Hitler - Sombras e Luzes -Sidney Fernandes– 

HITLER - SOMBRAS E LUZES
Sidney Fernandes– 


Uma Nova York repleta de símbolos nazistas, a bandeira americana adornada por uma suástica, a Estátua da Liberdade vestida para comparecer a um comício de Adolf Hitler, saudandoo com o braço direito erguido, em autêntico Heil Hitler...
Esse insólito e provocativo cenário compôs a série americana The Man in the High Castle, inspirada na mente imaginativa do escritor Phillip K. Dick, e mostrou o que teria ocorrido se as forças aliadas tivessem perdido a segunda grande guerra mundial.
As reações do mundo real — incluindo os países protagonistas da série, Alemanha e Japão, foram extremamente desfavoráveis à hipotética narrativa, porquanto espicaçou velhos medos e temores que jaziam adormecidos nas consciências das gerações que promoveram a grande
hecatombe, realidade não necessariamente compartilhada pelo mundo contemporâneo, da qual os atuais alemães e japoneses (sem falar nos italianos) não têm exatamente qualquer orgulho. Essa série, de certa forma, recrudesceu os momentos de maior dor, tensão e incerteza, dos anos de 1939 e 1945.
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Um dos sinais mais preocupantes para o mundo livre dessa época foi o comportamento do povo alemão. Diante dos desmandos do exército nazista, o alfaiate, o ator, o cantor, o cabeleireiro e outros profissionais civis — assim como as donas de casa — mantiveram-se em suas atividades normais, completamente alheios às mortes e incinerações de judeus, ciganos, homossexuais e dissidentes do partido nazista.
Algo muito parecido com conhecida história de um rato que, apavorado com a chegada de uma ratoeira na fazenda, saiu pedindo socorro à galinha, ao porco e à vaca. Os animais procurados mantiveram-se insensíveis ao drama vivido pelo roedor, alegando que nada tinham a ver com o assunto e uma ratoeira não lhes representava qualquer ameaça.
Enganaram-se redondamente pois, depois que a esposa do fazendeiro, ao tentar desarmar a armadilha, foi picada por uma cobra venenosa, ficou doente e morreu. Esse incidente exigiu que o marido se utilizasse da galinha, do porco e, finalmente, da vaca, para alimentação, primeiro dela, e depois dos visitantes.
Será que o povo alemão pensou da mesma forma? Que nada tinha a ver com aquele assunto tão desagradável e mórbido? Ou tiveram, suas consciências anestesiadas com alimentos, objetos de valor, obras de arte e riquezas que começaram a chegar às suas casas, provenientes dos confiscos dos bens dos judeus e das sucessivas vitórias e pilhagens do exército alemão, contra os países europeus? A população alemã foi francamente favorável a Hitler porque foi comprada com os agrados nazistas.
Acordou e se arrependeu de sua submissa cumplicidade, quando dois milhões de pessoas, incluindo civis, morreram na  derrota alemã da sangrenta batalha de Stalingrado (hoje Volgogrado) ou quando as bombas aliadas começaram a ser despejadas sobre Berlim.
Outro sinal preocupante foi a aparente proteção das sombras em torno de Adolfo Hitler. Parecia que os céus conspiravam em favor do ditador. Aconteceram seguidamente vários atentados contra o führer, que fracassaram em virtude de acasos atribuídos ao clima, à sorte ou à proteção das forças do mal, o que reforçava ainda mais a sua gloriosa missão, inspirada na suposta hegemonia da raça ariana.
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O que a Doutrina Espírita nos esclarece sobre esse aparente patrocínio das sombras? A causa nazista — calcada no preconceito, na tirania, na pretensa supremacia de raça, na ambição e na prepotência — gozava da assessoria de inteligentes entidades desencarnadas, tão cruéis quanto os encarnados que a fomentaram?
