O OBJETIVO MAIS IMPORTANTE
Sidney Fernandes –
Há espíritas dedicados ao fenômeno mediúnico, que levam consolo a desencarnados, auxiliam nos processos obsessivos e recebem preciosas orientações dos mentores espirituais. Alguns desses irmãos encontram tempo para a leitura de livros espíritas, ouvir ou proferir palestras, motivam-se para divulgar a Doutrina Espírita e a desenvolver obras sociais.
São valiosos trabalhadores do bem que, além da prática mediúnica, despertam para o serviço da filantropia e o estudo do Espiritismo. Muitos desses conseguem ver, além dos fatos e da necessidade do atendimento social, o alcance filosófico da doutrina dos Espíritos e a moral de Jesus decorrente do seu aspecto religioso.
Normalmente, as pessoas aproximam-se da mediunidade ou do trabalho filantrópico por estar sofrendo e tentam entabular uma espécie de negociação com a espiritualidade:
— Se eu me dedicar ao contato com espíritos e ajudá-los, ou se eu me esforçar no trabalho em uma creche ou visitar hospitais, conseguirei minimizar meus sofrimentos.
Não estranhe, caro leitor. No início é assim mesmo. Somos seres egoístas, estamos preocupados com nosso bem-estar e herdamos de nossos ancestrais essa tendência de comercialização com a divindade, na base de sacrifícios, cilícios e promessas.
Com o tempo, deixamos de fazer o bem por interesse e passamos a praticá-lo por dever. É muito comum encontrar irmãos de várias filosofias e religiões dedicando-se ao próximo simplesmente por dever de cidadania ou de consciência. E lá na frente, depois um certo tempo, passam a agir porque lhes apraz a felicidade do próximo. Começam a trabalhar por amor, por considerar o próximo o seu irmão.
Em que estágio estamos? Daqueles que se dedicam exclusivamente ao fenômeno mediúnico? Ou já despertamos para o estudo e para o trabalho social? Ajudamos o semelhante somente para atender nossas necessidades, ou já praticamos o bem por dever e daqui a pouco estaremos trabalhando por amor ao semelhante?
Importante considerar que não basta admirar a moral e sim exercitá-la e aceitar suas consequências.
De que importa crer nos espíritos se isso não nos torna melhores?
De que importa praticar a filantropia se isso não nos torna mais benignos, mais indulgentes, mais humildes e pacientes?
De que importa admirar a lógica e o alcance da Doutrina Espírita sem praticá-la?
De que importa visitar enfermos, prisões e albergues, se não conseguimos superar o orgulho, a vaidade e o egoísmo?
Adverte André Luiz que o espírita deve tornar-se progressivamente melhor e, periodicamente, deve fazer autoexame, para verificar a sua verdadeira situação íntima.
— Espírita que não progride durante três anos sucessivos permanece estacionário — adverte o nobre espírito.
Eis algumas perguntas sugeridas por ele, a fim de que possamos analisar o próprio progresso:
— Estou mais calmo? Como está o clima dentro do meu lar?
Trago o Evangelho mais vivo em meu coração? Tenho disposição para servir? Estou mais livre do apego às posses terrestres? Uso mais os pronomes “nós” e “nosso”? Meus instantes de cólera e tristeza estão mais raros? Superei meus remorsos? Não tenho mais inimigos? Estou estudando mais a Doutrina Espírita? Entendo melhor a dor? Tenho orado realmente? Minha fé está mais consolidada?
Temos que nos convencer definitivamente de que nossa passagem pela Terra é curta, se compararmos com a vida verdadeira, a da espiritualidade, e de que devemos nos concentrar na transformação moral e na vitória sobre as más tendências.
De outra forma, nunca deixaremos o noviciado dos primeiros aprendizados e jamais pertenceremos à categoria dos verdadeiros
espíritas, aqueles que efetivamente consideram a moral cristã como o objetivo mais importante de suas vidas.