Cura Verdadeira -Sidney Fernandes

CURA VERDADEIRA
Sidney Fernandes


PROCURANDO EM LUGAR ERRADO
Um bêbado voltava para casa, à noite, quando perdeu sua chave e começou a procurá-la sob a luz de um poste. Um grupo de rapazes condoeu-se da sua situação e resolveu ajudá-lo. Depois de infrutífera busca, um dos moços perguntou:
— Você tem certeza de que perdeu sua chave aqui?
— Na verdade — balbuciou o embriagado — eu a perdi no outro lado da rua, mas lá está muito escuro para eu procurá-la.
Os homens vêm pesquisando, por séculos, em lugar errado, a causa de suas dores. Enveredaram por redemoinhos místicos, crendices, fantasias, lendas e estelionatos científicos.
CAMINHOS INSANOS
De épocas imemoriais até hoje, o homem procura a saúde, a cura, o prolongamento da vida e, se possível, a juventude eterna, ou ainda o retorno da morte viabilizado pelo progresso da ciência.
Nas exéquias egípcias, o corpo do nobre era preservado e sua câmara mortuária recebia as armas, roupas e alimentos prediletos, numa clara alusão ao retorno do morto da vida espiritual para a continuidade da vida física.
Segundo a mitologia greco-romana, um rio proveniente do Monte Olimpo e que passava pela Terra, vindo dos deuses, seria capaz de dar imortalidade a quem bebesse de sua água. Esse rio abasteceria a Fonte da Juventude, que supostamente teria poderes extraordinários, capazes de curar qualquer doença e promover a saúde, para sempre.
Da mesma forma que várias viagens de exploração foram patrocinadas por cortes reais, na Idade Média, à procura da Fonte da Juventude, muitos exploradores foram tentar desvendar também outra lenda muito popular: a do Santo Graal. Referia-se a suposto cálice utilizado por Jesus, durante a última ceia. Por ser uma relíquia, acreditava-se que ele tinha poderes mágicos. Na verdade, essa lenda surgiu de um conto publicado por um escritor francês do século XII.
Alquimistas da Idade Média embarcaram nessa mesma linha fantasiosa à procura da pedra filosofal. Com ela o alquimista poderia transmutar qualquer metal inferior em ouro.
Filosoficamente, ela seria considerada um símbolo para a elevação da consciência. Não seria, entretanto, uma pedra física, mas uma
substância que cientistas tentavam reproduzir em laboratório, com o objetivo de criar o elixir da longa vida, capaz de prolongar a vida
indefinidamente.
Busca por pedras filosofais são, em certo sentido, semelhantes à busca pelo Santo Graal das lendas arturianas. No seu romance Parsifal, Wolfram von Eschenbach associa o Santo Graal não a um cálice, mas a uma pedra que teria sido enviada por seres celestiais e teria poderes inimagináveis.
Saltando para os tempos atuais, temos a criogenia.
Milionários que querem viver para sempre acreditam que, com o congelamento de seus cadáveres, ou pelo menos de seu cérebro, poderão voltar à vida física, quando a ciência conseguir curar os males que os levaram à morte.
QUANDO A RAZÃO PREVALECE
Ao invés de procurar no misticismo, nas crendices, fantasias, lendas e estelionatos científicos, que supostamente trariam soluções de fora para dentro, chegou o momento de o homem render-se à sabedoria milenar e achar dentro de si mesmo a resposta para suas indagações.
Alguns séculos antes da vinda de Jesus, Sócrates, um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga, já se pronunciava, como foi registrado por dois de seus alunos, Platão e Xenofonte, da seguinte forma:
— Se alguém te procurar em busca de saúde, pergunta-lhe primeiro se está disposto a evitar as causas da doença; em caso contrário, abstém-te de o ajudar.
Como vemos, o sábio grego já demonstrava conhecer a origem das enfermidades, ao referir-se às causas da doença, questão que o Cristo trataria mais tarde da seguinte maneira:
— Veja que já estás curado; não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior.
Naturalmente, a doença originara-se de algum pecado cometido anteriormente pela pessoa curada pelo Mestre.
Pouco depois da morte de Jesus — ainda no primeiro século — nascia o poeta e retórico romano Décimo Júnio Juvenal. Dele surgiu o gênero satírico romano, incluindo as Sátiras, que nos interessam para o assunto saúde, com a expressão latina que se tornou um mantra universal: Mens sana in corpore sano.
Alguns interpretam-na com a ideia de que, com um corpo saudável, qualquer cabeça terá progresso intelectual. A tradução minimalista mente sã, corpo são, no entanto, é de aceitação predominante, concluindo que a real intenção do poeta Juvenal era afirmar que a mente boa invariavelmente traz junto a boa forma. Metaforicamente, essa síntese nos leva a conceitos mais recentes do Espiritismo.