Assim como o homem de bem conta sempre com espíritos, mais ou menos elevados, que com ele simpatizam, que dedicam afeto e por ele se interessam, os que se desviam para o mau caminho têm junto de si outros que o assistem no mal. Não importa o que pensemos, os hábitos que cultivemos ou as atitudes que venhamos a assumir, sempre encontraremos espíritos que simpatizarão com o nosso caráter.
Os Espíritos maus farejam as chagas da alma, como as moscas farejam as chagas do corpo. Adolfo Hitler contava com exímios estrategistas
desencarnados, de alta envergadura intelectual, jungidos, todavia, à inferioridade moral. Esses correram para auxiliá-lo no mal, prestando-lhe autêntico apoio logístico na arquitetura de seus planejamentos, estratégias e políticas, incensando-o em suas guerras de conquista e domínio.
1 Questão 512, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
2 O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.
Quando queremos o mal, os espíritos podem nos ajudar na prática do mal. Se formos propensos à perseguição dos mais fracos, se semearmos o preconceito e deixarmos que a ganância e o interesse pelas coisas materiais tornem-se prioritárias em nossas vidas, com certeza teremos em nossa volta uma nuvem de espíritos a alimentarem os nossos pendores. 
Finalmente, pode nos acorrer, diante de prováveis más companhias espirituais, a dúvida de como poderíamos neutralizar as suas influências. Socorre-nos, mais uma vez, a sapiência dos espíritos superiores, que assistiam Allan Kardec:
Praticando o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos espíritos inferiores e aniquilareis o império que desejem ter sobre vós. 
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Fundamental, no entanto, amigo leitor, no arremate deste texto, destacarmos o perene acompanhamento da espiritualidade maior, diante de situação tão grave, que pôs em risco a vida de milhões de espíritos encarnados e a própria estabilidade do Planeta Terra.
Descreve-nos André Luiz, em seu livro Nosso Lar, a grande preocupação que tomou conta dos páramos celestes, diante da perspectiva dos fachos incendiários que iriam cercar as nações europeias.
Alarmes soaram por todas as zonas de trabalho que circundam a Terra, principalmente nos círculos mais próximos da crosta, buscando irradiar dramáticos apelos de congregação de energias, para que o equilíbrio moral do globo fosse mantido.
3 Questão nº 466, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
4 Questão nº 469, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
Negras falanges da ignorância, depois de espalharem os fachos incendiários da guerra na Ásia, cercam as nações europeias, impulsionando-as a novos crimes.
Há muitos benfeitores devotados, lutando com sacrifícios em favor da concórdia internacional, nos gabinetes políticos. Alguns governos, no entanto, se encontram excessivamente centralizados, oferecendo escassas possibilidades à colaboração de natureza espiritual.
Sem órgãos de ponderação e conselho desapaixonado, caminham esses países para uma guerra de grandes proporções.
Oh! Irmãos muito amados, dos núcleos superiores, auxiliemos a preservação da tranquilidade humana!
Contra o assédio das trevas, acendamos a luz; contra a guerra do mal, movimentemos a resistência do bem. Rios de sangue e lágrimas ameaçam os campos das comunidades europeias. Proclamemos a necessidade do trabalho construtivo, dilatemos nossa fé...
Nutriram-se várias nações de orgulho criminoso, vaidade e egoísmo feroz. Experimentam, agora, a necessidade de expelir os venenos letais.
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A par das influências das ignorâncias malignas, milhões de encarnados e desencarnados atenderam aos apelos da espiritualidade maior, em busca da reestruturação do planeta, a fim de minimizar os efeitos da hecatombe mundial, que atingiu mansos, inocentes e pacíficos. Nesses momentos mais difíceis da história da humanidade, podemos notar que esses cuidados ficaram mais efetivos.
