A DOR É SEMPRE NECESSÁRIA?
- Sidney Fernandes
“Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados." Mateus 5:4.
Milene estava em Nova
Iorque na passagem do furacão Sandy.
Gozava merecidas férias de sua intensa atividade de redatora-chefe de um dos maiores e mais respeitados jornais do Estado de São Paulo.
Estava em férias, mas sem deixar adormecer seu instinto de repórter, sina que abraçou desde a juventude. Agora estava no “olho do furacão”, vendo devastação de dar dó e fazer chorar o mais insensível jornalista. A “esquina do mundo” jazia, momentaneamente, inerte, inanimada.
Milene sempre alimentara o princípio quase inamovível de que a solidariedade existe só no meio dos pobres. Enganara-se! Tinha agora a
prova cabal diante dos seus olhos.
Foi naquele trágico momento que ela conheceu um lado oculto da gente americana. Um povo que ela sempre descrevera como duro e egoísta
comportava-se com a mais abençoada demonstração de solidariedade que ela jamais vira.
Habitantes poupados pela tempestade correram para ajudar os desafortunados sem eletricidade, sem uma refeição quente ou uma cama para a noite.
Outros pegaram suas bicicletas e improvisaram carregadores de celulares através de uma estação adaptada.
Academias abriram seus vestiários e carteiros se movimentaram para fazer entregas de patins ou bicicletas.
Plataformas de emergência foram criadas na internet por dezenas de pessoas oferecendo suprimentos, alimentos e água.
Empresas ofereceram espaços para quem estava sem escritório para trabalhar. Os que cozinharam tudo que tinham em suas geladeiras
compartilharam, para que nada se perdesse.
O que despertara o lado bom daquelas pessoas? A emergência? A dor dos atentados de 11 de setembro de 2001? Ou simplesmente o
amadurecimento espiritual das criaturas, coisa de que Milene tanto duvidava?
Tentar analisar o despertamento da solidariedade no ser humano é quase tão complexo como saber o por quê da dor.
Ambas estão profundamente entranhadas e ligadas entre si. Uma depende da outra.
Por outro lado, a tendência de alguns espíritas de sempre atribuir à reencarnação a origem da dor é absurda.
Essa idéia é tão sem nexo quanto as esdrúxulas explicações de outras filosofias e religiões, que afirmam que quem sofre mais é mais agradável a Deus, ou que simplesmente atribuem ao acaso o sofrimento, a carência ou a deficiência.
SOLIDARIEDADE
Algumas pessoas, realmente, passam a fazer o bem porque já sofreram muito ou porque não querem sofrer mais, ou por ambas as situações.
Nem por isso, porém, deixam de existir pessoas que suportam o fogo constante das grandes dores morais, no sacrifício do lar ou nas lutas do povo e que obedecem aos impulsos do bem excelso, a fim que a negação do homem seja bafejada pela esperança de Deus
(Emmanuel, em Religião dos Espíritos).
Isto é, tais pessoas fazem o bem por vocação, por terem prazer no agrado do outro, desinteressadamente.
DOR
Por outro lado, nem todo sofrimento corresponde a determinada falta cometida. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito, para
concluir a sua depuração e ativar o seu progresso (Allan Kardec).
Existe, portanto, a dor que nada tem a ver com pagamento de dívidas, que é uma iniciativa do espírito para acelerar seu progresso.
Fiquemos com Gandhi:
Mantenha seus pensamentos positivos, porque seus pensamentos tornam-se suas palavras.
Mantenha suas palavras positivas, porque suas palavras tornam-se suas atitudes.
Mantenha suas atitudes positivas, porque suas atitudes tornam-se seus hábitos.
Mantenha seus hábitos positivos, porque seus hábitos tornam-se seus valores.
Mantenha seus valores positivos, porque seus valores ... tornam-se seu destino.”