SAÚDE DEFINITIVA
Ensina-nos a Doutrina Espírita que o espírito é envolvido por uma substância vaporosa que se pode chamar de perispírito. Com ele, pode elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde queira.
Tem várias propriedades, destacando-se a de assumir a forma de acordo com a elevação e a vontade do espírito.
É chamado de corpo espiritual ou perispiritual, ou, usando a linguagem de Paulo de Tarso, de corpo incorruptível. Embora a individualidade, o conhecimento e a moral estejam efetivamente no espírito, podemos afirmar que o perispírito registra e guarda suas lembranças e características boas ou más, tanto da vida espiritual quanto do período de imersão na vida física. 
Segundo André Luiz, gestos infelizes comprometem as células do veículo perispirítico com imagens destrutivas, que se manifestarão em circunstâncias reflexas no novo corpo carnal que o espírito venha a utilizar.
Quando nos transviamos na crueldade para com os outros, nossos pensamentos passam a agir e a reagir sobre si mesmos, em circuito fechado, causando-nos sensações e consequências desagradáveis.
Sendo o perispírito a “fôrma” da forma física, os comprometimentos passados vão se corporificar na forma de  deficiências e doenças inatas. Quando há esforços de autorreajustamento na vida espiritual, essas recapitulações poderão se manifestar mais tarde, durante a maturidade física.
No entanto, prevalecendo a ponderação, a meditação, a serenidade e a doçura, ou seja, com o amadurecimento do espírito encarnado, a consagração à fé e à espiritualidade poderão abreviar ou até eliminar os sofrimentos físicos dos endividados.
Como vemos, preponderam os princípios de causa e efeito, em toda a força de sua manifestação. Todavia, jamais criatura alguma ficará distante da misericórdia divina, capaz de minimizar dores e proporcionar dilações moratórias, de acordo com a preciosa lembrança da primeira epístola de Pedro:
— Antes de tudo, exercei profundo amor fraternal uns para com os outros, porquanto o amor cobre uma multidão de pecados.
NOVA VISÃO DA CIÊNCIA
Embora a maioria de nós ainda carregue, para o justo resgate reequilibrante, a pressão de reminiscências perturbadoras, com raízes nos débitos contraídos no passado, com nossas boas atitudes e conquista de simpatias providenciais poderemos ter dificuldades
e provas atenuadas.
Essa necessidade de nos situarmos em ideais mais nobres e propósitos mais puros, realidade consolidada pela Doutrina Espírita, acaba de ser anunciada pela ciência médica como sendo capaz de produzir energias curadoras para males das mais diversas etiologias.
As conclusões de congressos realizados em Fortaleza e Porto Alegre levaram a Sociedade Brasileira de Cardiologia a incluir a espiritualidade como orientação para prevenir doenças.
Eis alguns temas discutidos pelos médicos: espiritualidade e medicina, paciente religioso/espiritualizado, espiritualidade como ferramenta de prevenção e benefícios da espiritualidade em pacientes terminais e outros desdobramentos.
Segundo pesquisas científicas, sentimentos como gratidão e resiliência, e práticas como meditação e relaxamento, melhoram a saúde e diminuem o tempo de internação dos pacientes.
A orientação do órgão diretivo é de que os médicos devem abordar a espiritualidade dentro dos consultórios. A ideia é respaldada por mais de cem estudos científicos que comprovam benefícios da vida espiritual para a saúde do coração e outros órgãos.
O QUE DIZEM OS MÉDICOS?
— As pessoas que cultivam esses bons sentimentos têm, de alguma maneira, uma proteção corporal, uma ativação do sistema imunológico, que as defendem de uma série de agressões. Existem já comprovações de que elas diminuem os processos de inflamação.
Mario Borba, da Sociedade Brasileira de Cardiologia
— Perdão, altruísmo, compreensão, gratidão, ressentimento, mágoa.... Isso previne ou aumenta o nosso adoecimento.
Álvaro Avezum, cardiologista
HÁ CASOS DE CURAS E MELHORAS QUE CORROBORAM AS NOVAS DESCOBERTAS DA CIÊNCIA?
As pessoas estão cada vez mais conscientes de que precisam se libertar de atitudes negativas que somente lhe fazem mal e provocam doenças. Vejamos alguns, de muitos casos, que comprovam essas novas descobertas.
1º caso
No começo do ano a aposentada Egle Benevenutti descobriu um problema no coração. Ela reencontrou o equilíbrio ao se dedicar a própria espiritualidade, quando se apoiou na Doutrina Espírita.
