MEU FILHO NÃO É NORMAL
Sidney Fernandes -
Float
Um pai percebe que seu bebê flutua. Não é perigoso, necessariamente, mas é muito perceptível, e outros pais de crianças que não flutuam acham estranho e errado.
Então, o pai tenta impedir o filho de flutuar. Ele o mantém dentro de casa, enquanto cresce. Quando eles saem, ele tem seu filho na coleira e com sua mochila cheia de pedras.
Um dia, seu filho foge e flutua pelo playground. A criança está feliz, mas os outros pais no parquinho não. O pai arrasta o filho para longe e, em um momento de frustração, exclama:
— Por que você não pode simplesmente ser normal?!
Quando o pai percebe o quanto essa exclamação machuca o filho, ele se envergonha. Em vez de segurar o filho para se proteger dos pais de crianças que não flutuam, ele deixa o filho flutuar livremente.
Esta é sinopse de Float, um dos três novos curta-metragens da Pixar, do animador Bobby Rubio, um filipino que escreveu, dirigiu e produziu o filme com base em seu próprio relacionamento com o filho.
A história em si não fala sobre autismo e, sem dúvida, pode se aplicar a qualquer pai ou pessoa que tenha um membro da família que seja considerado diferente. O que mais me chamou a atenção, no filme, foi ele retratar uma história real.
— Quando meu filho foi diagnosticado pela primeira vez, não lidei muito bem com esse assunto — confessou Rubio.
Foi então que a esposa lhe sugeriu que ele contasse a sua história e a de seu filho em quadrinhos. E a emoção que ele tão bem conseguiu
passar no filme fica muito clara em sua dedicatória do final:
— Para Alex. Obrigado por me tornar um pai melhor.
Dedicado com amor e compreensão a todas as famílias com crianças consideradas diferentes.
***
Embora seja escassa a literatura sobre o autismo, sob o ponto de vista espírita, consegui obter preciosas informações de respeitáveis
pessoas sobre o assunto.
Reencarnação dolorosa Certa feita Chico Xavier foi procurado por um pai, que levava no colo um filho de ano e meio, acompanhado de um médico de Uberaba, que explicou que a criança sofria de sucessivas convulsões.
Chico concordou com diagnóstico de autismo e alertou que o autista, geralmente, perde o interesse pela vida e vai desejando ardentemente
voltar à vida espiritual. Considera o corpo verdadeira prisão e, às vezes, força a porta de saída.
— É preciso que os pais dessa criança conversem muito com ela, principalmente a mãe. É necessário chamar o espírito para o corpo. Se não agirmos assim, muitos espíritos não permanecerão na carne, porque a reencarnação, para ele, é muito dolorosa.
Com efeito, na visão espírita, a função dos pais de crianças autistas é criar uma ponte que desperte o interesse de seus filhos para este mundo, com base no amor, na paciência e nos estímulos, sem jamais esmorecer, diante das dificuldades que fatalmente aparecem.
A criança deve se sentir bem-vinda, amada e querida no seio da família, diante da disposição de todos os familiares de auxiliá-la em
seus progressos.
Reencarnação compulsória
No livro Autismo: uma leitura espiritual, o professor Hermínio C. Miranda explica que, em alguns casos, não resta à espiritualidade
senão a reencarnação compulsória. O espírito acaba reencarnando mesmo contra a sua vontade.
— Digamos que a entidade espiritual, movida por motivações que só ela pode explicar, decida com firme determinação não mais
reencarnar-se, mas, de repente, se veja ante a contingência incontornável de fazê-lo.
O espírito, por não desejar nunca mais reencarnar ou, pelo menos naquele momento, fica sem escolha e, com isso, sente-se forçado e aprisionado. Desinteressa-se pela vida material e, quanto mais rudimentar e precária for a comunicação com o mundo, menor será o seu envolvimento.
Causa inicial
Prefaciador da obra de Hermínio Miranda, o médico neurologista Dr. Jano Alves de Souza concluiu que sejam quais forem os mecanismos materiais envolvidos na gênese do autismo, indubitavelmente, sua causa inicial está nas experiências pregressas e nas necessidades cármicas do Espírito reencarnante.
Débitos passados
Nessa mesma linha, defende o médico espírita Carlos Eduardo Sobreira Maciel que, via de regra, os espíritos autistas têm severos débitos passados, muitas vezes em situações de obsessão espiritual, com a necessidade de passes, tratamento desobsessivo e uso de água
fluidificada.
Especifica Dr. Maciel que o processo de formação do autismo consolida-se no momento da reencarnação, quando se vislumbra a consciência do indivíduo marcada pela culpa, que lhe provoca lesões no perispírito e consequente sensibilização na formação do sistema nervoso.
Há casos — continua Dr. Maciel — em que, mesmo não havendo lesões perispiríticas, o sentimento de culpa pode provocar processo de abandono consciente da vida, uma espécie de autoencarceramento orgânico, que provoca a rejeição à reencarnação e recusa à comunicação, fatores que acabam por danificar o cérebro do reencarnante.
Raízes do desequilíbrio
No livro Loucura e Obsessão, Bezerra de Menezes afirma que as raízes do desequilíbrio podem remontar a tempos remotos. No afã de fugir do resgate de faltas passadas, das lembranças que os atormentam e de vítimas pretéritas, há espíritos que buscam o transtorno invasivo da alienação mental, através do autismo.
Casos em que o autismo não acontece Helen Wambach, psicóloga e pesquisadora norte-americana, conhecida pelas regressões em grupo, é um dos expoentes da chamada regressão terapêutica. Em seu livro Vida Antes da Vida, explica que o autismo pode ser uma atitude de rejeição à encarnação.
