Morte : Compreender para perder o Medo. - Sidney Fernandes 

Segundo Richard Simonetti
ALGUNS MOTIVOS PARA PERDER O MEDO DA MORTE

- Sidney Fernandes 
“...dissipar o terror que a hora fatal produz em toda a gente”
“Se eu pudesse tornar a viver e se soubesse o que sei agora, viveria de maneira muito diferente”
Ernesto Bozzano
Sidney Fernandes
Em junho de 1986, quando Simonetti elaborou o prefácio do livro “Quem Tem Medo da Morte? ”, referiu-se ao sucesso de palestra sobre a morte, que proferia anualmente em Bauru e em outras cidades do Brasil, como estímulo para escrever essa obra, que se tornou seu best-seller.
Em respeito ao trabalho de Richard e ao público interessado, houve por bem o CEAC – Centro Espírita Amor e Caridade de Bauru –, manter esse evento, neste ano realizado no dia 02 de novembro. Sem querer, absolutamente, fazer as vezes do mestre, este artigo resgata alguns dos pontos mais importantes de seu livro, que geralmente representam obstáculos ou temores em relação à morte.
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1 – Teia de retenção
— Coitadinho do vovô, ele só tem 95 anos, não pode morrer;
— Minha esposa não deve morrer agora, ela é nosso apoio, nossa segurança;
— Filhinho querido, mal viveu alguns anos e já vai partir?
Não permita, Deus, que isso aconteça.
A inconformação e o desespero geram o surgimento de uma espécie de teia de retenção, que não evita a morte, mas a retarda.
Quando isso acontece, os mentores promovem uma recuperação artificial no paciente, que tem o condão de relaxar a retenção indevida dos familiares inconformados. É a chamada melhora da morte. Com essa trégua, os libertadores têm o seu trabalho de desligamento facilitado. Aproveitam esse momento e aceleram o processo desencarnatório.
Quando o desencarnante e seus familiares controlam as emoções, cultivando, em prece, sentimentos de confiança e contrição, os técnicos da espiritualidade encontram facilidade para promover o desligamento, sem traumas maiores para o que parte, sem desequilíbrios para os que ficam.
Richard Simonetti
Outro ponto interessante da mensagem que se vem de ler é o em que o Espírito diz que a dor exagerada dos vivos, junto dos leitos mortuários de pessoas que lhes eram caras, constitui obstáculo intransponível, que impede o morto de entrar em relações psíquicas com os seus, acrescentando que, por outro lado, o estado d’alma dos vivos exerce influência deplorável sobre as condições espirituais em que se encontra o Espírito recémdesencarnado.
Ernesto Bozzano
2 – Despreparo para a morte Diz Hermínio Miranda que muitos homens de saber têm imensas dificuldades de adaptação ao chegar à espiritualidade. O despreparo para a morte atinge multidões que jamais refletiram sobre o significado da vida. A maioria não cogita dessas questões, achando que apenas os outros morrerão, julgando viver para sempre. O Espiritismo nos dá amplas condições de discutir esse
assunto, considerado mórbido, mas que precisa ser compreendido como natural decorrência da vida. Discutir a morte é fundamental,
pois qualquer apego dificulta o nosso desligamento na partida. 
Nesse aspecto, forçoso reconhecer no Espiritismo um abençoado curso de iniciação às realidades além-túmulo. O espírita, em face das informações amplas e precisas que recebe, certamente aportará com maior segurança no continente invisível, sem grandes problemas para identificar a nova situação, embora tais benefícios não lhe confiram o direito de ingresso em comunidades venturosas. Isso dependerá do que fez e não do que sabe.
Richard Simonetti
– Morte de parentes
Boris Fausto, o notável historiador, professor e cientista político, jamais cogitara do tema morte. A imensa obra que ele produziu, e que o tornou referência na história e na política brasileira, não o vacinou contra o esmagamento da dor da morte de sua esposa Cynira, que o pegou desprevenido e, como diriam os antigos, de calças curtas.
A surpresa e a tristeza são compreensíveis e o vácuo da ausência é entendível. No entanto, não perdemos a pessoa querida.
Podemos sentir saudade, mas saudade limpa, isenta de revolta e plena de resignação. Caso contrário a má saudade poderá prejudicar nossos entes queridos.
Os que debruçam sobre o esquife de uma criança muito amada compreenderão um dia que a separação de hoje faz parte de um programa de maturação espiritual que lhes ensejará uma união mais íntima, uma felicidade mais ampla e duradoura no glorioso reencontro que inelutavelmente ocorrerá. 
