E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Mateus 5:47 -Sidney Fernandes 

“E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? ” Mateus 5:47

-Sidney Fernandes 


Romeu era conhecido como “o baixinho do terceiro andar”. A cruel referência à sua baixa estatura havia se generalizado. Nélio, um contínuo sagaz e esperto, era especialista nessas maldades. Sempre encontrava um apelido que se encaixava perfeitamente ao tipo físico ou à
personalidade da “vítima”. Romeu, que do perfil shakespeariano nada tinha, era tímido e introvertido. Ingredientes perfeitos à perseguição e à gozação. Um verdadeiro bullying no local de trabalho.
Particularmente, nunca fui de apoiar esse tipo de brincadeira. Romeu, diante do consolidado apelido de “baixinho”, assumira um prudente distanciamento da maioria dos colegas.
De longe, aparentava ser antipático e pouco social.
Com o tempo descobri que se tratava de correto profissional, religioso, que levava a sério suas obrigações evangélicas. Eu era um dos poucos que se aproximava de Romeu.
Dessa forma Romeu vivia, trabalhava e deixava viver. Tempos mais tarde soube que ele havia solicitado transferência para o Centro de Processamento de Dados. Provavelmente para se ver livre das inconveniências de Nélio e seus asseclas ou para que não sucedesse coisa pior.
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Anos mais tarde, por volta de 1987, meu chefe me chamou. Pela sua cara, não tinha boas notícias. Sério, preocupado, informou-me que o serviço médico da Beneficência Portuguesa me chamava. Nada quis me adiantar. Simplesmente me liberou do trabalho para ir conversar com
o médico patologista. Amigo da família de longa data, Dr. Ulisses não conseguiu disfarçar o nervosismo. Quando vi outro amigo – Richard Simonetti – ao seu lado, tentei brincar com os dois: “- Se precisam de uma comissão para me dar a notícia, é por que aí vem chumbo grosso?”
Para o meu desespero, nenhum dos dois riu da “piada”. A coisa era séria mesmo. Minha esposa estava com câncer.
Dizer que ela mais me consolou e enfrentou com mais coragem do que eu o desafio, seria talvez até ocioso. Sua tenacidade e energia encantaram médicos, parentes e amigos. Aliás, como costumava fazer com todas as doenças e problemas que surgiam em sua vida.
À par da insegurança, do medo e da dor, surgia um outro problema muito sério: o financeiro.
Consegui licença do meu trabalho para cuidar dela. E para correr atrás do dinheiro necessário ao caro tratamento.
Com a alma na mão, fragilizado pelo acúmulo dos problemas e pelas dores da esposa, dirigime ao setor social da minha empresa.  
Foi quando Romeu reapareceu em minha vida.
Sabendo da doença e das filhas que agora eu tinha para cuidar, Romeu abraçou-me fraternalmente e me deixou chorar longamente em seu ombro.
Pacientemente, mostrou-me toda a assistência que minha empresa oferecia, em situações como aquela. Atendeu-me, confortou-me, com carinho e compreensão.
O “baixinho do terceiro andar” tornou-se para mim um verdadeiro gigante.
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Anos mais tarde, após a cura, procurei Romeu para agradecer e pedir perdão pelas antigas gozações dos colegas de trabalho. Embora eu jamais compactuasse com semelhantes atitudes, Romeu teria tido todo o direito de guardar mágoas dos velhos colegas.
Mas, não o fez. Até hoje eu admiro essa criatura que esqueceu o mal e fez o bem, na hora certa.
“ – Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós...” Mateus 7:12