Realizou várias experiências com adultos, regredindo-os à vida intrauterina, trazendo à consciência percepções e sensações antes do nascimento, observando e sentindo os efeitos físicos e emocionais, tanto da mãe, quanto dos pacientes. Algumas dessas impressões são
marcantes e podem se manter em nossa memória por toda a existência, podendo, também, ser consideradas causas dos processos
de autismo.
Acompanhemos estes depoimentos em que os espíritos, não obstante terem passado por processos dolorosos, conseguiram encarar a situação com naturalidade e evitar o processo do autismo.
1º caso — Minha mãe não me desejava. Certa vez tentou abortar. Fiquei irado por ocasião do parto, porque ela pretendia divorciar-se de meu pai. Agora estou conscientizado de que parte do meu carma consiste em aprender a amar minha mãe de qualquer maneira.
2º caso — Ao me ligar ao feto, dava-me conta de que minha mãe estava assustada, de início, mas, posteriormente aceitou o processo com naturalidade.
3º caso — Foi uma experiência forte, não desagradável, mas, surpreendente, o meu nascimento. Evitei mensagens à minha mãe para que ela encarasse tudo como sensação e não como dor.
Percebia, de forma clara, as atitudes de outras pessoas. Eu estava muito feliz por assumir esta vida.
Escondendo-se dentro de si mesmo Afirma Richard Simonetti em seu livro Viver em Plenitude:
Retornaremos à carne vezes sem conta, até que nos tornemos aspirantes à angelitude. Espíritos imaturos estimariam permanecer “numa boa”, evitando as limitações da matéria, as complicações do esquecimento, os problemas de reconciliação com desafetos, o suor do rosto, as dores do mundo, as angústias existenciais...
Mesmo os mais esclarecidos encaram com relutância o retorno, embora conscientes de que, como diria Camões, reencarnar é preciso.
Não raro o Espírito sente-se tão inseguro ou tão contrariado, reluta tanto que chega a rejeitar a experiência que se inicia. Dispara ele próprio problemas fetais que podem resultar no aborto.
Esta fuga acontece particularmente no início da gestação, quando tênues são os laços que o prendem ao corpo. A gestante nem chegará a perceber, julgando-se às voltas com mero atraso no ciclo menstrual.
Há casos em que se consuma a reencarnação, mas o Espírito recusa-se à nova existência, originando um comportamento autista, como se buscasse esconder-se dentro de si mesmo.
Fácil concluir que reencarnar não é simples ligar de uma tomada. Há vários fatores que precisam ser harmonizados.
Imperioso, sobretudo, trabalhar os pais para que se disponham ao encargo, evitando grave problema: a rejeição.
Orlando e Ronaldo
Depois de dez anos, encontrei-me com Orlando, velho colega de trabalho. Como eu, havia se aposentado do Banco do Brasil há mais de vinte anos. Lembrei-me de que ele tinha três filhos, um deles autista. Nunca havia falado com ele sobre o menino do meio. Foi Orlando que me deu a oportunidade de tocar no assunto.
O menino agora está com mais de quarenta anos.
Descontraidamente, falou-me sobre a vida com Ronaldo, cuja idade mental não ultrapassa cinco anos.
Ainda hoje, banho, alimentação, roupa, banheiro e medicamentação, são conduzidos por Orlando, cuja primeira esposa, mãe de Ronaldo, faleceu no seu nascimento. Jamais permitiu que qualquer encargo do filho especial ficasse por conta de sua segunda esposa.
Tive que me segurar para não me emocionar com o carinho, o desvelo e a dedicação que Orlando dedica a Ronaldo. Tive ali, naqueles poucos minutos de conversa, a prova viva e cabal do verdadeiro amor de um pai para seu filho, diferente para os outros, absolutamente normal para ele.
***
E quando não se conta com a bênção da Doutrina Espírita para esclarecer as causas filosóficas do autismo? A que atribuir o aparente defeito do filho que nasceu diferente de outras crianças? Ao acaso?
Ao acidente genético? Ao destino? Ou a um deus vesgo e injusto que errou logo com minha família?
Quando contamos com o conhecimento da lei de causa e efeito, irmã gêmea da reencarnação, que mostra que a origem das dores de
agora está nos erros pretéritos, que o sofrimento de agora nada mais representa do que a colheita de plantação indevida do passado e que
uma equipe especializada de engenheiros espirituais projeta e constrói os corpos, de acordo com a roupagem perispiritual e as necessidades evolutivas de cada espírito, fica mais fácil entender a justiça divina.
Grandes méritos podem ser contabilizados aos pais que, não obstante o desconhecimento dessas leis naturais, aceitam, resignadamente, os filhos diferentes que aportaram em seus lares, cuidando deles com o mesmo carinho, o mesmo amor que dedicam aos seus demais rebentos.
Fiquemos com Emmanuel:
Espíritos enfermos, passamos pelo educandário da reencarnação, qual se o mundo, transfigurado em sábio anestesista, nos retivesse no lar para que o tempo, à feição de professor devotado, de prova em prova, efetu e a cirurgia das lesões psíquicas de egoísmo e vaidade, viciação e intolerância que nos comprometem a alma.
Livro da Esperança
Nota do autor: Escrevi este texto motivado pela sinopse do curta-metragem Float, da Pixar, que me foi remetida por Divaldinho, de Votuporanga, juntamente com uma cópia do vídeo, a quem agradeço a gentileza. Embora escassa a literatura sobre o autismo sob o ponto de vista espírita, vali-me dos textos de Francisco Cândido Xavier, Carlos Baccelli, Carlos Eduardo Sobreira Maciel, Helen Wambach, Jano Alves de Souza, Hermínio Miranda e os contidos no site www.wemystic.com.br.