Eis aqui o seu depoimento:
— Quantas pesquisas e coisas que já se faz com pacientes que estão hospitalizados e recebem orações e se saem muito melhores em seus tratamentos do que os que não recebem orações.... Eu acho que a espiritualidade tem que se associar à ciência, porque cada vez mais está acontecendo isso.
2º caso
Helma Gonçalves do Nascimento Martins acordou se sentindo estranha naquela sexta-feira. Os sintomas do novo coronavírus vieram com força. Com o marido e a filha caçula em casa, ela se isolou no quarto da criança. E aí teve início o pior dos sintomas: o pânico. O tratamento com remédios foi encerrado e Helma começou a ser atendida pela tia do marido, uma terapeuta holística. Ela lhe aplicava massagens e passes de reiki. Evangélica, ela acredita que a espiritualidade a ajudou na recuperação.
— Aquilo fortaleceu o meu espírito — disse Helma. Comecei a me sentir bem melhor e um mês depois já voltei a trabalhar o dia todo. Você quer lutar, quer sobreviver e vem uma força, que você não sabe bem de onde, e a ajuda a buscar a luz em meio ao pânico, a superar os sentimentos ruins. A falta de perdão e de fé me abalaram demais.
3º caso
Divaldo Franco
— O Espiritismo não veio para solucionar problemas orgânicos. Veio para curar a alma para evitar os problemas orgânicos. Eu sou o exemplo: tive parada cardíaca, morte cardíaca, fiquei praticamente inutilizado, tive angina por mais de cinco anos e, graças aos medicamentos, em particular aos vasos dilatadores, estou aqui mais saudável do que quando contava quarenta anos.
— Muito curioso, que meu cardiologista me deu entre 28 e 32 dias de vida. Levantei-me, fui para a sessão mediúnica e seis meses depois fui ao velório do meu médico e fiz uma linda prece.
—E aqui estou absolutamente curado. Toda a área necrosada do enfarte desapareceu. Com a terapêutica mental, a terapêutica convencional e a terapêutica espírita. Aí sim, água fluidificada, passes, intercâmbio mediúnico e uma vida saudável, no meu limite, do ponto de vista ético moral.
— Saúde — diz Divaldo a respeito da Organização Mundial da Saúde — não é a falta de doença. É o resultado de vários fatores: equilíbrio emocional, harmonia orgânica, social, econômica e espiritual. Introduziram o equilíbrio espiritual.
CIÊNCIA ESTÁ RECOMENDANDO RELIGIÃO?
Sociedades médicas e grandes instituições de ensino dos  países mais adiantados na área científica têm investigado o quanto a espiritualidade — não necessariamente religiosidade — auxilia na cura de doenças físicas e psíquicas, que podem ser agravadas a partir de sentimentos destrutivos.
Centros de pesquisa estão chegando à conclusão de que há evidências que indicam que expressões de espiritualidade têm impacto significativo em favor da saúde e do bem-estar, reduzindo mortalidade, depressão, suicídio, drogas, internações e medicamentos.
Ressaltam as instituições que não estão falando necessariamente de religião, pois uma pessoa religiosa pode ser espiritualizada, mas pode chegar à espiritualização independentemente de professar denominação religiosa. A busca do propósito de vida, a fé no transcendental, relações de amizade, familiares e sociais podem representar o equilíbrio espiritual, capaz de prevenir ou até curar doenças.
A espiritualidade vai muito além da religião e envolve nosso estado mental e emocional.
A TERAPÊUTICA ESPÍRITA
Queremos ter melhor qualidade de vida? Desejamos estar preparados para enfrentar as situações de infelicidade? Queremos entender melhor as doenças e, eventualmente, até a própria morte e a de entes queridos?
— A cura jamais chegará sem o reajustamento íntimo necessário — diz Emmanuel.
Naturalmente, ou forçado pela dor, o homem tomará consciência de que somente o conhecimento científico não será suficiente para lhe trazer equilíbrio e competência a fim de enfrentar os mistérios da vida e além da vida.
Enquanto não se dedicar à renovação mental dos padrões do bem, concluir pela necessidade do estudo para a assimilação do conhecimento superior e pelo serviço ao próximo, com o esquecimento de suas próprias mazelas, o ser humano permanecerá patinando na limitada ciência humana, com dificuldades para transitar pelos caminhos evolutivos da vida.
Impulsionados por conceitos de civilizações milenares e filosofias contemporâneas, inclusive o Espiritismo, pesquisadores começaram a estabelecer relações de correspondência entre a conduta humana e a felicidade.
Referências: BBC NEWS - Cientistas investigam como espiritualidade pode ajudar a saúde do corpo; Ação e Reação, André Luiz.