O MENINO DELANNE
- Sidney Fernandes
(Gabriel Delanne 23/3/1857 - 15/2/1926)
Um dia se encontrava com uma pessoa de suas relações e brincava no pátio da casa com sua priminha, de cinco anos, dois meninos, um de sete, outro de quatro anos. Uma senhora que morava no térreo os compeliu a entrar em sua casa e lhes deu bombons. As crianças, como se pode imaginar, não se fizeram rogadas.
A senhora perguntou ao filho do Sr. Delanne:
P. – Como te chamas, meu filho?
Resp. – Eu me chamo Gabriel, senhora.
P. – Que faz teu pai?
Resp. – Senhora, meu pai é espírita.
P. – Não conheço esta profissão.
Resp. – Mas, senhora, não é uma profissão. Meu pai não é
pago para isto; ele o faz com desinteresse e para fazer o bem aos
homens.
P. – Menino, não sei o que queres dizer.
Resp. – Como! Jamais ouvistes falar das mesas girantes?
P. – Muito bem, meu amigo, gostaria que teu pai estivesse
aqui para as fazer girar.
Resp. – É inútil, senhora; eu mesmo tenho o poder de as
fazer girar.
P. – Então, queres experimentar e me fazer ver como se
procede?
Resp. – Com muito gosto, senhora.
Dito isto, ele se senta ao pé da mesinha da sala e faz sentar os seus três amiguinhos; e eis os quatro, gravemente pondo as mãos em cima. Gabriel fez uma evocação em tom muito sério e com recolhimento. Mal terminou e, para grande estupefação da senhora e das crianças, a mesinha ergueu-se e bateu com força.
– Perguntai, senhora, quem vem responder pela mesa.
A vizinha interroga e a mesa soletra as palavras: — Teu pai.
A mulher torna-se pálida de emoção. E continua:
– Pois bem! Dize, meu pai, se devo enviar a carta que acabo de escrever?
A mesa responde: – Sim, sem falta.
– Para provar que realmente és tu, meu pai, que estás aqui, poderias dizer-me há quantos anos estás morto?
Logo a mesa bate oito pancadas bem acentuadas. Era justamente o número de anos.
– Poderias dizer o teu nome e o da cidade em que morreste?
A mesa soletra os dois nomes.
As lágrimas jorraram dos olhos daquela senhora, que, consternada por esta revelação e dominada pela emoção, não pôde mais continuar.
"O menino Gabriel Delanne aos oito anos de idade"
Revista Espírita publicada por Allan Kardec em Outubro de 1865
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Embora transcorridos mais de cem anos de sua publicação, este diálogo, que parcialmente extraímos do texto original de Allan Kardec, é mais atual do que nunca.
Principalmente por se tratar de manifestação produzida através de uma criança de oito anos de idade - François-Marie-Gabriel Delanne, filho de Alexandre Delanne, que era amigo íntimo e gozava da confiança e do respeito de Allan Kardec -, quedam-se as suspeitas de preparação, ideias preconcebidas, charlatanismo e acaso.
Nos tempos atuais, a comunicabilidade com os chamados mortos está sendo profusamente veiculada pela mídia, dado o interesse e a curiosidade das pessoas em geral, sejam elas espíritas ou não.
Para se esclarecer, todavia, totalmente a questão da existência da alma e sua comunicabilidade com os homens encarnados, será necessário, como afirmaria Gabriel Delanne, abandonarmos o terreno das discussões e partirmos para a observação e para a experiência.
O Espiritismo vem trazer as respostas definitivas sobre essas questões, mostrando que as relações entre vivos e mortos se realizam sob as mais variadas formas.
Passados os tempos difíceis da codificação e dos sucessores de Allan Kardec, pode-se afirmar agora que a materialidade dos fatos não é mais contestável. E a grandiosidade da obra de Francisco Cândido Xavier é a prova cabal dessa realidade.
E veremos - como diria o Professor Hernani Guimarães Andrade - daqui a mais alguns anos, a comprovação dessa ideia, através da ciência oficial.
São fatos naturais que mexem com os homens e os fazem pensar na grandiosidade das leis divinas, que deverão ser observadas por todos os habitantes da Terra, através dos homens ou apesar dos homens.
E por vias paralelas às espíritas, chegarão às mesmas conclusões esclarecedoras e consoladoras a que chegou o Mestre francês Allan Kardec, que impulsionarão definitivamente a humanidade no seu verdadeiro caminho