Eu sou Você, amanhã -Sidney Fernandes

EU SOU VOCÊ, AMANHÃ
Sidney Fernandes


— Irmão, cuidado! — disse-me um espírito, numa reunião mediúnica. Mude de comportamento, eu sou você, amanhã. Já ouvi muitas recomendações de espíritos desencarnados, mas nunca havia escutado algo tão específico e pessoal.
Mas, não é exatamente esse o objetivo dos espíritos que se comunicam nas reuniões mediúnicas, arrependidos de seu passado, o de nos alertar, quando veem que estamos incidindo em seus mesmos erros?
— Tome cuidado ao encontrar pessoa em posição inferior à sua. — continuou o espírito. Repelindo um pobre, um humilde ou um fracassado, talvez esteja desprezando alguém momentaneamente em provação, que poderá, no futuro, aqui no plano espiritual, ser a sua única esperança de auxílio.
Refleti naquela comunicação e cheguei à conclusão de que em muitas ocasiões comportamo-nos de maneira inadequada.
Atentemos para este pequeno episódio:
Uma senhora muito elegante vai às compras numa feira livre e para numa banca de frutas. Resolve pechinchar para obter alguma vantagem sobre humilde vendedora. Sai dali vitoriosa por ter conseguido seu objetivo. A mesma senhora dirige-se a um restaurante de luxo. Lá pede um prato caro e deixa uma polpuda gorjeta.
Esta pequena história, infelizmente, se repete constantemente na vida das pessoas. Diante de necessitados e humildes, costumamos mostrar nosso poder. Diante de poderosos e superiores, mostramos a nossa subserviência e generosidade.
A esse respeito, seria bom lembrar expressão de Paulo, na primeira epístola aos Coríntios, quando diz:
— Fiz-me fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos para, por todos os meios, chegar a salvar alguns.
Meu pai costumava comprar bens de que não necessitava, às vezes até por preços superiores aos que realmente valiam, apenas para
auxiliar humildes vendedores. Perguntei certa vez a ele por que fazia aquilo e ele me respondeu:
— Filho! Quando somos generosos com pessoas que nos servem, estamos praticando a caridade sem ofender sua dignidade.
Observando o comportamento de espíritos superiores, vemos que eles agem exatamente dessa forma, quando precisam auxiliar criaturas de baixo nível evolutivo. Vejamos este episódio ocorrido com André Luiz, registrado em seu livro Libertação.
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Gúbio, Elói e André Luiz precisaram adentrar em região inferior, dominada por Gregório, a pedido de sua mãe. A vestimenta espiritual que portavam, no entanto, não lhes permitiria qualquer relacionamento com as inteligências atrasadas que ali se encontravam.
Para serem vistos e ouvidos por aquelas entidades, como se fossem simples desencarnados, tiveram que renunciar, momentaneamente, aos seus trajes luminosos. Começaram a inalar, com muito pesar e opressão, as substâncias espessas que pairavam ao derredor.
Ao cabo de pouco tempo, os três missionários passaram por dolorosa metamorfose que os desfigurou enormemente e os deixou pesados, como se portassem grossa armadura ou tivessem se revestido, novamente, de corpo de carne.
Como vemos, amigo leitor, para fazer o bem e cumprir sua missão, espíritos elevados renunciam à sua posição superior e se igualam aos necessitados que assistem, puramente por amor e resignação.
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Essa corajosa atitude me fez lembrar de frase dita por querido irmão, José Antônio Garcia de Carvalho, que desencarnou, há alguns
anos, nas proximidades da cidade de Votuporanga, exatamente porque parou no acostamento de uma estrada para socorrer vítimas
de um acidente. Assim ele dizia:
— Gosto muito das águias que dominam as alturas. Gosto muito mais, porém, dos cisnes, que descem até o lodo, sem macular suas asas.
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Fiquemos com Emmanuel, em Fonte Viva:
Descer para ajudar é a arte divina de quantos alcançaram conscienciosamente a vida mais alta. A luz ofuscante produz a cegueira. Se as estrelas da sabedoria e do amor te povoam o coração, não humilhes quem passa sob o nevoeiro da ignorância e da maldade.
Não te faças demasiado superior diante dos inferiores ou excessivamente forte perante os fracos.
Há méritos celestiais naquele que desce ao pântano sem contaminar-se, na tarefa de salvação e reajustamento.
Que seria de nós se Jesus não houvesse apagado a própria claridade fazendo-se à semelhança de nossa fraqueza, para que lhe
testemunhássemos a missão redentora? Aprendamos com ele a descer, auxiliando sem prejuízo de nós mesmos.
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Atentemos, amigo leitor, às recomendações dos irmãos que voltam à Terra com preciosos alertas. Afinal de contas, já passaram
por tudo o que estamos passando e agora, com razão, advertem:
— Cuidado com a sua vida atual. Eu sou você, amanhã!