Curas inexplicáveis -Sidney Fernandes 

CURAS INEXPLICÁVEIS

-Sidney Fernandes 


Cido Lopes estava desnorteado. Recém-chegado a Bebedouro, viera do sítio para trabalhar na ferrovia. Ainda não fizera muitos amigos e agora estava com um dos filhos doente.
Os chás, simpatias e benzimentos com que ele e a esposa costumavam cuidar das crianças não haviam funcionado. O menino estava com febre, com o peito cheio e não parava de tossir. Diante do perigo de uma pneumonia, recorrera ao posto de saúde indicado pelo chefe da estação.
Aplicaram todos os medicamentos, mas a criança continuava doente. Estava caidinha de tanto tossir. Foi quando um colega de ferrovia falou do Seu Ambrósio.
Ambrósio era procurado por ricos e pobres, principalmente pelos doentes que a medicina tradicional não conseguia curar. Por esse motivo, não era bem visto pela classe médica. Ambrósio era um concorrente desleal, pois nada cobrava.
Cido Lopes chegou logo cedo à casa do curador e enfrentou pequena fila, que se alongava até a calçada da via pública. Assim que chegou, um voluntário que organizava a entrada dos doentes veio diretamente em sua direção e da esposa, que estava com a criança no colo.
— Esse menino se chama Cidinho? – indagou o organizador.
— Sim, sim, mas como você sabe o nome dele? – perguntou Cido Lopes, espantado.
Sem responder à pergunta, o voluntário encaminhou o casal imediatamente para o atendimento, informando:
— Seu Ambrósio disse que o caso do seu filho é muito grave. Precisa começar o trabalho imediatamente.
Ainda aturdidos pela inesperada notícia, Cido Lopes e a esposa obedeceram e entraram na sala de uma modesta casa.
Apesar da simplicidade, a higiene e a organização eram irrepreensíveis.
— Então esse é o Cidinho? – trovejou um homem de tez negra, com quase dois metros de altura. Embora seu aspecto físico infundisse surpresa, aquela criatura transpirava pureza de sentimentos e um sincero desejo de fazer o bem. Os pais de Cidinho imediatamente souberam que estavam em boas mãos.
— Os médicos da espiritualidade já estavam esperando por ele — disse Ambrósio e, sem mais palavras, tomou nos braços a criança, cujo peito arfava de fazer dó, e simplesmente nela fixou o seu olhar. Fechou os olhos e orou: — Senhor Deus! Tenha dó desta criança que sofre muito. Faça sua vontade, Senhor!
Imediatamente Cidinho, que até então estava prostrado pelos longos dias de febre e dor, começou a tossir convulsivamente.
Uma auxiliar, já preparada para a operação, estendeu uma toalha muito límpida, que amparou grossas secreções que saíam aos borbotões do peito do menino. O processo foi muito rápido, como se uma corrente elétrica tivesse se estabelecido entre o curador e o doente.
Cidinho começou a chorar como há muitos dias não acontecia, por absoluta falta de forças e pelo congestionamento de seus brônquios.
A um novo sinal, outro auxiliar trouxe um copo com água.
Ambrósio estendeu a mão direita sobre o líquido, que, inexplicavelmente, começou a borbulhar, como se algum medicamento ali houvesse sido colocado.
— Graças a Deus a criança vai se salvar! – falou Seu Ambrósio com humildade. — Os médicos espirituais cuidaram dela. Ainda por uma semana Cidinho deverá tomar uma colher desta água a cada seis horas. E dirigindo-se a Cido Lopes falou:
— Meu amigo. Chegando em sua casa,reúna sua família e agradeça a Deus por sua misericórdia.
O casal chorava emocionado. Depois de tantos dias de sofrimento e vigília, Cidinho dormia serenamente, como há muito
tempo não acontecia.
-x-
Certas pessoas, verdadeiramente, têm o dom de curar pelo simples toque?
— A força magnética pode ir até aí quando secundada pela pureza de sentimentos e um ardente desejo de fazer o bem, porque então os bons Espíritos ajudam.
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Questão 556
-x-
São extremamente variados os efeitos da ação fluídica sobre os doentes, de acordo com as circunstâncias.
Algumas vezes é lenta e reclama tratamento prolongado, como no magnetismo ordinário; doutras vezes é rápida, como uma corrente elétrica.
Há pessoas dotadas de tal poder, que operam curas instantâneas nalguns doentes, por meio apenas da imposição das mãos, ou, até, exclusivamente por ato da vontade.
Allan Kardec, A Gênese – Cap. XIV – Os fluidos – Curas
-x4
A intervenção de uma potência oculta, que é o que constitui a mediunidade, se faz manifesta, em certas circunstâncias, sobretudo se considerarmos que a maioria das pessoas que podem, com razão, ser qualificadas de médiuns curadores recorre à prece, que é uma verdadeira evocação.
Allan Kardec, O Livro dos Médiuns – Item 175
-x-
Nem todas as pessoas podem ser curadas. Pode acontecer, informa Kardec, que o bem do doente esteja em sofrer por mais tempo. Nesse caso julgamos que as nossas preces não foram ouvidas.
No entanto, quando um médium dotado de grande magnetismo e bons sentimentos é secundado por Espíritos do bem e encontra um paciente com méritos junto de Deus, podem ocorrer curas que a ciência oficial não saberia explicar.
Há pessoas adredemente preparadas pela espiritualidade com o dom de curar pelo simples contato. São médiuns que, além de forças magnéticas, têm grande influência de bons Espíritos.
Doentes que pautam suas vidas no bem, consoante as leis divinas, são beneficiários dessa medicina da espiritualidade.
No trato das coisas do espírito é natural que sempre falemos em merecimento, de acordo com a lei de causa e efeito. É forçoso lembrar, no entanto, que a misericórdia de Deus jamais falha.
Porque aquele que pede recebe. O que busca encontra. E, ao que bate se abre (Mateus, 7:8).
Assim, ainda que não sejamos merecedores da cura definitiva, jamais nos será negado o alívio de nossas dores, se tivermos fé e humildade.
Confiemos sempre na providência divina!