O AMOR SAIU DE MODA?
- Sidney Fernandes
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
Paulo, Coríntios 13:1
Basta observarmos um orquidófilo para logo sentirmos empatia por ele.
Trata da planta com respeito. Conversa com ela na certeza de que é ouvido, dá atenção especial às menos desenvolvidas, permeando suas ações com grande carinho.
No filme Rio, do brasileiro Carlos Saldanha, a personagem Linda encontra um filhote de ararinha-azul abandonado.
Graças aos seus cuidados, o animal sobrevive, desenvolve-se e torna-se seu melhor amigo. Uma relação de carinho, confiança e muito afeto.
A égua que monto, gosto de seu jeitinho. Abraçada ao meu pescoço, engole meus medos. Trouxe-me a esperança de dias melhores. Eu que
pensava que só amava cachorros e gatos, me descubro apaixonada pelos cavalos, por sua existência, minha doce Nina.
A declaração de amor acima foi dedicada por uma jovem à égua Nininha, que lhe trouxe de volta a felicidade nos dias de equoterapia.
Diz o lendário escritor norteamericano Dale Carnegie que não existe maior demonstração de simpatia e amizade do que o sorriso de um cão, ao receber seu dono, ou mesmo um desconhecido, com o abanar de sua cauda.
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De fato, vemos nas relações dos homens com plantas e animais inúmeras manifestações de amor. E elas são compreensíveis e dignas de serem
imitadas. E com gente, acontece a mesma coisa?
Infelizmente, se bem observarmos as relações entre humanos, nem sempre encontramos esses mesmos sentimentos.
Por paradoxal que pareça, aproximações amorosas entre pessoas ocorrem muito menos em razão do verdadeiro afeto e muito mais pela atração física.
Nos tempos atuais, há quase que um total alheamento ao que mais interessa:
o amor. O namoro hoje começa no motel.
Os casamentos destituídos de afeto não chegam a durar, em alguns casos, mais do que dois anos.
Fazer amor deixou de representar a corte, a aproximação e a solidificação de afetos. Virou paixão mesmo, puro sexo.
E nós sabemos que o sexo, muito importante nas relações entre pessoas, é apenas parte do amor.
Um comercial de veículo da televisão brasileira mostra três representantes dos machistas de plantão na disputa de quem pegou mais garotas
numa festa.
Recentemente saiu de cartaz um filme nacional com um sugestivo título que aborda nua e cruamente como são hoje os relacionamentos. Apenas um jogo em que vence o que faz mais sexo.
E se alguém achar que o romantismo deixou de ser preocupação apenas no meio masculino, vejam a letra desta música intitulada Garota safada:
E daí? Se eu quiser farrear, tomar todas num bar, sair para namorar. O que é que tem? Foi você quem falou, que a paixão acabou, que eu me lembre eu não sou de ninguém.
Não, caro leitor, não estou apresentando quixotesca defesa do puritanismo e do moralismo social.
Chamo atenção apenas para a vulgarização das relações entre as criaturas, destituindo-as dos seus mais poderosos elementos.
Agregar carinho, confiança, afeto, respeito e alegria de convivência, só pode resultar na feliz combinação do verdadeiro amor, em sua construção permanente.
E sem querer ser mais piegas e brega do que até agora fui neste texto, valho-me dos versos do mais extraordinário defensor do amor:
Eu sou aquele amante à moda antiga, do tipo que ainda manda flores;
Apesar do velho tênis e da calça desbotada, ainda chamo de querida a namorada (Roberto Carlos, Amante à moda antiga).
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Lembremo-nos sempre da recomendação de André Luiz, contida no livro Sinal Verde, de que, em matéria de felicidade convém não esquecer de que nos transformamos naquilo que amamos.