Somos Espíritos eternos! Já existíamos antes do berço e continuaremos a existir após o túmulo! É preciso viver em função dessa realidade, superando mesquinhas ilusões, a fim de que, livres e firmes, busquemos os valores inalienáveis da virtude e do conhecimento, nosso passaporte para as gloriosas moradas do Infinito!
Richard Simonetti
– EQM – Experiências de Quase Morte
Dr. Eben Alexander, neurocirurgião professor de Harvard, morreu e voltou para contar sua história. Ele garantiu que esteve num maravilhoso local, que ele denominou de paraíso. Após sua volta, descreveu vários sintomas que, por sinal, são muito semelhantes aos evidenciados pelo Doutor Raymond Moody
Júnior, em suas experiências com pessoas que entrevistou e lhe contaram sobre seus encontros com a morte.
Da mesma forma, pronunciou-se a Doutora Elisabeth Kübler- Ross, elogiando as descobertas de Moody, por se tratar de pesquisador genuíno e honesto.
Vivenciar uma experiência fora do corpo, viajar dentro de um túnel, sentir-se a subir pelos céus, ver familiares já falecidos, encontrar seres espirituais superiores, fazer uma revisão da própria vida, sentir uma relutância enorme em voltar à vida e ter um sentimento de paz e ausência de dor, são descrições anotadas pelo Dr. Moody, muito comuns e geralmente descritas por quem já passou pela experiência de quase morte.
Chamamos a atenção para algumas delas:
- ver familiares já falecidos -
Observação de Simonetti:
Sempre contaremos com ajuda especializada na grande transição, a par da presença de amigos e familiares que nos antecederam.
De Irmão Jacó, no livro Voltei:
Em meio do suor copioso lobriguei minha filha Marta a estender-me os braços. Estava linda como nunca. Intensa alegria transbordava-lhe do semblante calmo.
E de Ernesto Bozzano, em A Crise da Morte:
Assinalemos ainda outro detalhe: o de achar o Espírito desencarnado, ao chegar ao limiar da nova existência, para o acolherem e guiarem, outros espíritos de mortos, que são geralmente seus parentes mais próximos, mas que também podem ser seus mais caros amigos, ou os “espíritos-guias”.
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- moradas na espiritualidade -
Além de encontrar familiares e amigos, há uma outra preciosa notícia para os que chegam ao mundo espiritual. No meu livro Luzes no Brasil, cito o acolhimento que a personagem Giselle Marie teve, em casa familiar do plano espiritual.
A esse respeito, ouçamos o depoimento de Ernesto Bozzano:
É assim que o Espírito encontraria novamente, no mundo espiritual, um meio e uma morada correspondentes a seus hábitos terrestres, morada que lhe preparariam os seus familiares, tornados antes dele à existência espiritual. Como se há podido ver no caso que acabo de referir, é a avó do defunto que estaria encarregada de conduzir o neto à morada que o havia de receber.
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Assim como na universalidade dos ensinos dos espíritos, à época da codificação, a diversidade de fontes e de circunstâncias
— depoimentos de espíritos encarnados, temporariamente distanciados do corpo material, idênticos testemunhos de espíritos desencarnados — são indícios muito claros para se afirmar, com segurança, que seremos recebidos por nossos parentes e amigos, por ocasião da morte, ou com eles poderemos ter contato, em desdobramentos durante o sono, ou em eventual experiência de quase morte.
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- fazer uma revisão da própria vida –
Quando o livro A Vida Depois da Vida, de Moody, foi publicado pela primeira vez, cientistas médicos riram e descartaram as experiências de quase morte, rotulando-as como alucinações. Mais de quarenta anos depois, não há um pesquisador científico sério que não tenha chegado às suas mesmas conclusões.
Um dos pontos mais constantes nos depoimentos dos entrevistados que passaram pela experiência de quase morte é a reflexão sobre tudo o que a pessoa fez na vida. Ocorre o desencadeamento da recapitulação, com o objetivo de possibilitar uma revisão da própria existência. Com isso, aqueles que retomam seus corpos e retornam à vida material voltam com outra concepção de vida, com grande sentimento de paz e ausência de dor e sentem certa relutância em voltar à vida na Terra.
Richard Simonetti assim trata desse assunto:
A iminência da morte dispara um curioso processo de reminiscência. O moribundo revive, em curto espaço de tempo, as emoções de toda a existência, que se sucedem em sua mente como um prodigioso filme com imagens projetadas em velocidade vertiginosa.
