Os Motores da Alma Humana -Sidney Fernandes

OS MOTORES DA ALMA HUMANA
Sidney Fernandes


QUEM PECOU?
— Mestre, quem pecou para que este homem nascesse cego? Ele ou seus pais? (João, 9: 1-39).
Esta indagação, feita a Jesus, na célebre passagem do cego de nascença, demonstra que os apóstolos conheciam o homem e sua história. Sabiam que ele nascera cego e deduziam que teria agido de forma comprometedora, antes de nascer. Admitiam, portanto, a existência de vidas passadas.
O que nos interessa, para este estudo, entretanto, é a parte final da pergunta, quando se referem aos pais. Baseavam-se no  primeiro mandamento da Tábua da Lei, quando Moisés registrou que os filhos seriam punidos pelas iniquidades de seus pais.
Tal absurdo foi parcialmente amenizado por outro texto bíblico, este de Ezequiel (18:20), demonstrando que cada um é responsável por seus próprios atos:
— O filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai, a iniquidade do filho.
CONSCIÊNCIA CÁRMICA
Quando o espírito começa nova existência — ciente de que seus débitos são decorrentes de seus próprios erros, e de mais ninguém —, há possibilidade de ele escolher o gênero de provas por que há de passar, assumindo, dessa forma, a inteira responsabilidade de seus atos e respectivas consequências. A pergunta inevitável é esta:
— Não parece natural que ele escolha as provas menos dolorosas?
Respondem os mentores maiores que, quando se encontra nessa fase de consciência cármica, ele tem plena noção dos deveres a serem cumpridos perante credores, familiares, a si mesmo e a justiça divina.
Ao aterrissar na arena terrestre, cessam os preparativos, os ensaios e as teorizações. Chega o momento da validação, através de testes de multivariadas espécies, dos propósitos assumidos.
SORRISOS E LÁGRIMAS
É preciso considerar que a gradativa aproximação da Sabedoria da Vida e da Grande Faculdade da Felicidade —
expressões do escritor Joamar Zanolini Nazareth — acontecerá em situações que causam sorrisos e, também, nas que arrancam lágrimas, pois, para avaliar a essência do valor, é preciso conhecer os dois lados da moeda.
O crescimento do espírito acontece em circunstâncias que desafiam a inteligência, a capacidade de reação e as estruturas moral, emocional e psicológica. É aqui, no palco terrestre, que surgem os enfrentamentos da vida doméstica, da crise financeira, da incompreensão familiar, do abandono, da morte, da doença e de eventuais inimizades do passado.
QUANDO SURGE A DOENÇA
Em algum momento da caminhada familiar, por necessidades espirituais, desgastes do corpo físico, endemias ou acidentes, podem surgir enfermidades ou deficiências. Esse, talvez, seja um dos momentos mais graves da jornada física, que exigirá atenção, paciência, renúncia e carinho para com o familiar, na demonstração dos sentimentos.
Para o próprio doente, a enfermidade poderá se tornar eficiente impulsionador, que propiciará reflexão e limpeza das máculas da sua alma. Embora seja um momento de sofrimento e desconforto — um mal necessário ao devedor estagnado —, há que se compreender sua importância no processo evolutivo, como instrumento de reparo de danos do veículo perispiritual.
Indispensável que soem, em nosso interior, os sinos da esperança e da fé.
É ASSIM QUE AS COISAS, GERALMENTE, OCORREM?
Infelizmente, imersos no temporário esquecimento, ainda que sob a influência de dons inatos, herdados de experiências reencarnatórias pregressas, ao sermos atingidos pelas provas da vida, não nos mantemos fiéis aos ideais e projetos assumidos na erraticidade.
Por que ressurgem a intolerância e a vaidade pessoal que nos impedem de suportar os achaques das criaturas com quem convivemos? Por que perdemos a consciência de que as doenças e outros entraves da vida às vezes são indispensáveis à continuidade do processo evolutivo? Por que o contraste e a dicotomia entre o que prometemos e os efetivos comportamentos?
O DEMÔNIO DA PERVERSIDADE
Edgar Allan Poe, reconhecido escritor americano, chama esse esquecimento de Demônio da Perversidade. A médica psiquiatra, escritora e palestrante Ana Beatriz Barbosa defende a tese de que herdamos, não necessariamente dos pais, porém de nós mesmos, de nosso passado ancestral, estados de medo, ansiedade e estresse.
