O TOMBO
Sidney Fernandes
Acidentes
Chico Xavier levou um tombo, caiu de costas e bateu com a cabeça no chão. Já estava pronto para reclamar, quando Emmanuel ordenou:
— Agradeça.
— Como?
— Agradeça.
Ainda no chão, Chico levantou um pouco a voz e acatou:
— Obrigado, muito obrigado.
A voz do amigo invisível decifrou o enigma:
— Se você se irritasse, emitiria vibrações quase iguais às deles e eles ficariam com mais força.
O tombo, segundo o amigo invisível, tinha sido provocado por espíritos de baixa vibração.
Este relato é de Marcel Souto Maior, em seu livro As vidas de Chico Xavier.
***
Assim que Helena começou a sentir a proximidade do parto, Maria Júlia, a mãe, foi lhe prestar assistência. Logo após o nascimento do bebê, ela assumiu as atividades da casa e passou a auxiliar nos cuidados do neto.
Numa das operações de limpeza, quando transportava o lixo, escorregou, caiu e fraturou gravemente o joelho. No auge de suas dores, Maria Júlia logo imaginou que, talvez, algum espírito inferior a tivesse derrubado, com o objetivo de atingir toda a família.
Correções
Com o devido respeito que merecem os protagonistas desses dois dramas, recuso-me a acreditar que desencarnados, por mais poderes que detivessem, conseguiriam agredir o missionário Chico Xavier e a extremada mãe/avó Maria Júlia. Além de terem eles incontestáveis méritos, os mentores nos afirmam, peremptoriamente, que Deus não o permitiria, referindo-se à possibilidade de um espírito fazer mal ao seu próximo. E dizem os mentores que nós, homens, tendemos a acreditar em poderes mágicos e que certos acontecimentos são fatos naturais, mal observados e sobretudo mal compreendidos.
Se não foram os espíritos, a quem atribuir semelhantes acidentes? Socorremo-nos mais uma vez do sábio exegeta Emmanuel3, para lembrar que ainda não somos santos, moramos num mundo de expiações e provas e que muitas de nossas dores foram programadas por nós mesmos.
Presentes essas condições, estamos sujeitos às correções do Alto, que podem se traduzir em advertências silenciosas ou mesmo em indesejáveis acidentes. Aceitamo-los como símbolo regenerativo do amor de Deus? Ou os atribuímos ao azar, à fatalidade ou a perseguições de espíritos inferiores?
Para que essas indesejáveis situações surtam as finalidades programadas, é preciso entender que as correções do Todo-Misericordioso existem para o nosso despertamento, para o nosso reajuste e para que entendamos o divino instrumento da reparação.
Fundamentados nas amargas experiências de ontem, aplicam as graças da vida superior, com vistas ao amanhã , afirma Emmanuel, ao reiterar que a construção de um mundo risonho depende, muitas vezes, das contrariedades do momento atual.
Poderia ter sido pior.
Há que se considerar, acima de tudo, que jamais estamos desamparados. Depois das supostas rasteiras que sofreram, Chico se recompôs e Maria Júlia, mesmo tendo que se submeter a longo tratamento, recuperou-se totalmente.
Imaginemos esses mesmos tombos em criaturas endividadas, desprovidas de proteção espiritual e habituadas a atitudes indignas. Estou querendo dizer, amigo leitor, que nessas horas os protetores espirituais amparam e protegem. Esteados em nossos méritos e modo de viver, minimizam efeitos e impedem situações mais graves.
Prevenções.
Por mais protegidos que nos sintamos, jamais devemos abdicar da oração e dos cuidados preventivos. Ensina-nos Jesus que, embora na condição de ovelhas guardadas pelo pastor, devemos ser mansos como as pombas e prudentes como as serpentes.
Comecemos o dia na luz da oração, dialogando com o nosso protetor espiritual e atentando para seus providenciais alertas. Um detalhe: embora alguns revezes possam ser afastados, outros não.
Cientes de que nem tudo são flores e de que passaremos, inevitavelmente, por horas más e dias difíceis, sejamos sábios em pedir discernimento, forças e atenção para superarmos as eventualidades que venham a fazer parte do nosso aprendizado.
Não nos esqueçamos das infelicidades por que passa a humanidade e vibremos positivamente em favor dos que sofrem, a fim de que tenham resignação e fortalecimento para enfrentar os atuais momentos de transição.
Sintonia
Por que Emmanuel sugeriu a Chico que agradecesse pelo tombo sofrido? Embora espíritos inferiores não tenham o poder de provocar desgraças, isso não significa que não se comprazam com azares que nos acometem, quando baixamos a guarda de nossos pensamentos.
Oportuno que nos lembremos de mais uma advertência de Emmanuel6 quando interpreta este texto do evangelista Mateus7:
Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.
Naturalmente, o Mestre não exorta à covardia, sem a noção de respeito próprio. A única maneira de conter um ser enfurecido, compelindo-o a reajustar-se, é não cair no mesmo nível de inferioridade. O conselho do Cristo, reiterado pelo protetor de Chico Xavier, não é convite à fraqueza, mas apelo à superioridade que criaturas desavisadas ainda desconhecem.
Encerremos com Emmanuel:
Aqueles que compreendem as correções do Todo-Misericordioso reajustam-se em círculo de vida nova e promissora.
Quando a correção do Senhor alcançar-te o caminho, aceita-a humildemente, convicto de que constitui verdadeira mensagem do céu.
REFERÊNCIAS:
1 SOUTO MAIOR, Marcel. As vidas de Chico Xavier. 2. Ed. Editora Planeta do Brasil, 2003.
2 KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. Questões 551 e 552. Trad. Dr. Guillon Ribeiro – Rio de Janeiro – FEB.
3 EMMANUEL. Psicografia de Chico Xavier. Pão nosso. Lição 88 – Correções. 13 ed. FEB.1987
4 IDEM
5 MATEUS, 10:16
6 EMMANUEL. Psicografia de Chico Xavier. Vinha de luz. Lição 63 – Atritos físicos. 10 ed. FEB.1987
7 MATEUS, 5:39
8 EMMANUEL. Psicografia de Chico Xavier. Vinha de luz. Lição 63 – Atritos físicos. 10 ed. FEB.1987