Explorando os Espíritos -Sidney Fernandes

EXPLORANDO OS ESPÍRITOS

-Sidney Fernandes


Como tudo pode tornar-se objeto de exploração, não há nada de surpreendente em se querer explorar os Espíritos;
resta saber como eles receberiam isso, caso se tentasse fazê-lo.
O Livro dos Médiuns, Item 304, Allan Kardec

Alerta-nos Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, que os bons Espíritos se afastam de qualquer pessoa que pretenda fazer da mediunidade um degrau para alcançar o que quer que seja que não atenda aos desígnios divinos.
Diz ainda que Espíritos inferiores gostam de enganar, mas não de serem enganados. Têm vontade própria e agem como melhor lhes apraz.
Visando apenas seus interesses materiais, há pessoas que não vacilam em manipular encarnados e tentar enganar desencarnados.
Do conto Doralice, de autoria de Marcelo Vitorino, que, por sua vez, se inspirou em clássico da bossa nova composto por Dorival Caymmi e
Antônio Almeida, adaptamos o seguinte relato.
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Doralice queria porque queria conquistar João Pedro. Mas, como faria para separá-lo de Regina, uma beleza de fechar o comércio?
Apelou para um Espírito que se comunicava em um terreiro que ficava na divisa de São Paulo com Diadema. 
Contou uma história irreal e dramática, convencendo-o a ajudá-la.
A verdade é que, ou pela insistência de Doralice, ou pela ajuda do trabalho, a vida de Regina virou um inferno, até que o rapaz dela se separou. Em dois meses estava casado com Doralice.
Agora as coisas haviam entornado.
João Pedro caíra em si e queria a separação. Voltaria para pegar suas coisas quando voltasse de viagem.
O tempo estava correndo e Doralice precisava fazer alguma coisa.
Procurou o terreiro novamente.
Pegou um chá de espera de quatro horas. Quando finalmente foi atendida, percebeu que o Espírito a tratava com certa frieza.
Mesmo assim, contou sua história, desta vez a verdade.
Mas o Espírito bem se lembrava dela. Depois que a ajudou na primeira vez, sentiu-se explorado e disse para si mesmo:
— Deixe estar. Dor de barriga não dói uma vez só. O seu está guardado.
Começou Doralice: – Lembra-se do João Pedro? Então... Ele quer a separação. Estou desesperada! Não sei o que fazer. Diga algo, por favor! Não quero perdê-lo.
— Min zi fia, o caso tá muito complicado. – falou o Espírito. Parou um pouco, tragou o charuto que estava em sua mão e continuou. — Me deixe ter aqui com os meus para ver o que fazer.
Após jogar alguns búzios, o Espírito deu a sua resposta:
— Faça o seguinte: diga ao moço que está grávida.
A ideia era genial. Sabendo da gravidez, João Pedro teria que ficar por perto e acabaria ficando para sempre.
Doralice foi para casa e preparou um jantar para esperá-lo.
— Mulher, que mesa linda! O que você aprontou aqui?
— O que nós aprontamos, diria você melhor.
— Como assim? – objetou João Pedro.
— Estou grávida.
— Que bom! E sem mais, nem menos, tratou de devorar o jantar e a beber a champanhe francesa que estavam maravilhosamente expostos à
mesa.
Ao final da lauta refeição, João Pedro disse:
— Muito obrigado. Tudo estava muito bom. Agora cada um segue sua vida, certo?
— Como assim João Pedro, ficou louco?
Com um indecifrável porém maroto sorriso ele disse, simplesmente:
— Sou estéril!
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Será que o Espírito sabia de tudo?
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Não nos esqueçamos de que os Espíritos, seja qual for sua superioridade ou sua inferioridade, são as almas dos mortos e, quando a moral e a religião prescrevem como um dever respeitar os seus restos mortais, a obrigação de respeitar o Espírito é ainda maior.
O Livro dos Médiuns, Item 310, Allan Kardec
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É preciso ter muito cuidado e respeito no trato com os Espíritos. Diz Kardec que Espíritos levianos não têm escrúpulos e ficam aguardando o
momento certo de nossa invigilância para se divertirem à nossa custa ou para se vingarem de nossos abusos.
Explorar ou tentar enganar Espíritos é procurar confusão, pois se a mistificação não vem do falso médium, pode ser que venha do Espírito.
O Livro dos Médiuns, Item 305, Allan Kardec