Lágrimas que Curam - Sidney Fernandes – 

LÁGRIMAS QUE CURAM
Sidney Fernandes – 


A princípio pensei que fosse coincidência. No entanto, depois de encontrar vários casos muito parecidos, cheguei à conclusão de que se tratava de verdadeira epidemia. Estou me referindo, amigo leitor, a uma verdadeira irrupção, que está ocorrendo no mundo inteiro, de casos de ansiedade, depressão, stress, síndrome de pânico e até tentativas de suicídio, principalmente de intelectuais, pessoas de grande porte cultural, de moral e raciocínio ilibados.
Depois de pensar muito no assunto, talvez eu tenha encontrado, em frase da controvertida e prolífica escritora russa Helena Blavatsky, algumas pistas para resolver esse enigma.
A humanidade, pelo menos em sua maioria, detesta refletir, mesmo em benefício próprio. Magoa-se como se fora um insulto, ao mais humilde convite para sair por um momento das velhas e batidas veredas e, a seu critério, ingressar num novo caminho para seguir alguma outra direção.
Aparentemente, no contraponto da tendência dos que se recusam a pensar e refletir e, desta forma, sair dos velhos trilhos ortodoxos, homens de saber começam a observar, a pensar e acabam ingressando em verdadeiros becos filosóficos sem saída, e se desesperam com essa situação. Como os impasses contidos nestas perguntas, aparentemente sem respostas:
Como explicar a diversidade de condições físicas, mentais, morais, espirituais, sociais, culturais, existentes na Terra? Por que algumas crianças nascem com a mente privilegiada, nobres tendências inatas, plenas de virtudes, físico privilegiado e larga amplitude intelectual, em marcante contraste com deficientes mentais, tendências criminosas, propensão ao vício, limitações físicas e flagrante ignorância?
Por que alguns espíritos demonstram aptidões tão distantes da educação que receberam? Por que há aqueles que já nascem com privilegiados talentos artísticos ou científicos enquanto outros nascem inferiores e medíocres? Por que, não obstante o berço familiar em que nasceram, certos seres tendem à desonestidade, ao crime e à limitada nobreza de caráter? Se somos todos iguais, perante Deus, por que tanta diversidade de aptidões entre os homens?
A falta de respostas que satisfaçam a sede filosófica desses inteligentes indivíduos, por aceitarem tão somente antiquados conceitos, induze-os, como diriam meus avós, a meter-se em camisa de onze varas, a embaraçar-se em verdadeiros nós mentais, que passam a atormentá-los.
Como podem livrar-se desse imbróglio, capaz de levá-los ao desespero, às crises de pânico, à ansiedade, à depressão e, em tristes casos, até à morte? Somente existe uma maneira de fugir à tortura da mediocridade: a catarse proporcionada pelo conhecimento.
Deixe que as ardentes lágrimas humanas caiam uma a uma em teu coração e nele permaneçam sem que as enxugues, até que seja desvanecida a dor que as causou. (Helena Blavatsky)
Quando lutamos contra a intolerância, o preconceito, o materialismo, os ceticismos arrogantes da ciência e de algumas religiões, começamos a permitir que as lágrimas ardentes comecem a pingar em nossos corações, para que ocorra o sublime processo de libertação das velhas teias de aranha que não mais satisfazem as nossas incertezas existenciais.
Embora respeitemos todas as outras doutrinas, não conseguiremos substituir o Espiritismo em busca de outra certeza que nos faça feliz. Nele encontro, pelo raciocínio, a solução racional para os problemas que interessam ao meu futuro:
Ele me dá calma, firmeza, confiança, livra-me do tormento da incerteza. (Allan Kardec)
O Espiritismo traz a proposta da fé raciocinada, da encarnação como renovação espiritual, sem perder de vista os propósitos que precisamos alcançar, razão maior para a própria existência humana.
Ele renova a tese das progressivas existências e tudo então se explica.
Existem ainda pessoas que têm dificuldades para aceitar essas verdades e, com isso, acabam enveredando para os campos da descrença, da dúvida, da ansiedade e da depressão.
Todos trazemos a intuição do que já aprendemos no passado e somos mais ou menos adiantados, de acordo com o número de experiências reencarnatórias já vivenciadas. Deus nos criou a todos de forma igual. A aparente desigualdade da humanidade nada mais representa do que a nossa visão do presente, esquecidos do que já vivemos.
Nenhuma outra teoria traz essa explicação tão simples, natural e lógica. Abeberemos-nos nesses conhecimentos e conquistaremos o
equilíbrio definitivo.
Fiquemos com Richard Simonetti1:
Como aceitar a justiça de Deus sem conceber esse encadeamento de múltiplas existências, onde, quais alunos matriculados num educandário, recebemos lições compatíveis com nossas necessidades evolutivas?
Ocorre que o Espiritismo oferece-nos uma visão mais objetiva, eliminando fantasias que fazem da morte algo terrível, tétrico, assustador,
como se fosse o que de pior pudesse acontecer à criatura humana.
Uma Razão para Viver, Richard Simonetti
O Espiritismo situa-se como esse aguardado Consolador, dirigindo-se a uma humanidade mais amadurecida, capaz de compreender suas responsabilidades.
Como um farol abençoado que nos oferece novas luzes para um entendimento mais amplo da mensagem cristã, a Doutrina dos Espíritos ressalta que o Mestre Supremo é o Cristo e que nos seus ensinamentos está o roteiro indispensável para que nos habilitemos à felicidade, confirmando que é no esforço do Bem que residem nossas melhores oportunidades de construir um futuro feliz, superando o comprometimento com as ilusões da Terra.
Este é o grande desafio: encararmos a realidade, compreendendo que a jornada terrestre tem dois objetivos específicos de renovação
e progresso que não podem ser traídos, sob pena de colhermos frustrações e desenganos, em crônica infelicidade.