O Segredo das Lágrimas -Sidney Fernandes - 

O SEGREDO DAS LÁGRIMAS
Sidney Fernandes - 


A nosologia é um ramo da medicina que estuda a classificação das doenças. Existe um percentual elevado, no entanto, de enfermidades sem causa aparente ou de etiologia obscura. Elas são chamadas de idiopáticas, termo que designa o que surge espontaneamente ou sem causa definida.
Isaac Asimov (1919-1920/1982), escritor e bioquímico americano, nascido na Rússia, em seu livro O Corpo Humano, classificou o termo idiopático como sendo pretensioso para ocultar a ignorância.
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Edileusa é portadora de polineuropatia axonal idiopática crônica, um distúrbio neurológico que se desenvolveu gradualmente, ao longo do tempo, com envolvimento motor e sensorial. Ela é totalmente dependente do marido, Osvaldo, que a trata com carinho, procura minimizar seu sofrimento de todas as formas possíveis e a ela se dedica em tempo quase integral.
Não obstante, por incrível que pareça, vivem relativamente bem. Osvaldo ainda encontra tempo, quando Edileusa está em repouso, para cooperar com um grupo religioso e uma instituição de assistência a crianças deficientes.
Em certa ocasião, quando as dores se tornaram mais agudas, Osvaldo me telefonou, pedindo que eu falasse com o famoso médium de cura, Paulo Neto, para que ele ministrasse, à distância, passe magnético em Edileusa. Solícito, como sempre, Paulo telefonou para o meu amigo, pedindo que aproximasse o telefone do ouvido da esposa e, em seguida, conversando mansamente com ela, aplicou-lhe a irradiação.
Mais tarde, Paulo me telefonou, dizendo:
— Edileusa precisa enxugar lágrimas!
A princípio não entendi e argumentei com Paulo as limitações da paciente. Ele insistiu, falando que alguma coisa útil ela ainda
poderia fazer.
Paulo Neto já atendeu milhares de pessoas e muitas delas tiveram suas dores suprimidas ou aliviadas. Por que essa insistência em sugerir que uma pessoa com extremas limitações passasse a enxugar lágrimas? Somente fui entendê-lo quando me contaram um caso ocorrido com Chico Xavier, que abaixo transcrevo resumidamente.
Certa feita, um rapaz muito inteligente aproximou-se de Chico e lhe pediu que consultasse o espírito guia Emmanuel, a respeito de seu caso. Explicou que desfrutava de excelente situação financeira, família e casa equilibradas e desenvolvia atividade mediúnica. Tinha, aparentemente, uma vida tranquila, mas faltava-lhe alguma coisa que não conseguia definir.
Após consultar o protetor espiritual, Chico passou a seguinte mensagem:
— Fale a ele, Chico, que o que lhe falta é a “alegria dos outros”! Ele vive sufocado com muitas coisas materiais. É necessário repartir, distribuir para o próximo... A alegria de repartir com os outros tem um poder superior, que proporciona a alegria de volta àquele que a distribui. É isto que está lhe fazendo falta, meu filho: a “alegria dos outros”.
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Que poder mágico é esse contido na alegria dos outros? Que segredo existe no enxugar lágrimas? Na longevidade de Chico Xavier talvez encontremos uma pista para as respostas que procuramos. Aos trancos e barrancos, isto é, sitiado por males diversos, o grande médium jamais esmoreceu, deu nova dimensão à mensagem da codificação e desencarnou com noventa e dois anos de idade.
O que dá força a Osvaldo para, não obstante o vale de lágrimas em que vive, encontrar tempo para ajudar os outros e encarar a vida
com alegria e otimismo?
Valer-me-ei de trecho de história que Richard Simonetti costumava contar, nas ocasiões natalinas.
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Numa igreja, três velas conversavam.
Disse a primeira:
— Eu sou a Paz. As pessoas não se empenham por manter-me acesa. Vivem tensas e nervosas. Negam-me o oxigênio da reflexão.
Disse a segunda:
— Eu sou a Fé. As pessoas não estão interessadas em dar um sentido religioso à existência. Negam-me o oxigênio da espiritualidade.
Disse a terceira:
— Eu sou o Amor! As pessoas ignoram-me porque só conseguem pensar nelas mesmas. Negam-me o oxigênio da solidariedade.
Em breves instantes, a luz que havia nelas bruxuleou e morreu.
Nesse instante, entrou um menino trazendo uma vela acesa, chama forte e firme. Com ela, reacendeu as três, que voltaram a refulgir. E
disse-lhes:
— Fiquem tranquilas. Ainda que os homens não lhes deem a devida sustentação, sempre virei reanimá-las.
Encerra Simonetti:
— Por isso é tão importante o mês de dezembro, em que somos visitados por celeste menino que traz uma vela muito especial, de chama poderosa. Com ela reacende as demais para que a paz, a fé e o amor renasçam em nós.
— O nome do menino, todos sabemos: Jesus. A vela sublime, maravilhosa, é a esperança.
— É por isso que nas comemorações do Natal nos sentimos mais tranquilos, mais inclinados à atividade religiosa, mais sensíveis aos apelos da solidariedade, convictos de que podemos construir um futuro melhor.
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Que a esperança trazida por Jesus, caro leitor, possa reacender a nossa fé e o nosso amor, trazendo de volta a paz que tanto nos faz falta. Não permitamos mais que os ventos da mágoa, da preguiça, da descrença, dos vícios e dos interesses materiais apaguem nossas frágeis chamas. Que o enxugar lágrimas e a alegria dos outros tornem-se constantes, para que nossas vidas sejam fiéis e produtivas, diante dos compromissos assumidos. Somente assim desfrutaremos, ainda que de modo relativo, de paz e felicidade.


Fontes consultadas: Redação do Momento Espírita e A Quarta Vela, de Richard Simonetti.