Outros Mundos para se cantar - Sidney Fernandes

OUTROS MUNDOS PARA SE CANTAR

-Sidney Fernandes


Hipócritas! É bem de vós que fala o profeta Isaías: Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim.
Mateus, 15:7-8
Drauzio Varella, no livro Carcereiros, narra um fato ocorrido com Dr. Javert, diretor-geral do presídio.
Luizão, diretor de disciplina, confiava em Messias, prisioneiro de bom comportamento. Estava preocupado mesmo com Vanico, nordestino alto e forte, com fama de carregar peixeira na cinta.
Descuidando-se do bem comportado Messias, não percebeu que dele veio o ataque. Quando se deu conta, já havia recebido quatro perfurações em seu tórax.
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Tempos mais tarde, já convalescendo, ouviu de um preso mais velho o comentário que lhe serviu de lição para o resto da vida:
- Chefe, ninguém faz trança em rabo de burro bravo, o que mata é o coice de burro manso.
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Quando não somos sinceros, enganamos a nós mesmos. E se desencarnarmos escondendo algo de alguém, estaremos diante das nossas
vítimas até que acertemos nossas contas com elas. Não pode ser de outra forma.
Na verdadeira vida, as aparências não mais enganam. Se aqui nos reverenciam pelo que temos, lá, o que importa mesmo, é o que somos.
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Mas, se nesta vida encontramos manifestações de hipocrisia, dissimulação e falsa humildade, também temos maravilhosos exemplos de
generosidade e sabedoria.
Papai foi um dos primeiros a ter telefone em nossa rua. Logo descobri, encantado, que por detrás daquela estranha caixa preta havia uma singular  personagem. Ela chamava-se "informação, por favor". E pelo jeito, era muito esperta. Tudo que a ela se perguntava, respondia com segurança e precisão.
E foi numa tarde, em que mamãe saíra momentaneamente para visitar uma vizinha, que precisei da "caixa mágica". Buliçoso, martelei meu dedo com as ferramentas de papai.
Fiz menção de chorar. Mas, não havia plateia. Subi numa cadeira, peguei o telefone e falei: - Informação, por favor. Uma voz clara e suave
respondeu: - Informação.
Choraminguei:
- Machuquei o dedo.
- Está sangrando? - perguntou a doce voz.
- Não! - respondi.
- Vá até a geladeira e pressione o dedo no gelo. - Vai passar.
E passou mesmo. A partir daquele momento, a "lâmpada maravilhosa" era minha salvação. Tudo eu perguntava para aquela suave voz.
Uma vez indaguei: - Como se soletra a palavra consertar?
E ela mais uma vez me ajudou.
Certa ocasião morreu meu canário.
Chorando, pedi ajuda para "informação, por favor".
E ela, pacientemente, me socorreu:
- Paul, há muitos mundos para se cantar...
Anos mais tarde, estava no aeroporto, de passagem pela minha cidade natal, em direção à universidade, peguei o telefone e falei sem pensar:
- Informação, por favor.
E a mesma voz atendeu.
Perguntei: - Como se soletra a palavra consertar?
Depois de longa pausa, a voz perguntou: - Seu dedo já sarou, Paul?
Nunca me esqueci daquela generosa criatura e ela nunca se esqueceu de mim. Anos mais tarde, quando tentei novo contato, soube que ela havia falecido e deixado um bilhete para mim:
- Paul, nunca se esqueça de que há outros mundos para se cantar...
(Resumo de página da Internet "Telefone Amigo" - desconheço a autoria) 
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Honrar Jesus somente com os lábios é ser hipócrita. Aparentar ter virtudes e não aplicar princípios em si mesmo é ter o coração longe dele.
A todo momento surgem necessidades à nossa volta.
Aproveitemos todas as oportunidades possíveis de sermos úteis. Honremos as potencialidades com que fomos aquinhoados pela divindade.
Através da Doutrina Espírita lembramo-nos, a todo instante, de que existem outros mundos onde poderemos cantar. Vivamos de forma a
merecermos, um dia, encontrarmo-nos nesses mundos.