O fenômeno é definido pelo autor como uma espécie de balanço existencial, para se aferir o que prevalecem em sua vida: as boas ou as más ações. Lembra ainda que é um mecanismo psicológico que pode também afetar uma pessoa que passe por um grande perigo, sem que a morte se consume.
Palavras de Ernesto Bozzano:
Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida me desfilaram sob as vistas, como num panorama; eram visões vivas, muito reais, em dimensões naturais, como se o meu passado se houvera tornado presente. Foi todo o meu passado o que revi, compreendido o último episódio: o da minha desencarnação.
Palavras de Irmão Jacó, durante o seu desencarne:
Vi-me diante de tudo o que eu havia sonhado, arquitetado e realizado na vida. Insignificantes idéias que emitira, tanto quanto meus atos mínimos, desfilavam, absolutamente precisos, ante meus olhos fixos, como se me fossem revelados de roldão, por estranho poder, numa câmara ultrarrápida instalada dentro de mim.
Transformara-se-me o pensamento num filme cinematográfico misterioso e inopinadamente desenrolado, a desdobrar-se, com espantosa elasticidade, para seu criador assombrado, que era eu mesmo.
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– Dificuldades para o desligamento.

Por quanto tempo ficaremos ligados ao nosso corpo, depois da morte física? Como prevenir as dificuldades para o desligamento? O espírito deve ser separado do organismo físico assim que ocorre a morte física?
— Depende do tipo de vida que tivemos — provavelmente responderia Richard Simonetti.
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Vamos acompanhar um caso narrado por André Luiz, no livro Nosso Lar.
André sentiu-se profundamente estimulado e, em seguida, retornou ao atendimento. Notando que Narcisa procurava acalmar um rapaz, tentou ajudá-la. O jovem se debatia, pedia ajuda e gritava que o monstro estava voltando. A dedicada servidora transmitiulhe passes magnéticos, na tentativa de afastar o fantasma diabólico, cuja visão o apavorava.
Depois de receber a assistência de Narcisa, acalmou-se, diante das palavras de carinho e bom ânimo. André quis saber que  fantasma era aquele, pois ele não conseguiu vê-lo, e recebeu a seguinte explicação de Narcisa:
— O fantasma era o seu próprio corpo físico. O assistido era muito apegado às coisas materiais e desencarnou prematuramente, em acidente, por mera imprudência.
Inconformado, quis permanecer jungido ao seu corpo físico. Não adiantaram os socorros dos planos mais altos, porque sua cegueira espiritual bloqueava a zona mental e o impedia de vislumbrar a vida imortal. Os vermes o apartaram do corpo, em meio ao sofrimento e ao horror. Felizmente, já está em plena recuperação e a caminho do reajuste.
O monstro que o assustava era o seu próprio corpo físico, pois o apego à vida material acabou por provocar a dificuldade de desligamento. O desconhecimento da continuidade da vida e o descaso com os valores nobres podem levar o espírito a enfrentar uma verdadeira demência espiritual.
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Palavras de Simonetti:
Basicamente o Espírito permanece ligado ao corpo enquanto são muito fortes nele as impressões da existência física. Indivíduos materialistas, que fazem da jornada humana um fim em si, que não cogitam de objetivos superiores, que cultivam vícios e paixões, ficam retidos por mais tempo, até que a impregnação fluídica animalizada de que se revestem seja reduzida a níveis compatíveis com o desligamento.
Certamente os benfeitores espirituais poderiam fazê-lo de imediato, tão logo se desse o colapso do corpo. No entanto, não é aconselhável, porquanto o desencarnante teria dificuldades maiores para ajustar-se às realidades espirituais.
Palavras de Irmão Jacó:
Esclareceu Bezerra que, na maioria dos casos, não seria possível libertar os desencarnados tão apressadamente, que a rápida solução do problema liberatório dependia, em grande parte, da vida mental e dos ideais a que se liga ao homem na experiência terrestre. Recomendou-me observar por mim mesmo as transformações de que era objetivo.
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– Espiritismo e realidade atual Se ainda estivéssemos em algum século do passado, poderíamos, eventualmente, considerar perdoável a ideia do inferno eterno, com suas fornalhas ardentes e caldeiras ferventes, afirma Paulo, Apóstolo, em sua única mensagem contida em O
Livro dos Espíritos.
Na mesma obra, Santo Agostinho indaga:
— Como conciliar a infinita bondade de Deus com vingança infinita? Semelhante ideia poderia ser considerada, quando muito, um fantasma para assustar criancinhas, enquanto pequenas e ingênuas.
