Fumaça Branca ou Rota de Colisão ? -Sidney Fernandes

FUMAÇA BRANCA OU ROTA DE COLISÃO?

-Sidney Fernandes


Em 1517, o Papa Leão X tomou conhecimento da insubordinação contra o seu Livro de Taxas (Instructio Summaria pro Subcommissariis). Subestimando o autor, exigiu que se retratasse. Julgava que a revolta partia de um simples frade agostiniano, da obscura aldeia alemã de Eisleben.
Tratava-se de Martinho Lutero, que se insurgia contra as penitências, as quais estipulavam o preço da absolvição para todos os pecados, inclusive adultérios e crimes hediondos.
Ignorava, ainda, o sumo pontífice, que por trás da repulsa pessoal de um simples frade estava a nação alemã, que aproveitava para desabafar suas tendências anti-romanas, que haviam caracterizado a política dos imperadores germânicos na Idade Média.
E o movimento de reforma religiosa espalhou-se por toda a Europa, através do luteranismo, do calvinismo e da Igreja Anglicana.
O estrago foi tanto, que de nada adiantaram os esforços do Papa Clemente XIV. Temendo um novo cisma na Igreja, que já perdera a Inglaterra e parte da Alemanha, cedeu às pressões da Espanha, Portugal e França, e dissolveu a Companhia de Jesus.
Ao extingui-la, em 1773, tinha ciência de que este ato decretaria a sua própria morte, o que veio efetivamente a acontecer, por envenenamento.
Muitos aproveitaram-se da situação de reforma e contrarreforma. Filipe II, a pretexto de defender o catolicismo, armou invencível armada com 2.000 canhões, 35.000 homens e mais de uma centena de navios e partiu para cima da Inglaterra, sem motivo que justificasse sua agressão. Julgando-se invencível e inspirado pela ambição e pelo despotismo, esquecera-se da natureza. Sua poderosa esquadra foi totalmente destruída por uma tempestade aniquiladora, que, segundo Emmanuel, em A Caminho da Luz, ocorreu de conformidade com o plano invisível.
A vaidade e a ambição também ensombraram o pensamento de Napoleão Bonaparte. Sua história está cheia de traços brilhantes e escuros, mostrando que a personalidade do general oscilou entre o bem e o mal. Embora tenham surgido, sob sua influência, belas fórmulas de direito, a pilhagem, absorção e anexação de vários povos comprometeram sua missão.
Subestimando as ideias livres e nobres que haviam impulsionado a Revolução Francesa - que se contrapunham ao luxo desenfreado e aos abusos do clero e da nobreza -, Napoleão embriagou-se com o poder e, providencialmente, teve seu epílogo na Ilha de Santa Helena.
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Desprezar forças da natureza, abusar do poder, ignorar o progresso social e descrer do imponderável sempre foram ingredientes seguros para a queda e a destruição, assegura-nos a história.
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Vivemos em outros tempos. É forçoso reconhecer a extraordinária contribuição da Igreja em vários setores da sociedade moderna. O sacrifício de seus missionários, a contribuição de seus mais eminentes literatos e sua benéfica influência junto a governos beligerantes, só para citarmos
exemplos mais dignos de nota, são atestados eloquentes do bem que a Igreja proporcionou ao mundo moderno.
Mas seus problemas não acabaram. Defronta-se agora com sérias exigências sociais que colidem com o conservadorismo de
muitos de seus líderes.
Uma nova maneira de abordar as problemáticas dos anticoncepcionais, dos homossexuais e do celibato, para falarmos apenas dos temas mais momentosos, torna-se indispensável.
Foram rejeitados pedidos de debates a respeito do celibato de clérigos católicos - em pleno clima de crise de novas vocações - e confirmado o veto à comunhão de católicos divorciados que voltam a se casar.
O avanço do Islã e dos evangélicos, as rígidas posições da Igreja em temas como aborto, eutanásia e homossexualidade, são desafios que a ortodoxia terá que enfrentar.
Praza aos céus que a Igreja entenda e aproveite a grande oportunidade que surge de conciliação, de forma que o novo papa tenha condições culturais e força política para enfrentar os grandes desafios. Só assim muitos problemas poderão ser evitados.
Ou surge a fumaça branca da paz, ou a rota de colisão será inevitável.
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Não estamos entregues à própria sorte. As preciosas informações que colhemos do livro A Caminho da Luz mostram que o plano espiritual respeita o livre arbítrio dos homens, em direção ao progresso evolutivo da humanidade.
Mas, ao mesmo tempo, numa espécie de liberdade vigiada, o plano espiritual adota vigorosas providências para sejam evitados os excessos que possam comprometer os planos de Jesus para o bem do planeta Terra.
Saibamos honrar os compromissos assumidos perante a espiritualidade, buscando ouvir a voz de nossas consciências, que nos incita a empregar todas as nossas forças na execução das providências do plano invisível.