Durante séculos os circuitos do medo, do estresse e da ansiedade nos acompanharam na morte e mesmo depois de encarnarmos em novos corpos. Traumatizados, na vida atual temos medo, sem saber exatamente do quê.
Por que, a despeito dos compromissos assumidos imediatamente antes da atual vida, continuamos a nos comportar com egoísmo, violência, orgulho, impaciência, enfim, com desamor, se o propósito essencial da vida pressupõe exatamente o contrário?
CIRCUITOS POSITIVOS
À par dos circuitos negativos do cérebro — oriundos e conectados às raízes da alma — existem circuitos positivos que podem desativá-los, e são, geralmente, pouco utilizados anulam os mecanismos indesejáveis.
É como se, ao nascer, nada obstante portarmos dois recipientes, um contendo bons propósitos e outro contendo más tendências, recorrêssemos e utilizássemos apenas o reservatório que nos mantém na inferioridade, na doença e no comprometimento.
Os circuitos que vão permitir que cumpramos o verdadeiro sentido da vida, de sermos melhores para nós e para os outros, são pouco utilizados.
POR QUE ADOECEMOS?
Desequilibramo-nos, no transcurso da atual existência, por que insistimos em não acionar os mecanismos de defesa contidos no reservatório de bondade, que todos portamos, mesmo inconscientemente, autênticos antídotos da parte negativa de nossa personalidade.
Empatia, gentileza, compaixão, são circuitos pouco acionados que podem anular os mecanismos que nos incomodam.
Somente viveremos melhor e tornaremos o mundo melhor, com menos ansiedade e mais equilíbrio, quando descobrirmos que o bem que fizermos retornará para nós mesmos.
Enquanto qualquer um no mundo estiver mal, nós também estaremos. Estamos todos conectados e, ao ferir uma pessoa, também nos ferimos. Ao fazer mal para uma pessoa, tenha certeza  de que estará fazendo mal para você também, afirma a Dra. Ana Beatriz.
A base do adoecimento está em nosso interior e desaparecerá com o nosso conhecimento e a nossa atitude. Se não tomarmos conhecimento dessa realidade, continuaremos a evoluir para o adoecimento.
MUSEU DA EMPATIA
Como praticar a empatia?
A mostra “Caminhando em seus sapatos”, originalmente sediada em Londres, veio ao Brasil. Uma caixa de sapatos gigante, onde pares de calçados foram expostos com histórias relacionadas à diversidade humana.
Ao todo, vinte e cinco histórias conduzem o público a uma viagem sensorial e empática, apresentando relatos do luto ao amor, da perda à superação, do preconceito à inspiração, da exclusão a inclusão, entre outros.
O visitante escolhe um sapato ou uma história que gostaria de ouvir. Após a escolha, ele é convidado a caminhar com os sapatos pelo espaço, enquanto escuta um depoimento narrado da pessoa a quem eles pertenceram. Uma grande oportunidade de aprender fazendo.
TRECHO DE PALESTRA PROFERIDA POR ANETE GUIMARÃES
Quanto maior for o número de pessoas com quem você venha a se importar ou se preocupar, mais saudável será sua mente e seu corpo.
Independentemente da riqueza e da situação confortável que você viva, elas não serão fatores determinantes para a sua felicidade, assim como a satisfação sexual ou outros fatores de ordem material.
Muitas pesquisas e estatísticas para se chegar à conclusão do que o Cristo já nos havia antecipado: sem amor no seu coração, não haverá libertação.
A ARMA INFALÍVEL
Neio Lúcio
Um homem revoltado remeteu uma carta com um pensamento de ódio ao chefe da oficina de que havia sido dispensado. Desprevenidamente, o destinatário acolheu a bomba mental, que, a partir daí, passou a ameaçar os circunstantes.
A primeira vítima do artefato emocional foi um subchefe. A pretexto de enxergar defeito em pequena peça, o portador lançoulhe a bomba, que imediatamente transformou a vítima em criatura amuada e rancorosa.
Agora a projeção maléfica estava com ele. Na hora do almoço, ao invés de acolher com simpatia e gratidão a comida preparada com carinho pela esposa, descarregou-lhe a bomba, a pretexto de ter encontrado um sapato mal engraxado.
O dardo invisível estava agora com a dona da casa.
Dirigindo-se à cozinha, encontra pobre menina que a auxiliava nos deveres da casa. Não teve dúvidas. Despejou na moça o ódio itinerante, que era repassado de mãos em mãos.
