Ouvir a Voz de Deus -Sidney Fernandes – 

OUVIR A VOZ DE DEUS
Sidney Fernandes – 


Devemos orar sempre! Não até Deus nos ouvir, mas até ouvirmos a voz de Deus.
Se eu quiser falar com Deus.
Se eu quiser falar com Deus tenho que ficar a sós, apagar a luz, calar a voz, encontrar a paz, ter mãos vazias, aceitar a dor e apesar do mal tamanho, alegrar meu coração.
Inspirados versos da composição de Gilberto Gil nos remetem à reflexão de que a conexão com o Alto prescinde de intermediários e instituições religiosas.
Ao adotarmos a atitude genuflexa perante a divindade, há que se pressupor o cultivo da humildade, do comedimento, do silêncio interior, da resignação e da vitória sobre mágoas e ressentimentos.
Por enquanto, nenhuma novidade, porquanto o próprio Cristo já advertia que, antes de tentar comunicar-se com o Criador, o homem deveria primeiro reconciliar-se com o seu irmão. Mateus, 5:24
Qual é a melhor religião?
Léon Denis, respeitado filósofo, nascido em Tours, França, defendia ideias muito próprias sobre religiões. Para ele, todas as crenças são irmãs, respeitáveis, excelentes e convergem para um centro único. Da mesma forma que a fonte límpida e o regato murmurante vão se reunir no vasto mar, para ele o Bramanismo, o Budismo, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo poderiam se reunir em vasta síntese.
Para Denis, não havia qualquer óbice em associar-se às preces de irmãos de diferentes religiões, pois conseguia orar tanto em majestosas catedrais góticas, quanto em templos evangélicos, sinagogas ou mesmo em mesquitas. No entanto, para ele, a oração adquiria maior alcance e vigor à borda do mar, nos altos cumes, nas planícies, nas florestas ou mesmo durante a noite, sob as constelações:
— O templo da natureza é realmente o único digno do Eterno
— concluiu. 
Onde orar?
Temos que, mais uma vez, relembrar o Mestre Jesus que, ao lado da mulher samaritana João, 4, ouviu dela esta dúvida:
— Nossos pais adoraram neste monte e vós outros dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.
Jesus, nesse momento, lançou os fundamentos da verdadeira adoração:
— …Mulher, crede-me. Virá a hora em que não será nem neste monte, nem em Jerusalém que adorareis o Pai. Deus é Espírito e em espírito e verdade é que o devem adorar os que o adoram.
A verdadeira religiosidade
Atento ao magistral ensinamento do Mestre Jesus, Richard Simonetti relembrou que os homens julgam encontrar o Criador nos templos religiosos e tendem a materializar o culto por intermédio de práticas exteriores. Deus é procurado pelo judeu no templo, pelo católico na missa, pelo protestante no culto, pelo hinduísta entoando mantras, pelo muçulmano repetindo rezas e pelo espírita no centro espírita.
Tudo isso é bom e edificante, mas deve ser apenas parte de nosso empenho de comunhão com a divindade. Se nos limitarmos a essas práticas, confundindo-as com vivência religiosa, estaremos esquecendo o fundamental – o combate às nossas imperfeições, no esforço de renovação íntima que marca a verdadeira religiosidade. — concluiu Simonetti.
Ainda a oração
Como criar o ambiente adequado à aproximação dos espíritos elevados?
— Pela prece — respondeu Léon Denis. Não certamente a prece praticada nas igrejas, essa recitação monótona que os lábios murmuram e não têm efeito sobre as vibrações da alma.
Chamamos prece ao grito do coração, ao apelo ardente, à improvisação calorosa que comunica um impulso irresistível às nossas energias ocultas.
Segundo Denis, com essas qualidades, a prece perde o caráter místico para se tornar um meio prático, positivo, quase científico de unificar as forças e proporcionar fenômenos de alto valor.
Através da oração, atrairemos entidades protetoras e amigos espirituais. E se soubermos perseverar nessas correntes fluídicas,  receberemos naturalmente, pelas vias do pensamento, os conselhos e ensinamentos que nos trarão reconforto e regeneração.
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Para ouvir a voz do Alto não precisaremos de um local determinado. Cada um de nós deverá criar, em seu interior, as condições adequadas para a aproximação dos mensageiros divinos.
A espiritualização do homem independe de intermediários religiosos, mas exige que promova a renovação íntima e combata suas imperfeições.
Orar somente com os lábios não despertará as nossas iluminadas forças que dormitam em nosso interior.
A partir do momento em que nos esforcemos para sermos autênticos filhos de Deus, envidando todos os esforços pela transformação interior, pela minimização de falhas morais e pelo respeito para com o semelhante, estaremos nos iniciando no sublime processo de aproximação com as forças do bem.
Oremos sempre! Não apenas para que Deus ouça nossas súplicas, mas, principalmente, para que aprendamos a ouvir a sua voz.
FONTES: “Léon Denis na intimidade”, Claire Baumard; “Levanta-te! ”, Richard Simonetti.