Mensagem Sobrenatural - Sidney Fernandes

MENSAGEM SOBRENATURAL
Sidney Fernandes


Renato e Soraya conheceram-se na universidade. Bons alunos, logo se identificaram e começaram a estudar juntos. Em pouco tempo estavam namorando. Responsáveis e amorosos, sentiram muitas afinidades e passaram a fazer planos para o futuro. Naturalmente, terminariam seus estudos e estabilizariam suas vidas profissionais antes de pensar em compromissos mais sérios.
Raramente entravam em atritos. Pequenas discordâncias eram resolvidas com troca de mensagens entre celulares. Até que, em determinado dia, mal-entendido provocado por colegas irresponsáveis criou clima desagradável entre eles.
Tinham um pacto: sempre que surgia algum problema entre eles, deixavam para discutir o assunto em novo encontro, mais tarde, ou no dia seguinte. Seguiam, mais ou menos, um velho conselho das avós norte-americanas: The best advice is found on the pillow. Ou seja, O melhor conselho é encontrado no travesseiro.
Realmente, para não piorar relacionamentos, nada melhor do que dar um tempo para que cada uma das partes repense o problema e esfrie seus ânimos. Depois de uma noite bem dormida, pessoas mudam de ideia.
Não foi o que aconteceu com Renato daquela vez. Afastouse de Soraya com muita raiva e resolveu lhe mandar mensagem para colocar tudo em pratos limpos. Como se tratava de comunicação séria, que poderia alterar seus relacionamentos, resolveu fazer um rascunho, de próprio punho, relê-lo e depois remetê-lo pelo telefone celular.
Colocou diante de si uma folha de papel e escreveu:
— Querida Soraya.
Fez uma pausa com o queixo na palma da mão e empacou.
Nenhuma palavra mais lhe acorria à mente. Mas, ele ainda estava muito irritado e permaneceu naquela posição, com o cérebro de
um lado, ocupado com a raiva, e do outro, seu coração, suplicando ponderação e entendimento.
Todas as vezes, contudo, que as feridas de nossa alma são expostas, elas liberam um odor perigoso, que pode atrair vibrações doentes que guardam afinidade com as mágoas.
De repente, involuntariamente as falanges da mão de Renato se contraíram e se distenderam, como se fossem traçar letras e palavras. Espantado, o jovem percebeu que havia escrito algumas linhas, absolutamente sem consciência, dispensando o raciocínio sobre elas. Eis o resultado de seu parcial transe:
— Você é demasiado bela e se acha rodeada de demasiados admiradores para que eu possa dizer, sem ofendê-la, que não a amo. Isto é tudo! Perdoe-me. Vou me afastar de você. Não será difícil esquecermo-nos um do outro.
Quando Renato releu o bilhete, ficou absurdamente perplexo. De onde teriam vindo aquelas desventuradas palavras?
Não era isso o que pensava. Ao contrário, amava Soraya de todo o coração e jamais poderia lhe mandar semelhante absurdo. Ou ele
estava tendo um pesadelo ou estava com algum transtorno mental.
Que carta mais estranha!
O jovem ficou ainda mais perplexo ao notar que aquela letra não era sua. Como aquela modificação ocorrera, na forma e na essência? Teria sido induzido por algum espírito ferino a estraçalhar a alma de sua amada?
Inadvertidamente, sua ira havia atraído alguma entidade infeliz. Encarou a comprometedora comunicação como um alerta do céu para que voltasse ao equilíbrio, à ponderação e fugisse da distração inqualificável.
Aquele texto havia sido, por assim dizer, escrito sozinho, como se uma vontade independente da de Renato houvesse guiado seus dedos. Havia sido redigido com intervenção sobrenatural que ele não conseguira explicar para si mesmo.
Felizmente, prevaleceram a ponderação, os bons sentimentos e rígidos princípios morais, e ele não enviou a mensagem. No dia seguinte, foi acordado com uma carinhosa mensagem de Soraya.
As coisas haviam sido esclarecidas naturalmente e ela estava ansiosa por revê-lo.
***
Ensina-nos a Doutrina Espírita que o exame cuidadoso, a ponderação e a análise criteriosa de nossos pensamentos e expressões rejeitam o que foge da lógica e do bom senso. O recolhimento é o melhor conselheiro para obtermos relações com espíritos sérios, cuja presença, por si só, desestimula a atração de espíritos doentes, zombeteiros ou malfazejos.
Fiquemos com Emmanuel:
Em todos os serviços, o concurso da palavra é sagrado e indispensável, mas aprendiz algum deverá esquecer o sublime valor do silêncio, a seu tempo, na obra superior do aperfeiçoamento de si mesmo, a fim de que a ponderação se faça ouvida, dentro da própria alma, norteando-lhe os destinos.
Emmanuel
Referências: O ignorado amor, Théophile Gautier; O Livro dos Médiuns, Allan Kardec; Vinha de luz, Emmanuel.