E acrescentaríamos: crianças daquela época, porque as nossas, de hoje, já estão se acostumando com as informações veladas, subliminares, ou às vezes muito claras, contidas nos filmes e desenhos animados.
No final do filme A Era do Gelo 2, um neurótico esquilo, que desde o primeiro episódio está tentando proteger sua avelã, sofre um fenômeno de EQM – Experiência de Quase Morte.
Em um dos filmes do consagrado Shrek, o personagem principal cai. Preocupado, o burro, seu fiel escudeiro, alerta-o:
— Afaste-se da luz do túnel!
É uma clara alusão do diretor ao túnel percorrido pelas almas que transitam desta vida para o além.
Certas pessoas — adverte o Doutor Moody — sentiram, junto com os ruídos, a sensação de estarem sendo puxadas por um túnel escuro e longo, ou através de um espaço vazio, negro.
A respeito do Doutor Moody, manifesta-se Simonetti:
Há médicos que vêm pesquisando o assunto, particularmente nos Estados Unidos, onde se destaca o doutor Raymond A. Moody Júnior, que no livro A Vida Depois da Vida descreve experiências variadas de pessoas declaradas clinicamente mortas. Vale destacar que esses relatos confirmam as informações da Doutrina Espírita.
Acrescentaríamos, ao comentário de Richard, providencial manifestação de Léon Denis que, em 1905, durante o Congresso Espírita de Liége, Bélgica, assim se expressou, compatibilizando o progresso da ciência com as revelações espíritas, publicação ainda válida para os dias de hoje:
Faz 50 anos que os espíritas sabem o que a ciência pretende hoje descobrir.
Léon Denis
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Trouxemos alguns dos principais pontos abordados por Richard Simonetti, em seu livro “Quem Tem Medo da Morte? ”, merecedores de nossa mais urgente reflexão. Quem se der ao trabalho de ler e estudar essa obra em sua plenitude, terá, naturalmente, muitos mais elementos para sua meditação.
Objetará, talvez, o caro amigo, que o aqui exposto não foi suficiente para extinguir o seu medo da morte. Respondo socorrendo-me da página inicial do autor, que, na apresentação de seu livro, contou a história de um homem que transitava por estrada deserta e percebeu que alguém o acompanhava.
Apreensivo, apressou-se, correu e, apavorado, julgava estar sendo perseguido por alguém que desejava lhe fazer mal. No auge de sua angústia, passou por um bico de luz e olhou para trás. Como por encanto, o medo se desvaneceu. Descobriu que seu perseguidor era apenas um burro, acostumado a acompanhar andarilhos. O conhecimento o salvou de seu medo.
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Saber que a inconformação e o desespero podem provocar uma teia de retenção para os que vão partir para o além...
Tratar serenamente do tema morte, preparando-se para ela com boas atitudes e respeito à lei divina...
Conscientizar-se de que não perdemos nossos entes queridos e deles nos separamos momentaneamente...
Que eles nos esperam, no momento da transição, inclusive com moradias já preparadas pelos familiares queridos...
Entender que as chamadas EQM – Experiências de Quase Morte – nada mais são do que uma antevisão da nossa viagem definitiva....
Prevenir as dificuldades para o desligamento...
E, finalmente, aceitar a importância do espiritismo perante a ciência atual...
São chamados da vida preparando-nos para a grande jornada que todos empreenderemos, na volta às paragens espirituais. O conhecimento nos traz preciosos elementos para entendermos a morte, deixando de encará-la como uma desgraça e, sim, como retorno à nossa vida verdadeira, a pátria espiritual.
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Então, companheiro, perdeu o medo da morte?
Se ainda não, à guisa de consolo, quero encerrar este artigo, contando-lhe breve episódio, ocorrido com Richard Simonetti numa cidade do Rio Grande do Sul:
— O tema, Richard — comentou uma jovem —, impressioname sobremaneira. Por isso, compareci a esta reunião, mesmo não sendo espírita. Devo confessar, entretanto, que após seus esclarecimentos, eu, que sempre senti medo da morte, agora estou apavorada.
Espero que não esteja ocorrendo a mesmo com você, amigo leitor.


Fontes consultadas:
“A Vida Depois da Vida”, Raymond Moody Jr.
“Quem tem medo da morte? ”, Richard Simonetti
“O Brilho do Bronze”, Boris Fausto
“As Mil Faces da Realidade Espiritual”, Hermínio Miranda
“A Morte na Visão do Espiritismo”, Alexandre Caldini
“Voltei”, Irmão Jacó
“Nosso Lar”, André Luiz
“A Crise da Morte”, Ernesto Bozzano