Companhia Invisível- Sidney Fernandes 

COMPANHIA INVISÍVEL

- Sidney Fernandes 


E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno, e assenhoreando-se de todos, pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa. 
Atos, 19:16
Parecia uma maré de azar. Tudo dava errado na vida de Juquinha.
Resolveu consultar Pai Amâncio, o conselheiro mais procurado da região.
- De novo aqui, meu filho? O que foi agora?
- Devo estar com algum "encosto",
Pai Amâncio. Nada dá certo na minha vida!
- E está mesmo, meu filho. Mas, pôr a culpa das suas "artes" nos Espíritos é perda de tempo. Você vem aqui, eu "limpo" o seu Espírito, mas "ocê chama eles" de volta! Assim não tem conserto.
Pai Amâncio, um velho descendente de escravos, não obstante a simplicidade, sempre se expressava com sabedoria e objetividade.
Conhecia bem a vida de Juquinha.
Volta e meia estava envolvido em alguma confusão, como no baile que havia acontecido na fazenda.
O proprietário havia contratado Juvenal, conhecido sanfoneiro, para alegrar os colonos. A festa prometia varar a noite, com alegria e respeito de todos. Até que Juquinha resolveu tirar uma senhora casada para dançar. Pediu permissão para o marido e parecia que tudo iria correr bem.
Mas Juquinha já estava meio embalado pelo álcool e começou a passar dos limites. Não teve dúvidas! O marido enciumado cravou-lhe um
pequeno punhal nos fundilhos. Acabou o baile! Por causa do Juquinha.
Tempos mais tarde, ao voltar para casa de madrugada, sofreu uma tentativa de assalto. Reagiu e quase foi morto pelo bandido.
Assim era a vida de Juquinha, sempre perseguido pelo azar.
-x-
Irmãos mal informados, mesmo dentro da Doutrina Espírita, costumam debitar aos Espíritos o seu insucesso  profissional, a perturbação de seu lar, as noites mal dormidas, doenças de origem desconhecida e suas alterações emocionais.
Antes de mais nada, diz o bom senso que devemos procurar causas humanas para nossos insucessos. Nossa saúde está bem cuidada? Levamos a sério nossa profissão? Sou hoje melhor profissional, mais gentil e trabalhador do que no passado?
Não que Espíritos infelizes não possam perturbar nossas vidas. Eles nos influenciam muito mais do que imaginamos, afiança Kardec.
Mas, diferentemente da crença comum, não são os Espíritos que nos procuram. Nós é que os convidamos para entrar na nossa casa. E quando
alguém convida alguém, fica muito difícil expulsá-lo.
Diz Irmão Jacó, no livro Voltei, que é possível identificar o vício de cada um após breve exame de sua companhia.
Alguma coisa semelhante ao velho ditado, porém às avessas:
- Dize-me quem és e eu te direi com quem andas.
Em outras palavras, que tipo de vida escolhemos? Quais são minhas prioridades? Costumo orar? De verdade mesmo ou somente murmuro fórmulas verbais?
Companhias dependem de escolhas.
Atitudes atraem Espíritos simpáticos às afeições particulares e à semelhança de gostos, tanto para o bem, como para o mal, alerta Kardec.
Os vícios - tanto os de fora para dentro, que minam nossa saúde, nossas energias, nosso equilíbrio físico e mental - como os de dentro para fora - ódios, ressentimentos, agressividades, palavrões e maledicências - criam ambiente propício para Espíritos infelizes.
A partir daí, nossa vida pode desandar mesmo.
Saúde, vida amorosa, profissão e sono podem sofrer alterações para pior.
Acidentes e incidentes, bem como dificuldades que não estavam programadas especificamente para nosso aprendizado, podem acontecer.
Azar? Não! Ausência de vigilância, oração e persistência no bem.
Como Juquinha, neste mundo há inúmeros infelizes - em cuja classe não raramente nos incluímos -, que vagarão por esta vida, sem rumo, até o dia em que resolverem modificar o seu padrão de comportamento e passarem a controlar as suas más inclinações.
Quer espantar o encosto, o mauolhado, a doença e o azar?
Ore, trabalhe e apegue-se a Deus!
E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado.
1 João, 3:24