O Perispírito -Sidney Fernandes –

O PERISPÍRITO

Sidney Fernandes –


Inexpugnável posição do Espiritismo

Imaginemos que um homem possui uma máquina que, com o passar do tempo, tem suas peças velhas substituídas por peças novas. Mas, então, esse mesmo homem se utiliza das peças velhas para fazer outra máquina. Qual das duas é a autêntica? A velha, restaurada com as peças novas? Ou a nova, construída com as peças velhas?
Embora a metáfora seja pobre, o que se pretende é imaginar se o corpo humano, com o tempo, pode ser integral ou parcialmente reconstruído. No caso da máquina, não há dúvida quanto ao elemento organizante: a mente do homem, que contém a matriz capaz de direcionar tanto a restauração, quanto a nova criação. E no caso do corpo humano, como isso funciona?
Uma das descobertas mais significativas dos anos cinquenta foi a constatação de que o corpo humano tem a capacidade de destruir-se e renovar-se constantemente. Em média, 98% dos átomos presentes no interior das moléculas que compõem as células do corpo humano são renovados anualmente através do ar, dos alimentos e dos líquidos que consumimos.
Embora os cientistas já soubessem que a pele, o cabelo e o sangue são substituídos continuamente, a novidade surgiu depois que o Karolinska Institutet, da Suécia, desenvolveu estudo baseado na medição do carbono-14 e descobriu que as células se refazem periodicamente. Em outras palavras, a recauchutagem celular é muito mais ampla do que se imaginava e ocorre num intervalo de 7 a 10 anos, num ciclo constante, no qual as células vão envelhecendo e morrendo, sendo substituídas por outras novas.
A exceção seriam as células nervosas do cérebro, que se manteriam as mesmas por toda a vida. Recentemente, no entanto, a neurocientista Sandrine Thuret, do King’s College de Londres, afirmou, com contundência, que os neurônios fundamentais para os processos de aprendizagem e memória continuam sendo gerados durante toda a vida. E mais, afirma que esses processos podem ser reforçados adotando-se hábitos de vida saudáveis. Diga-se de passagem que nenhum dos cientistas, mesmo os discordantes dessa tese de renovação, sequer sugeriu a possibilidade de que essas moléculas possam reconstruir-se a si mesmas, nem mesmo pelas células nervosas do cérebro, que alguns consideram como imutáveis, isto é, segundo eles, que se manteriam as mesmas por toda a vida.
Quando reencontramos uma pessoa que não víamos há seis meses, não a reconhecemos imediatamente? Mesmo assim, tem-se como verdade incontestavelmente aceita pela ciência que todas as proteínas que compõem sua fisionomia não são mais as mesmas da última ocasião que a vimos.
Nesse momento, depois de milhares de estudos em torno do assunto, cientistas teriam chegado a um impasse. Se cada ser humano se reinventa totalmente (ou quase totalmente, dependendo da linha científica adotada) a cada determinado período, torna-se indispensável a existência de um mecanismo de controle, para que esse ser se mantenha o mesmo, ou pelo menos, com a mesma forma.
E mais. Esse mecanismo de controle precisa estar fora do corpo físico e não pode estar sujeito a qualquer mutação, renovação ou recauchutagem, ou não teria a estabilidade de manutenção da matriz original. Ou seja, o homem nasceu como nasceu, e se mantém o mesmo, graças a algum campo magnético, que se situa fora do mecanismo em constante mudança, pois, de outra forma, perderia a sua capacidade de restauração.
Cientistas sérios e independentes, estão chegando à conclusão de que o homem não é fruto da casualidade e que ele depende, para seu crescimento, manutenção e existência, de um campo invisível, intangível e organizante. E tudo que se organiza naturalmente não pode ser fruto do acaso.
A descoberta, pela ciência, dos anos cinquenta até o presente, desse campo invisível, intangível e organizante, não é coisa nova e já foi objeto, segundo Hernani Guimarães Andrade1, das anotações de Platão, no diálogo denominado Fédon:
... o espírito que é o organizador e a causa de todas as coisas, teria dito Sócrates. Ou o próprio Hernani Guimarães Andrade:
Alguns estudiosos deste problema acham que, além da informação genética, deve haver um outro fator determinante dos processos que ocorrem na formação de um ser vivo. Este fator seria independente da matéria do ovo e mesmo do embrião, mas estaria ligado a eles durante as fases da evolução embriológica, bem como de todo indivíduo, orientando a correta disposição das substâncias geradas durante o processo. A este hipotético fator, capaz de orientar e manter a estruturação da forma de um ser vivo, dá-se a denominação de “modelo organizador biológico”.
***
Em 28 de agosto de 1976, o Dr. Martin Ruderfer, durante uma conferência no Instituto de Paraciência, em Londres, defendeu que a operação de pensar pode ser comparada à de um computador, cuja operação e estrutura já são de nosso conhecimento.
Dentro do jargão informático, nos computadores feitos pelo homem existem dois sistemas independentes: o hardware, que 1 Diálogos com Hernani Guimarães Andrade, Editora Didier, entrevista concedida a Divaldinho Mattos.
designa o sistema físico, mecânico ou eletrônico, que contém os dispositivos de processamento, e o software, que designa as instruções para aquilo que vai ser computado. Nos computadores, o software tem origem fora deles e é elaborado pelos operadores humanos.
Martin Ruderfer, após uma série de considerações, em que descreve o cérebro humano como um computador biológico, faz a seguinte indagação:
— Onde está o “software” do cérebro?
Segundo o seu ponto de vista, não existe suporte evidencial para que o software do cérebro humano possa se localizar dentro dele. Após uma série de considerações, defende a posição de que a suposição mais provável é a de que essa fonte de informações esteja fora do cérebro.
Alerta para o fato de que nenhuma máquina pode se autoorganizar e se autoprogramar e que isso, empírica e teoricamente, não foi demonstrado que possa acontecer com o cérebro humano.
— Existiria, então, algo mais, além do cérebro? — indagou Hernani Guimarães Andrade.
***
Parece que chegamos às mesmas conclusões do eminente psiquiatra, escritor, orador, cientista e filósofo Jorge Andréa dos
Santos:
Será que o campo material, o acaso de substâncias químicas, sozinhas, unindo-se para dirigir modelos fisiológicos perfeitos e precisos, pode ser a resposta para a vida?
Só um “campo energético” de possibilidades superiores poderia responder pelo impulso da vida. E não seria uma energética resultante de acumulações materiais em irradiações, mas, sim, um campo mais avançado transcendente, de qualidades energéticas específicas.
A Mente Move a Matéria, Hernani Guimarães Andrade.
Será nos lugares secretos do inconsciente ou zona espiritual que se encontra a chave do fenômeno da vida e dos seus respectivos e imensos impulsos? Obviamente! Quanto a isso não temos dúvidas.
***
A ciência começa a se aproximar do processo reencarnatório do personagem Segismundo, focalizado minuciosamente por André Luiz, no livro Missionários da Luz, a demonstrar que o reencarnante modela o seu novo corpo, por meio do perispírito. Ela está a um passo de admitir a existência de um modelo organizador biológico, uma substância vaporosa que envolve a alma, a eleva na atmosfera e a transporta para onde queira.
Com suas suposições e lucubrações, os cientistas estão prestes a admitir a existência de um elemento intermediário, o tal software do modelo de Ruderfer. Não é, esse corpo quintessenciado, o nosso velho conhecido, que Allan Kardec chamou de perispírito?
Segundo Hermínio Miranda5, a existência do perispírito vai se tornando uma necessidade científica, capaz de explicar os fenômenos que a biologia clássica ainda não consegue entender.
A cada dia que passa, estamos presenciando a confirmação científica dos princípios fundamentais do Espiritismo, que se mantém inexpugnável em suas posições.
***
E neste novo milênio saberemos penetrar nas razões espirituais através de pesquisas e verificações apropriadas e adequadas, mostrando muitos mistérios da vida e quais as suas finalidades6. (Jorge Andréa)
Revista Espírita Verdade e Luz, editada em Algés, Portugal.
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 93.
Nas Fronteiras do Além, Hermínio Miranda.
Revista Espírita Verdade e Luz, editada em Algés, Portugal.