Nossas Obras ficam Conosco -Sidney Fernandes – 

NOSSAS OBRAS FICAM CONOSCO
Sidney Fernandes – 


Quando se fala em holocausto, logo nos lembramos dos seis milhões de judeus que pereceram na segunda guerra mundial.
Poucos, no entanto, conhecem o genocídio ocorrido na África, no início do século XX, quando duas tribos, a dos namaquas e a dos
hererós, foram quase dizimadas.
Na chamada Partilha da África, ocorrida no final do século XIX, nações europeias ditas civilizadas invadiram várias regiões em busca de riquezas e terras. O território onde se encontra hoje a Namíbia foi invadido e saqueado pelos alemães, que quase exterminaram a população nativa das tribos hererós e namaquas.
Os ventos da Ilha Shark, um dos campos de extermínio de africanos, sopraram e desenterraram milhares de crânios e ossadas, revelando o triste genocídio, até então oficialmente desconhecido da população terrestre.
Iniciaram-se, a partir daí, movimentos, que continuam nos tempos atuais, no sentido de se obter um formal pedido de desculpas do invasor e as devidas indenizações para os descendentes dos nativos que sofreram essas violências.
Alguns estudiosos entendem que o grande holocausto dos judeus foi planejado com base nas experiências com os genocídios dos africanos e dos armênios, ambos no início do século XX, em que exército e governo alemão também estiveram envolvidos.
Os atuais jovens alemães envergonham-se das barbaridades cometidas por seus ancestrais, principalmente pela motivação racista com que seus antepassados pretendiam explicar seus crimes, que poderia ser resumida na frase com que a Alemanha tentava justificar-se, ao dizer que os nativos não poderiam ser protegidos pela Convenção de Genebra porque eles não eram humanos de verdade, mas subumanos.
No livro Herdeiros de Nós Mesmos, de minha autoria, além de chamar a atenção para mais essa atrocidade, focalizo o assunto sobre o aspecto espiritual, mostrando as providências da espiritualidade em relação às vítimas e aos verdugos do primeiro genocídio do século XX.
O que acontece, após a morte, com os protagonistas desses crimes contra a humanidade? Quem conhece um pouco da lei de causa e efeito pode deduzir o que ocorre com os autores. Sabe que, mais cedo ou mais tarde, eles deverão acertar suas contas com a justiça divina.
E com as vítimas? Algumas perdoam e prosseguem com sua jornada evolutiva. Outras, conservam-se imantadas aos vilões, infiltram-se em suas raízes, com a finalidade de lhes provocar os mesmos medos, as mesmas dores e as mesmas humilhações que lhes foram infligidas.
Resolvem fazer justiça com as próprias mãos e se tornam, ao mesmo tempo, vítimas e justiceiros. Esse lamentável e recorrente círculo vicioso acarreta agravamento de suas situações espirituais.
É impossível permanecer no erro e na ociosidade. Quando não ouvimos os conselhos de nossos protetores espirituais, prorrogamos, por tempo indeterminado, o retorno ao equilíbrio e à normalidade. Apressa-te, pois, visto que cada dia de demora é um dia perdido para a tua felicidade, ensina Allan Kardec.
Diante das incertezas, das dores, das perseguições e das dúvidas que permeiam nossas vidas — pois, de alguma forma, ainda somos vítimas, verdugos ou ambos —, atentemos para este precioso esclarecimento:
A Bondade Divina nos assiste, de múltiplas maneiras, amparando-nos o reajustamento, mas em todos os lugares viveremos jungidos às consequências dos próprios atos, de vez que somos herdeiros de nossas próprias obras. Nossas obras ficam conosco. Somos herdeiros de nós mesmos.
André Luiz (Entre a Terra e o Céu)