O Anel de Giges -Sidney Fernandes - 

O ANEL DE GIGES
Sidney Fernandes - 


Vigiai e orai, para que não entreis em tentação.
Mateus, 26:41
Um jovem entra numa loja de roupas maravilhosas e encanta-se com uma peça. Não pode comprá-la, pois não tem dinheiro. O intenso desejo que tem de possuir aquele bem lhe traz ideias não muito dignas. Ele é contido pela vigilância eletrônica e pelo medo de se comprometer.
A cena que acabamos de imaginar não representa, certamente, um modelo de virtudes. Não se trata de honestidade e sim de precaução. Ali não existe moral, somente prudência.
Imaginemos que aquele jovem tivesse o célebre Anel de Giges. Ainda assim ele conseguiria conter o seu ímpeto de furtar a roupa? Giges é um personagem de Platão que encontra, por acaso, uma caverna onde jaz um cadáver que usava um anel. Quando Giges enfia o anel no próprio dedo, descobre que esse o torna invisível.
A partir daí, não havendo mais vigilância ou testemunhas, Giges, que era tido como um homem honesto, passa a praticar más ações. Seduz a rainha, mata o rei e toma posse do reino.
Essa história levanta uma indagação moral: algum homem seria capaz de resistir à tentação se soubesse que seus atos não seriam reprimidos?
Examinemos, inicialmente, algumas orientações oriundas de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, sobre a moral.
Alguns Espíritos já trazem de vidas passadas a astúcia, a deslealdade, a traição, o pendor para o roubo e até para o assassínio. Outros são colocados em ambientes propícios, onde possam lutar contra esses maus instintos.
Além do ambiente, certos tipos de provação oferecem arrastamentos muito semelhantes ao da invisibilidade do Anel de Giges.
Todos se deixam seduzir pelo dinheiro? Depende do seu caráter, advertem os Espíritos superiores. Uns se tornam avaros, outros pródigos, alguns pendem para o egoísmo e outros, ainda, se distinguem por sua generosidade O poder, o dinheiro, a fama ou a posição social não
conferem ao homem uma espécie de invisibilidade? Não o poupa de muitas inconveniências? Não obstante, diante das mesmas
circunstâncias, muitas criaturas se comportam, mantêm sua  dignidade e vencem essas provações.
Como venceram? Tiveram bom ambiente e boa educação em sua infância ou simplesmente são Espíritos que desde cedo tomaram um caminho que agora os exime de muitas provas?
Há, infelizmente, uma grande maioria que, com ou sem o Anel de Giges, se deixa arrastar para o mau caminho.
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Quando desencarnamos não ficamos invisíveis? Como agem os Espíritos quando se desligam de seus corpos? A vida verdadeira é a espiritual. Com a morte, o Espírito retorna ao mundo a que realmente pertence e do qual se afastou momentaneamente. Mantém a sua individualidade, bem como a aparência de sua última encarnação, em seu perispírito.
Perante a ética passamos por alguns estágios. No primeiro momento, cumprimos regras sociais e morais, por medo. O passo seguinte é o do dever de cumprir regras, por educação e consciência. O estágio final é o vivido por criaturas que já venceram o mal e somente pensam e agem no bem, que já se lhes tornou um hábito. Para essas pessoas, o bem constitui a regra, e uma só intenção maligna seria monstruosa exceção.
A invisibilidade de Giges ou dos desencarnados pode trazer momentâneo, porém fugaz, poder, mas nunca a impunidade.
Permanece a nossa responsabilidade de Espíritos em evolução