A empregadinha teve vontade de descarregar a bomba que agora portava nas louças sob sua responsabilidade. Mas como sabia que o prejuízo lhe seria debitado, conteve-se.
Deparou, no quintal, com um pobre cão que ali dormia.
Deu-lhe um violento pontapé. Ganindo, o animal agora levava consigo o projétil venenoso da raiva. Mordeu a primeira pessoa que encontrou na rua.
Era uma idosa senhora, que imediatamente foi conduzida a uma farmácia. Lá, possuída pela bomba, arremessou-a na cabeça do enfermeiro que a havia acolhido, na forma de ofensas e xingamentos.
De prestativo e calmo, o rapaz, contaminado pela força maléfica, transformou-se em verdadeira fera. Saiu, alucinado, em direção ao seu lar.
Lá encontrou sua velha mãezinha. O novo portador da bomba jogou sobre a genitora a ira que havia absorvido.
— Não aguento mais esta vida. A senhora é a culpada de tudo. Saia da minha frente! — vociferou agressivamente.
Pronunciou nomes terríveis. Blasfemou, gritou, colérico, qual louco.
A velhinha, porém, longe de agastar-se, tomou-lhe as mãos e disse-lhe com naturalidade e brandura:
— Venha cá, meu filho! Você está cansado e doente! Sei a extensão de seus sacrifícios por mim e reconheço que tem razão para lamentar-se. No entanto, tenhamos bom ânimo! Lembremonos de Jesus!... Tudo passa na Terra. Não nos esqueçamos do amor que o Mestre nos legou...
Abraçou o filho, comovida, e afagou-lhe os cabelos. O filho demorou-se a contemplar-lhe os olhos serenos e reconheceu que havia no carinho materno tanto perdão e tanto entendimento, que começou a chorar, pedindo-lhe desculpas.
Houve então entre os dois uma explosão de íntimas alegrias.
Jantaram felizes e oraram em sinal de reconhecimento a Deus.
A bomba finalmente fora desarmada. A projeção destrutiva do ódio morrera, afinal, ali, dentro do lar humilde, diante da força infalível e sublime do amor.
ESPIRITUALIDADE RECOMENDADA NOS CONSULTÓRIOS MÉDICOS
Perdão, altruísmo, compreensão, gratidão, ressentimento, mágoa, previnem ou agravam o adoecimento. Essas recomendações passarão, a partir de agora, a ser ministradas por cardiologistas, por recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, com base nas conclusões do Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado em Fortaleza – Ceará.
Impulsionados por conceitos de civilizações milenares e filosofias contemporâneas, inclusive o Espiritismo, pesquisadores começaram a estabelecer relações de correspondência entre a conduta humana e a felicidade.
Afirmava Simonetti que a medicina do futuro será essencialmente profilática, com a identificação prévia das causas no comportamento do paciente.
O que faz, o que pensa, o que sente, o que come, como se exercita, como dorme, como trabalha, como é o seu relacionamento com as pessoas e os sentimentos que cultiva.
— Inúmeros estudos vêm demonstrando que indivíduos com maior religiosidade ou espiritualidade apresentam menor incidência de muitas doenças. Além disso, esse grupo consome menos álcool e tabaco e tem menos sintomas depressivos.
— Compaixão e cuidado devem caminhar juntos — afirma o professor-adjunto de cardiologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Doutor Roberto Esporcatte.
O AMOR VENCE A DOR
Diz o poeta inglês Robert Browning:
Caminhei dez quilômetros com o prazer.
Ele tagarelou o tempo todo, Falou muito, sem nada me ensinar.
Caminhei um quilômetro com a dor, Ela não falou nada, não pronunciou uma palavra, Mas quantas coisas aprendi
Quando a dor foi minha companheira!
FIQUEMOS COM EMMANUEL
Só o amor consegue romper as algemas de nossos compromissos com a animalidade, e só ele nos fará suficientemente fortes e valorosos, para vencer os percalços e limitações do cubículo de carne, orientando-nos no caminho da sublimação imortal.


REFERÊNCIAS: O Livro dos Espíritos, Allan Kardec; Família – laboratório das almas, Joamar Zanolini Nazareth; Assassinatos na Rua Morgue, Edgar Allan Poe; Artigo “Depressão tem cura, Sidney Fernandes; Urgência, de Emmanuel; Ansiedade no presente e no futuro, da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva; Alvorada Cristã, de Neio Lúcio.