“Buscai e Achareis!” Mateus 7:7-11
Sidney Fernandes
Completamente aturdida pelo recente desencarne de seu filho, Gilmara absorvia com muita dificuldade a orientação da plantonista do atendimento fraterno. Fabinho fora vítima de infecção bacteriana aguda, que o levou ao desencarne rapidamente. – Sei muito bem a dor que você está sentindo falou Silvana. Pela primeira vez, desde que entrara no centro espírita, Gilmara levantou os olhos, vermelhos e inchados de tanto chorar.
- Sabe mesmo? Como? Os espíritos lhe falaram? – Afirmou em tom de dúvida, quase sarcástico.
- Minha pequena Beatriz partiu desta vida há três anos, vitimada também por uma doença meningocócica.
Gilmara desandou a chorar pondo para fora toda sua tristeza e inconformação. Não era espírita. Estava ali por insistência dos
amigos. Precisava de um consolo, uma explicação. Por que o seu Fabinho?
- A Doutrina Espírita me explicou e me consolou. Aqui tive a confirmação de que Deus não erra, nem joga dados. Descobri que já vivemos outras vidas. E que estamos aqui para resgatar nossos débitos. Mas, acima disso, para evoluir. O tempo que nossos filhos ficam conosco é determinado por Deus e ele sabe o que faz.
- Então ensine-me, cara amiga. O que devo fazer para sobreviver a essa terrível dor de mãe?
- Minha irmã além dos passes, da água fluidificada e das orientações doutrinárias que recebi, quem me salvou foram “os amarelinhos”.
- Quem?
- Passei a trabalhar com uma equipe maravilhosa de voluntários carinhosamente chamada de “amarelinhos”, por causa do jaleco que usam.
- Não estou entendendo – objetou séria e mais equilibrada.
- Explico. Mesmo com o conhecimento espírita, vi-me num círculo depressivo sem saída. Até que Roberval, trabalhador da casa e amigo do meu marido me convidou. Desesperada de dor, aceitei o convite e me apeguei ao trabalho como um náufrago. E hoje estou aqui. Certa de que fiz o melhor.
- O que fazem os “amarelinhos”?
- São voluntários, sem distinção religiosa ou filosófica, que visitam os enfermos nos hospitais. A princípio pensei estar sem estrutura para enfrentar “a barra pesada” de consolar alguém.
Porém, até como uma homenagem à minha pequena Beatriz, passei a ser uma “amarelinha” na maternidade. Com o passar do tempo, no trabalho de ajuda e amparo às pessoas, aprendi com elas o significado da palavra resignação. Foi assim que entendi que era hora de reagir. Hoje não vivo mais sem dar o meu plantão. E sinto que minha filhinha está muito viva e feliz com o meu trabalho.
Ao final da entrevista Gilmara era outra pessoa. Naquele mesmo dia quis conhecer Roberval. E “os amarelinhos” ganhavam mais um voluntário para sua sublime tarefa.
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Com o “Buscai e Achareis” Jesus nos consola no momento da dor. Mas também nos convida a olhar para as dores alheias.
Quando nos doamos, consolamo-nos e alegramos os amados que partiram antes de nós. E o tempo, senhor da razão, incumbe-se
assim de balsamizar nossa dor.