Lembremo-nos, citando exemplificativamente apenas alguns nomes mais conhecidos, de homens que, não obstante a truculência alemã, opuseram-se aos desmandos nazistas:
— Oskar Schindler (1908-1974), industrial alemão, que salvou cerca de 1200 judeus, que passaram a trabalhar em suas fábricas, localizadas na Polônia e na República Checa;
— Karl Plagge (1897-1957), major do exército alemão, que também empregou 1240 judeus na Lituânia, salvando-os do holocausto;
— Padre Bernhard Lichtenberg (1875-1943) e o pastor protestante Hermann Maas (1877-1970), que rezavam publicamente em favor dos judeus e os ajudaram a fugir da Alemanha;
— Nicholas Winton (1909-2015) — também chamado de Schindler britânico — que organizou o resgate de 669 crianças, em sua maioria judias, na antiga Checoslováquia, antes de serem deportadas para campos de concentração nazistas.
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Alerta-nos, André Luiz, em Os Mensageiros, que debitamos toda a responsabilidade da segunda grande guerra para determinadas nações, quando, na verdade, os demais países que se envolveram no conflito também têm parcela de culpa no funesto evento, pois vinham praticando livremente massacres recíprocos.
Noticia-nos, finalmente, André Luiz, os intensos esforços das equipes desencarnadas, localizadas em postos de socorro ao longo da crosta:
— intenso sacrifício de companheiros espirituais nos trabalhos de preservação da saúde humana;
— núcleos de atividade santa suportaram pesados fardos de serviço, para que as tormentas magnéticas, invisíveis aos olhares humanos, não disseminassem em aumento das penúrias da guerra e multiplicassem epidemias sem conta;
— deslocamentos de desencarnados de superlotadas colônias europeias para as colônias americanas;
— aumento da vigilância de núcleos de planetas vizinhos à Terra — a exemplo de Alvorada Nova que fica em zonas mais altas — para que o mal engendradado em nosso planeta aqui ficasse circunscrito.
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Pudemos perceber, amigo leitor, na superficial análise aqui apresentada que, se as forças do mal se movimentaram, com muita intensidade, força, energia e determinação, também agilizaram-se as forças do bem, para que as dores fossem amenizadas.
A generosidade, o perdão, o lenitivo dos sofrimentos, o apoio ao bem e muitas outras providências, têm a força do amor de Deus.
E contra esse amor incomensurável, não há trevas que se sustentem.
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À guisa de encerramento deste texto, queremos apresentar extraordinária experiência narrada por André Luiz, quando em missão de assistência à Europa, que demonstrou como a luz da oração, do bem e da verdade puderam superar qualquer ameaça:
Há dias, em missão dessa natureza, fomos, eu e alguns companheiros, aos céus de Bristol. A nobre cidade inglesa estava sendo sobrevoada por alguns aviões pesados de bombardeio. As perspectivas de destruição eram assustadoras. No seio da noite, porém, destacava-se, à nossa visão espiritual, um farol de intensa luz. Seus raios faiscavam no firmamento, enquanto as bombas eram arremessadas ao solo. A chefia da expedição recomendou nossa descida no ponto luminoso. Com surpresa, verifiquei que estávamos numa igreja, cujo recinto devia ser quase sombrio para o olhar humano, mas altamente luminoso para nossos olhos. Notei, então, que alguns cristãos corajosos reuniam-se ali e cantavam hinos. O Ministro do Culto lera a passagem dos Atos, em que Paulo e Silas cantavam à meia-noite, na prisão, e as vozes cristalinas
elevavam-se ao Céu, em notas de fervorosa confiança. Enquanto rebentavam estilhaços lá fora, os discípulos do Evangelho cantavam, unidos, em celestial vibração de fé viva. Nosso chefe mandou que nos conservássemos de pé, diante daquelas almas heróicas, que recordavam os primeiros cristãos perseguidos, em sinal de respeito e reconhecimento. Ele também acompanhou os hinos e depois nos disse que os políticos construiriam os abrigos antiaéreos, mas que os cristãos edificariam na Terra os abrigos antitrevosos.
Texto retirado do Capítulo 18, do livro Os Mensageiros, de André Luiz.