luiz

Noticia-nos o livro Nosso Lar que André Luiz tomou conhecimento de que muitos médicos recém-desencarnados, que não cultivaram a responsabilidade profissional aqui na Terra, não poderiam, de pronto, voltar a cooperar ativamente na área de sua especialidade, no plano espiritual. O próprio André, que não havia se preparado convenientemente para os serviços de lá, submeteu-se a tarefas mais humildes.

Em suas elucidações, no entanto, o Ministro de Auxílio não tinha apenas más notícias para André. Com profundo olhar de simpatia, disse:

— Você não pode ainda ser médico em Nosso Lar, mas poderá assumir o cargo de aprendiz, pois sua situação é confortadora, pelas intercessões chegadas em seu benefício.

André Luiz estranhou as benesses e indagou suas origens.

— Nos quinze anos de sua clínica, você proporcionou receituário gratuito a mais de seis mil necessitados. Na maioria, praticou esses atos meritórios espontaneamente, sem qualquer motivação filosófica ou religiosa. Nem por isso deixou de praticar o verdadeiro bem, que espalha bênçãos em nossos caminhos. Desses beneficiados, quinze não o esqueceram e têm enviado, até aqui, veementes apelos a seu favor. Da mesma forma, o bem que você proporcionou aos ingratos e indiferentes surge aqui a seu favor.

Emocionado, André sentiu-se radiante e chorou de alegria na Colônia Nosso Lar, pensando que, na Terra, ninguém, talvez, pudesse entender o seu júbilo.

Barsabás

Ao demandar o reino da morte, Barsabás, o tirano, depois de vagar por muito tempo em plena cegueira, descobriu que os fragmentos luminosos da Casa das Preces de Louvor representavam preces de gratidão vindas da Terra.

— Ai de mim — soluçou o desventurado —, que jamais fiz o bem.

— Realmente, os sinais que você carrega dão notícias de invigilância e crueldade. Aqui existe, todavia, em seu crédito, uma oração de louvor — disse o funcionário da angelitude, ao apontar estrela de acanhado brilho. Há trinta e dois anos você deu um pão e salvou uma criança que até hoje agradece em prece ao Senhor da Vida.

— Jonakin, o enjeitado? — perguntou o sofredor, resgatando velha lembrança.

— Siga a claridade do pão que você ofertou e se livrará definitivamente do sofrimento nas trevas.

— Barsabás acompanhou o tênue raio de luz e se viu numa humilde carpintaria da Terra. Ali encontrou um homem de quarenta anos, que abraçou como se encontrasse porto seguro.

***

Se um simples pão despretensiosamente ofertado teve o condão de mudar uma vida na espiritualidade, fico imaginando, caro leitor, os efeitos que podem produzir as atitudes sistematicamente voltadas para o bem, durante a nossa vida.

Fiquemos com Emmanuel

 

O bem que praticares em algum lugar é o teu advogado em toda parte.

Emmanuel

 

Referências: Nosso Lar, André Luiz; O Espírito da Verdade, Irmão X; Doação de órgãos, um ato de amor, Revista Seareiro; Por uma vida melhor, Richard Simonetti; Sob a luz que liberta, Sidney Fernandes; Vinha de Luz, Emmanuel.