NOVOS CAMINHOS PARA A HUMANIDADE
Sidney Fernandes
Assim foi desde o princípio
Desde remotos períodos, anteriores à progressista era neolítica, o homem primitivo dependeu da força e da rudimentar inteligência para a sua sobrevivência. A força, que distinguia os que iriam viver, aliada à observação e ao desenvolvimento da argúcia, criou o poder. Essa união redundou na atração da riqueza, que fortaleceu a capacidade de realizar e outorgou a liderança aos que dela passaram a usufruir.
Temos aí, caros leitores, resumidamente, o gatilho do império do poder, não mais apenas por razões de sobrevivência, mas potencializado pela ambição e pelo orgulho humano.
A arte imitando a vida
Considerado pela revista Time o mais contundente legado contra a intolerância racial, o filme Assim Caminha a Humanidade, de 1956, dirigido por George Stevens, um dos diretores mais aclamados de sua geração, representou uma apologia ao pessimismo. Seu roteiro sugere que o preço do progresso dos magnatas incluiria as péssimas condições de vida dos mais humildes. Corroborando essa triste realidade, quarenta anos mais tarde Sydney Pollack dirigiu o filme A Firma, que mostrou as atividades ilícitas de poderosa firma de advocacia, mancomunada com a máfia. Ainda nessa linha de desonestidades, em 1987 Martin Scorcese dirigiu O Lobo de Wall Street, que descreveu a
agressividade, as festas suntuosas, as drogas e as tramoias de um corretor de ações inescrupuloso.
Tempos atuais
A arte ficcional nos sugere que em todos os tempos o comportamento do homem permaneceu no primitivismo das pinturas rupestres, comportando-se como primata selvagem, atropelando e pisando sobre quem quer que seja para sobrepujar os pares sociais.
Por que o homem continua agindo como se estivesse na época das cavernas? Alguns poderão argumentar com os requisitos da natureza humana. Afinal de contas, em sua retórica evolucionista, Charles Darwin introduziu a teoria científica de que as formas de vida evoluem ao longo das gerações por meio de um processo natural. Estaria justificada a sobrepujança do forte, que, teoricamente, estaria dando vazão às suas origens ao explorar o mais fraco. Ou talvez, com base das teorias de Jean-Baptiste Lamarck, o uso e o desuso das funções do indivíduo aumentaria a complexidade dos seres, com vistas ao seu desenvolvimento. Uma suposta força externa contemplaria determinados organismos, gerando uma linha contínua e progressista.
Síndrome de Gabriela
Se os argumentos que debitam o primitivismo à natureza humana, vigorosamente defendidos na Idade Média pelos desmandos inquisitoriais, prevalecessem nos dias atuais, teríamos o coroamento da síndrome da personagem de Jorge Amado,
Gabriela:
— Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim...
Como se pudéssemos justificar as diferenças entre os homens por supostos privilégios concedidos pelo Criador a seleto grupo de escolhidos. Assim como John Green, em trecho de seu livro Cidades de Papel, defende que seus personagens sejam como são, sem qualquer possibilidade ou necessidade de mudança ou evolução.
Espiritismo
Segundo a Doutrina Espírita, as dificuldades, dores, deficiências, limitações, doenças e carências do espírito encarnado existem em função de seu nível evolutivo e das fases que deverá percorrer em benefício de seu progresso.
O escafandro da carne aterrissará no plano material mais adequado à romagem do espírito, sem distinções e sem privilégios.
Mesmo os adeptos de filosofias mais conservadoras já não falam mais em penas irremissíveis, em anjos criados com prerrogativas
especiais e em ungidos, supostamente limpos, puros e santos, como lídimos representantes de Deus na Terra.
O mergulho na carne, no entanto, além de servir de lixa grossa para desbastar as arestas do ser em evolução, representa preciosa oportunidade de fraternidade e cooperação. Poder, riqueza, inteligência, posição social e corpo saudável são empréstimos da divindade, para que os homens ajam como fiéis depositários e estendam aos fracos e oprimidos sob sua tutela as mesmas condições favoráveis de vida.
Embora não vivamos mais nas tristes e escabrosas condições avassaladoras do passado, em que nações eram totalmente escravizadas por poderosos de grandes forças e recursos, ainda estamos distantes da verdadeira fraternidade que deveria imperar nas relações entre os povos.
Bilionários de Manhattan, países ricos e de elevado equilíbrio social, esquecem-se da imensidão de miseráveis espalhados pelo planeta Terra, como se somente a sua família fosse importante.
De 2057 não passará
Em brilhante artigo publicado pelo jornal O Clarim, de junho de 2021, o escritor Luiz Eduardo Martins Ferreira relembra que o homem não tem condições de impor seu calendário a Deus. Sua intenção foi lembrar que estamos em fase de transição para o mundo de regeneração, não nos cabendo, todavia, marcar datas exatas, sendo de nossa responsabilidade viabilizar esse progresso.
