Medo - Inimigo Invisível -Sidney Fernandes 

MEDO - INIMIGO INVISÍVEL
Sidney Fernandes 


Medo de trabalhar, de servir, de fazer amigos, de desapontar, de sofrer, da incompreensão, da alegria, da dor... E recolhem-se na ociosidade, alegando o medo da ação.
Medo disto, medo daquilo... Antes que eu leve uma bronca da nossa editora, que me passou uma pauta de esperança, prevenção e de mecanismos de defesa contra a atual situação em que vivemos, quero me defender dizendo que esses medos não são de agora, não foram observados por este escritor e, sim, extraídos das interpretações de Emmanuel a texto de Jesus:
— E, tendo medo, escondi na terra o teu talento... Mateus, 25:25
Assim como aconteceu com o servo da parábola, nossos passos de agora estão revestidos de temor, pois a situação vivida não é exatamente a que almejávamos. Da mesma forma, por mais rude que seja o momento atual, a pior maneira de enfrentá-lo será o temor generalizado.
Mais do que nunca, é preciso alimentar a abençoada chama divina que nos foi implantada no íntimo do coração, a fim de enfrentarmos as sombrias estradas em que fomos lançados pelas circunstâncias.
Essa chama precisará ser enriquecida pelo combustível do esforço no bem, ainda que surja o medo, pois ele jamais poderá servir de argumento para justificar o afastamento das forças divinas.
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Como falar em benemerência quando todos estamos nos sentindo impotentes e inseguros?
A humanidade já vivenciou inúmeros momentos dolorosos.
Um dos mais icônicos foi a condução de Jesus — o espírito mais perfeito que já passou pela Terra — ao madeiro infame, seguida
da defecção dos discípulos e dos martírios e lágrimas dos seus seguidores.
Mesmo assim, horas antes da suprema agonia, o Mestre, antevendo a dor e o desapontamento que se seguiriam, com
vigorosa serenidade assim se pronunciou:
... a vossa tristeza se converterá em alegria. João, 16:20
A grandiosidade do Cristo vislumbrou, naquela bagagem de sofrimentos, a construção de fortes alicerces para uma nova vida, repleta de paz e alegria para a humanidade.
Isso significa que devemos, resignadamente, suportar os embates dos tempos atuais, conformando-nos com uma vida futura, na espiritualidade maior? Também isso.
Acima de tudo, porém, nas proféticas palavras de Jesus, devemos reconhecer que o momento delicado e doloroso por que passa a humanidade surgiu como adubo divino, para que ressurjam os bons sentimentos.
A autêntica alegria cristã não compactuará com os desmandos da inconsciência, vigorosamente defendidos por aqueles que se distanciaram da justiça divina. Ela surgirá com a conscientização das criaturas de que a dor surge quando falha o sentimento.
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Lembremo-nos, com Simonetti, que o Espiritismo nos permite superar a visão estreita do homem perecível, para alcançar a visão ampla do espírito imortal. A Doutrina Espírita, como a mais avançada mensagem até hoje oferecida à humanidade, permite-nos, tanto quanto possível, aproximarmonos, com o exercício da inteligência, das razões de Deus para nossas vidas.
O triste quadro social que, infelizmente, começa a tomar corpo no mundo, em proporções epidêmicas, principalmente nos grupamentos distantes da espiritualidade e do trabalho edificante, reflete o modelo de vida daqueles que estão procurando a felicidade no lugar errado.
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Narra Irmão X singular passagem em que o medo palmilhou os passos dos discípulos de Jesus.
Revela que Tiago sentiu medo da reprovação alheia, Bartolomeu asilou o medo da perseguição e Felipe guardou o medo da crítica....
Em dado momento, Pedro, o pescador de Cafarnaum, teria perguntado a Jesus, como os discípulos poderiam se livrar do
medo, aquele adversário invisível:
Teria respondido Jesus:
— Quando o tempo e a dor difundirem, entre os homens, a legítima compreensão da vida e o verdadeiro amor ao próximo, ninguém mais temerá.
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Esse então é o grande segredo? Assim o homem poderá se livrar do medo? Compreendendo melhor a vida e praticando o amor ao semelhante?
Diz Emmanuel que, sem a presença do Cristo em nossas vidas, seremos frágeis criaturas, expostas aos desenganos e aos sofrimentos reparadores. Útil seria, para a proteção de nossa vulnerabilidade física e espiritual, que considerássemos o planeta como uma imensa escola de trabalho, pois ainda somos seres necessitados de aprimoramento e iluminação.
Queremos nos prevenir contra as intempéries que começam a assolar o interior dos homens? Apeguemo-nos ao bem, ao desprendimento e à moral de Jesus e estaremos prontos para enfrentar qualquer doença, seja ela física, mental ou espiritual.
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Encerremos com uma curiosa história de Humberto de Campos, que nos mostra como o medo pode modificar até uma guerra.
Reunidas em Pirajá, as tropas brasileiras desenvolviam daí, em 1822, o cerco do general Madeira, encurralado na Bahia com o restante das forças portuguesas. A 8 de dezembro, Madeira lança um contingente de 2.000 homens contra a ala direita dos sitiantes, levando-os de roldão.
Chegam reforços de parte a parte, e os lusitanos vão triunfar, quando o coronel brasileiro Barros Falcão, prevendo a derrota e querendo salvar o resto dos seus homens, ordena ao clarim Luiz Lopes, português de nascimento, mas que abraçara, aí, a causa da independência:
— Toca "retirar!"
O soldado leva o clarim à boca e o toque que se ouve é:
— "Avançar, cavalaria!"
E logo outro:
— "Degolar!"
Apavorados com o que ouviam, os portugueses, quase vitoriosos, recuam, os brasileiros ganham ânimo e avançam de novo. Estava ganha a batalha.
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Fiquemos com Emmanuel:
Não temamos, pois, o que possamos vir a sofrer. Deus é o Pai magnânimo e justo. Um pai não distribui padecimentos. Dá corrigendas e toda corrigenda aperfeiçoa.
Referências: A Presença de Deus, de Richard Simonetti; Caminho, Verdade e Vida, de Emmanuel; Pontos e Contos, de Irmão X;
Fonte Viva, de Emmanuel; O Brasil Anedótico, de Humberto de Campos.