O Mistério de Charles Dickens -Sidney Fernandes

O MISTÉRIO DE CHARLES DICKENS
Sidney Fernandes


Tarefas inacabadas
Charles John Hufam Dickens foi um dos mais populares e prolíferos escritores ingleses. Nasceu e viveu no século XIX, mas seus romances e contos são tão apreciados, que até hoje são adaptados para o teatro, cinema e televisão. Tamanha produtividade, no entanto, teria um preço: uma de suas obras ficou inacabada.
Pedro Bial, jornalista e apresentador brasileiro, falou sobre isso. Depois de assistir às imagens do velório de Bussunda, um dos humoristas do Casseta & Planeta, fez algumas reflexões. Em crônica que escreveu, apresenta supostas situações que podem ser interrompidas de uma hora para a outra. Um compromisso marcado, um tratamento em curso, um livro não terminado....
Yvonne A. Pereira
Reporto-me a esse assunto depois de ler brilhante texto da grande médium Yvonne do Amaral Pereira1 sobre o livro O mistério de Edwin Drood, de Charles Dickens, que não foi concluído pelo autor. Um jovem norte-americano, que nunca havia lido a primeira parte dessa obra — que mesmo incompleta havia sido publicada — deulhe sequência do ponto deixado pelo autor e a concluiu. Quem lê-la, não perceberá onde
parou a obra pessoal de Dickens e onde começa a mediúnica. Valendo-se da magnífica faculdade psicográfica do jovem médium, o próprio escritor veio terminá-la.
Alexandre Aksakof
O instrumento norte-americano escolhido pelo espírito Charles Dickens, sem ser um ignorante, também não era douto para se poder ombrear nos conhecimentos da arte literária com um vulto da categoria intelectual do ilustre escritor inglês.
Dona Yvonne cita ainda, em seu artigo, textos de Alexandre Aksakof2, grande pesquisador russo dos fenômenos espíritas do século XIX, que comenta a continuidade da obra de Dickens:
Ao se espalhar o boato de que o romance de Dickens ia ser terminado por esse extraordinário e insólito processo, o “Springfield Daily Union” expediu um dos seus colaboradores para Brattleborugh (Vermont), onde habitava o médium, para fazer uma investigação, no local, de todos os pormenores dessa estranha empresa literária.
Animismo e Espiritismo
Essa reportagem forneceu trechos que Sr. Aksakof transcreveu em seu livro Animismo e Espiritismo:
Ele, o médium, nasceu em Boston; aos 14 anos foi colocado como aprendiz em casa de um mecânico, ofício que até hoje exerce, de maneira que sua instrução escolar terminou na idade de 13 anos. Se bem não fosse nem destituído de inteligência, nem iletrado, não manifestava qualquer gosto pela literatura e nunca se tinha interessado por ela. Até então, nunca tinha experimentado publicar, em qualquer jornal, o menor artigo. Tal é o homem de quem Charles Dickens lançou mão da pena para continuar “The mystery of Edwin Drood”.
O médium
Ao homem que pensa, podem surgir preocupações com suas tarefas, caso venha a deixar abruptamente a existência. Aksakof informa que Dickens tinha procurado por longo tempo alguém que pudesse concluir seu livro, mas, que, até aquele momento, não havia encontrado médium apto para a tarefa. Em breve tornou-se evidente que o texto era de Dickens e o médium aceitou de boa vontade dedicar-se àquele trabalho. Cada personagem do livro continua vivo e tão bem caracterizado na segunda parte, como na primeira. Surgem novos personagens, marca registrada de Dickens, que tinha o hábito de introduzir novos atores até as últimas cenas de suas criações.
— O escritor — descreve o médium — está sentado a meu lado, com a cabeça apoiada nas mãos, imerso em profunda meditação, com expressão séria, pouco melancólica, no rosto; não diz palavra, mas lança às vezes para mim um olhar penetrante e sugestivo. Oh! Que olhar.
Para indicar que a sessão de psicografia chegava ao fim, o espírito pousava sua mão fria e pesada sobre a mão do médium.
Continuidade da vida

O estilo, a verve e o talento de Dickens estão de volta. O fato destacado por Dona Yvonne Pereira e por Alexandre Aksakof é uma incontestável comprovação da continuidade da vida e de que nossos talentos e aquisições morais são preservados além da existência física.
Finaliza a inesquecível médium:
O caso de que fala Aksakof é um estímulo para os médiuns em geral e para os jovens candidatos à mediunidade em particular. Lendo todo o trecho exposto no livro, compreenderemos não ser impossível se repita, algum dia, nas plagas brasileiras, fato semelhante ao que se passou com o romance de Dickens.

Referências:
1 PEREIRA, Yvonne A. À luz do Consolador. 4. Ed. Setembro de 2016. FEB.
2 AKSAKOF, Alexandre. Animismo e Espiritismo. Edição original francesa em
1895. P.G. Leymarie.