Concordo com o autor do artigo, pois o tempo referido seria insuficiente para chegarmos ao fim da era de expiações e provas.
O que é o Índice Dow Jones?
Dow Jones Industrial Average (DJIA) é um dos principais indicadores dos movimentos do mercado americano, criado em 1896. Seu cálculo é baseado na cotação das ações de trinta das maiores e mais importantes empresas dos Estados Unidos. As que compõem o índice DJIA são ocasionalmente substituídas para acompanhar as mudanças do mercado. De todas as que compunham o DJIA inicial, somente a General Electric permanece atualmente. Em 1999, a Intel e a Microsoft começaram a compor o índice e posteriormente foram adicionadas a Cisco e a Apple, as primeiras que negociam seus papéis na Bolsa de Valores NASDAQ (empresas de tecnologia). As demais comercializam seus papéis na Bolsa de Valores de Nova Iorque.
O que é o Dow Jones Sustainability Index World?
Em 1999, grande grupo de empresários, inconformados com atitudes egoísticas, preconceituosas, egocêntricas e de agressão ao meio ambiente, criaram o primeiro indicador da performance financeira de empresas líderes em sustentabilidade global.
De repente, os donos do poder financeiro acordaram e passaram a se preocupar com a opressão contra os mais fracos, com a ganância dos poderosos, com os direitos humanos, com o ambiente e com o social.
Seleto grupo fechado, composto de 300 empresas, atualmente catalisa os grandes investimentos de Wall Street, não somente pelos lucros que suas atividades econômicas produzem. Investidores passaram a ter elevada consideração com os cuidados que elas têm com seus funcionários, com os direitos humanos das populações mais humildes, com a proteção ao meio ambiente e com o respeito que as nações mais pobres merecem, para que viabilizem seu progresso e sobrevivência.
Luzes novas estão surgindo no horizonte com esse selo de garantia da sustentabilidade, criado pelos donos do dinheiro.
Contrariando o pessimismo do filme Assim Caminha a Humanidade, lúcidas instituições começam a se contrapor às tendências egoísticas, preconceituosas e egocêntricas, que ainda grassam livremente pelas sociedades terrestres.
Chegamos ao mundo de regeneração?
Infelizmente, esses nobres movimentos ainda são incipientes, diante das avassaladoras opressões sofridas pelos mais fracos.
Além disso, o egoísmo, a vaidade e o orgulho, que caracterizam o nosso planeta de expiações e provas, não têm predileção por cor, raça, nível social, intelectual, físico ou financeiro. A maioria de nós ainda precisa do cabresto curto e das esporas da dor, para aprumar seus passos na jornada terrestre, independentemente do time a que pertença.
O curto prazo de pouco mais de trinta anos — minha opinião pessoal — não será suficiente para que o processo do mundo de regeneração se intensifique, carecendo de mais alguns séculos para que se complete.
Motivos para o regozijo
Quero encerrar esta reflexão pedindo licença ao escritor Cássio Leonardo Carrara, para utilizar texto contido em seu livro Entrelinhas, em que resgata atitudes que precisamos assumir para fazer a diferença no mundo.
— Bondade e gentileza não são virtudes que possamos exigir dos governos, cobrar das autoridades, para que a população seja beneficiada. Não! Tais atitudes precisam ser incorporadas pela humanidade em caráter coletivo.
E o jovem articulista da Casa Editora O Clarim, seguindo a verve e a lucidez do mestre Cairbar Schutel, nos oferece preciosas razões para acreditar que nada está perdido e que os bons representam a maioria da população terrestre:
Para cada pessoa dizendo que tudo vai piorar, existem cem casais planejando ter filhos.
Para cada corrupto existem oito mil doadores de sangue.
Enquanto alguns destroem o meio ambiente, 98% das latinhas de alumínio já são recicladas no Brasil.
Para cada tanque fabricado no mundo, são feitos cento e trinta e um mil bichos de pelúcia.
Na Internet, a palavra amor tem mais resultados do que a palavra medo.
Para cada muro que existe no mundo, se colocam duzentos mil tapetes escritos “bem-vindo”.
Enquanto um cientista desenha uma nova arma, há um milhão de mães fazendo pastéis de chocolate.
Existem razões para acreditar. Os bons são maioria.
Por que o mal ainda predomina na Terra?
A essa questão (932), feita por Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, respondem os mentores:
É pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e ,audaciosos, os bons são tímidos. Quantos estes últimos quiserem, dominarão.
REFERÊNCIAS: Entrelinhas, Cássio Leonardo Carrara; Wikipédia, a enciclopédia livre: Dow Jones
Sustainability Index World; O Livro dos Espíritos, Allan Kardec; Site www.adorocinema.com; Modinha
para Gabriela, Dorival Caymmi; A 2056 chegarás; de 2057 não passarás, artigo de Luiz Eduardo
Martins Ferreira, publicado pelo Jornal O Clarim, junho/2021.