O FUTURO E OS ANJOS
Sidney Fernandes
Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. João, 15:26
Letícia sonhava com um anjo. O engraçado, porém, é que ele não tinha asas. E pedia a sua ajuda. Estava prestes a ser promovido na escala dos anjos, mas precisava executar uma grande tarefa, que lhe desse o mérito de ter suas asas.
Ao acordar, Letícia tinha perfeita impressão de que não fora um simples sonho. Encontrara-se realmente com um anjo, que iria guiá-la para uma missão importante.
Letícia era uma boa menina. Seus pais sempre se esmeraram em sua educação. Já não ocorria o mesmo com um grupo de amigas que se aproximavam, perigosamente, de desvios muito sérios. Será que a missão do anjo e de Letícia tinha a ver com os perigos que corriam suas amigas? Com certeza tinha muito a ver.
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Sob o título de Conto de Natal, o jornal francês Avenir National, de 26 de dezembro de 1866, publicou o seguinte texto, de autoria de Taxile Delort, reproduzido pela Revista Espírita, de março de 1867, por Allan Kardec:
Um jornalista, sentado, na véspera do Natal, ao pé do fogo, perguntava-se em que se havia tornado a Boa Nova que os anjos, em tal dia, tinham vindo anunciar ao mundo há dois mil anos.
Entregando-se às suas reflexões, o jornalista ouviu uma voz firme e doce que, entre outras coisas, lhe disse:
— O progresso é invencível. Ele se serve até dos que lhe resistem para avançar.
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Hoje, como ontem, se também nos entregássemos às nossas reflexões, fatalmente teríamos que lamentar a atual situação do nosso planeta, envolto por preconceitos, agressões, desentendimentos, desigualdades sociais, corrupções, desrespeito à natureza e descaso para com a ignorância e a miséria.
— Outro virá mais tarde, que vos ensinará o que agora não posso ensinar.
Dirigindo-se aos apóstolos, Jesus confirmava a sua grandiosa mensagem e acenava com a continuidade do progresso social que havia anunciado.
Teria passado por nossa mente, por um instante qualquer, ao nos defrontarmos com as intempéries morais com que atualmente convivemos, que os anjos tivessem se enganado em sua anunciação, ou que Jesus teria postergado, para tempo indeterminado, a vinda do outro que nos ensinará o que ele não pôde ensinar?
Se observarmos, porém, com o cuidado devido o que o Espiritismo tem a nos dizer, veremos, nesse exato momento, que o consolador prometido já previa todos os fatos momentosos por que passamos.
Tal é o período no qual vamos entrar a partir de agora, o qual marcará uma das fases principais da humanidade. Esta fase, que se elabora neste momento, é o complemento necessário da etapa precedente...
Porém uma mudança tão radical como a que se elabora, não pode realizar-se sem comoção...
Em A Gênese, de Allan Kardec, encontramos a previsão do que agora já está acontecendo, do que está para acontecer e que comportamento a espiritualidade espera de todos nós.
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De uma forma geral, os homens que pensam e refletem como o jornalista de Taxile Delort, estão com as mesmas dúvidas e incertezas de Letícia. O que virá pela frente? Qual será o destino da humanidade? As promessas do Cristo foram em vão ou serão cumpridas?
Não estamos vagando, ao léu, nem entregues à própria sorte.
O piloto está firme no leme! Cabe-nos entender o script e atuar de acordo com as expectativas dos planejamentos espirituais.
Quem quer que haja meditado sobre o Espiritismo e suas consequências e não o circunscreva à produção de alguns fenômenos terá compreendido que ele abre à Humanidade uma estrada nova e lhe desvenda os horizontes do infinito.
A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social.
Nossa principal profissão é sempre a esperança! Mais do que isso, temos absoluta convicção de que são perfeitamente justificadas as expectativas de um mundo melhor.
É preciso, no entanto, como diria meu avô, colocar as barbas de molho:
Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem.
Como ficamos? Os anjos estarão conosco? Faremos jus ao futuro promissor anunciado por Jesus e confirmado pela Doutrina Espírita? Faremos parte da nova geração de Espíritos que herdarão a Terra?
Sim, desde que efetivamente persistamos no esforço de transformação de nossos espíritos e nos mantenhamos com a disposição para melhor, sempre haverá renovação.
Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de injusto pode querer; que não dele, porém dos homens vem o mal, todos se considerarão filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros.
Fontes consultadas: Revista Espírita, março de 1867 e A Gênese, de Allan Kardec