Léon Denis — Continuador de Kardec -Sidney Fernandes– 

LÉON DENIS — CONTINUADOR DE KARDEC
Sidney Fernandes– 


Confundem-no com Kardec, pensam que tinham a mesma idade, que um foi o professor e o outro teria sido o aluno, que viviam na mesma cidade e que seus contatos eram constantes.
Pensar que fossem a mesma pessoa deve-se aos nomes.
Amélie Boudet, a doce esposa do Professor Hippolyte-Léon- Denizard Rivail — que assumiu o pseudônimo de Allan Kardec quando se tornou escritor espírita — chamava-o de Léon.
Aluno? Talvez discípulo. Segundo as palavras do próprio Denis, teria havido colaboração entre dois servos de uma única causa. Em seguida ele mesmo faz o reparo:
— Que estou dizendo, colaboração? É ainda melhor. É mais a comunhão de duas almas perseguindo um objetivo comum.
Eram contemporâneos? Não exatamente, pois Léon nasceu em 1846, em Foug, na região francesa da Lorena, a aproximadamente 400 quilômetros de Lyon, onde, como se sabe, nasceu, mas não morou, Rivail, que estudou na Suíça e viveu até o fim da vida em Paris.
Denis conheceu o Espiritismo em 1864 e esteve com Kardec apenas três vezes: em Tours, em Benneval e em Paris, quando o visitou para ter conversas doutrinárias.
O fato que chamou a atenção dos biógrafos ocorreu em 1867, em Tours, quando Kardec foi convidado para lá proferir palestra, que não pôde ser realizada na sala de conferências alugada, pela proibição do Segundo Império da França. Acabaram por se reunir na casa de um amigo, sob a luz das estrelas. Léon Denis ficou encarregado de avisar os convidados do novo endereço da reunião. Espremidas no jardim do anfitrião,
aproximadamente trezentas pessoas ficaram em pé, porém felizes, por ver e ouvir Allan Kardec.
No dia seguinte, quando Léon Denis voltou à casa, presenciou uma cena bucólica, que atestou a coerência entre o que o codificador escrevia e pregava e a sua prática, sobretudo no âmbito familiar. Em pé, em um pequeno banco, Allan Kardec colhia cerejas e as entregava à esposa Amélie Boudet.
E quanto às posições social e financeira, entre Rivail e Denis? Havia alguma semelhança? De forma alguma. Aproximarse do Espiritismo foi um péssimo negócio, sob o aspecto econômico, para o consagrado professor de Lyon.
Se houvesse guardado prudente distância dos fenômenos espíritas e não tivesse se transformado no personagem de seu pseudônimo, Allan Kardec poderia viver tranquilamente de seus ganhos como professor, tradutor e contabilista. Preferiu renunciar aos ganhos, em prol de sua contribuição para a humanidade, codificando o Espiritismo.
Quanto a Léon Denis, desde o seu nascimento a sua vida foi pautada por enormes dificuldades financeiras. Por várias vezes precisou interromper os estudos, para auxiliar seu pai. Ainda jovem, teve que assumir a responsabilidade na manutenção da família.
Não obstante, Léon Denis teve importância fundamental, ao lado de Alexandre e Gabriel Delanne — pai e filho — e de Amélie Boudet, ao resgatar o verdadeiro conteúdo do Espiritismo, através de palestras, distribuição gratuita de obras básicas e na manutenção do periódico Le Spiritisme, após o desencarne de Allan Kardec.
Léon Denis seguiu o caminho aberto por Allan Kardec e lutou com todas as suas forças para a continuidade da difusão da Doutrina Espírita, mesmo com as defecções e os problemas causados por alguns equivocados sucessores do codificador.
A exemplo do mestre lionês, Léon Denis caminhou sem cessar — mesmo com sérios problemas nos olhos, que culminaram com a sua cegueira, ao final de sua vida —, sem desfalecimento ou desânimo. A proteção e a assistência dos bons espíritos jamais lhe faltaram.
Diante de todas as dificuldades por que passou, muito semelhantes, em vários aspectos, às asperezas vividas por Allan Kardec e sua esposa Gaby, rendamos nosso respeito e homenagem a esse verdadeiro continuador da obra da codificação.