PACTOS E VAMPIROS
Sidney Fernandes
Assim como Fausto, que, segundo a peça teatral de Goethe, teria feito um pacto com o diabo, Pedro teria invocado Mefistófeles, o demônio, a fim de conseguir poder e sedução.
Suas energias eram constantemente renovadas e, com efeito, passou a usufruir de visível sucesso com belas mulheres que, depois de usadas, eram por ele abandonadas. Passou a alimentar a certeza de ter firmado um pacto com forças malignas, que o sustentavam em seus propósitos.
Se um médium vidente pudesse fixar nele sua atenção, lá realmente encontraria, cristalizada, a figura animalesca de um homem agigantado, de longa cauda, com a fisionomia de um caprino degenerado, exibindo pés em forma de garras e ostentando dois chifres, sentado numa cadeira tosca, como se estivesse em perfeita simbiose com Pedro.
— Então é possível estabelecer pactos com os poderes malignos? — indagaria o caro leitor.
Absolutamente! Não existem pactos, pelo menos ao pé da letra, na forma preconizada pelas fórmulas fantasiosas das lendas.
No entanto, aquele que chama em seu auxílio espíritos inferiores e deles obtém algum favorecimento, coloca-se na dependência desses seres impuros. Estabelece-se, então, tacitamente, entre eles e o favorecido, uma espécie de pacto.
No caso de Pedro, ele era alimentado por espíritos inferiores com energias, ideias, rapidez mental, perspicácia, sagacidade e grande capacidade de arguição, que facilitavam seus intentos.
A Doutrina Espírita explica essas metamorfoses vivenciadas por Pedro identificando autêntico e permanente fenômeno de evocação e inspiração, tanto para o bem, como para o mal.
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André Luiz descreve ambiente carregado de emanações deletérias, em que fumantes e bebedores inveterados achavam-se abraçados por tristes entidades desencarnadas, que, como verdadeiros sócios, compartilhavam as baforadas de fumo arremessadas ao ar e o hálito dos alcoólatras que ali se encontravam.
Os chamados mortos, mesmo já desvencilhados de seus vasos carnais, apegam-se às sensações da experiência física a ponto de se ligarem aos viciados terrestres e com eles compartilharem vícios e sensações.
André Luiz refere-se à associação recíproca que pode se estabelecer entre viciados da espiritualidade e encarnados com tendência para o comportamento vicioso. Num processo de hipnose consentida, desencarnados infelizes tornam-se verdadeiros vampiros, em fenômeno mediúnico às avessas, e sugerem a ingestão de substâncias ou ordenam atitudes, ideias que são aceitas tacitamente pelo encarnado.
Funde-se o morto com o vivo, em encaixe perfeito, como se morassem, temporariamente, no mesmo corpo, em perfeita identificação, cujo impulso não se pode precisar se parte de um ou de outro, num fenômeno de completa conjugação.
Existe violência da parte do obsessor? Absolutamente! A hospedagem do espírito ocorre por deliberação própria do encarnado, que aceita de bom grado a simbiose, sem cogitar da condição de vítima.
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O que acontecerá com Pedro?
O pacto com as sombras o deixou vulnerável às criaturas animalizadas que o auxiliaram e o mantiveram em sérios desequilíbrios. Na espiritualidade será recolhido a cárcere, fruto da sua vida insana, sem fé, sem ideais santificantes e sem conduta digna. Colherá o resultado dos desajustes e abusos que cometeu na trama de sua vida. Provavelmente assumirá o aspecto de seu mentor diabólico, contrastando com sua antiga indumentária física, na certeza de que ainda estaria prevalecendo o pacto entre eles estabelecido.
E com os viciados e vampiros reciprocamente associados?
Se resolverem reconsiderar o próprio caminho e voltarem à regularidade mental, estabelecendo alicerces no bem, ganharão tempo, em mútuo processo de recuperação e amparo.
Entretanto, para que esse mister se realize terão que desenvolver esforço heroico, em intenso processo de renovação.
Caso persistam em seus vícios e erros, poderão se transformar, de criaturas belas e admiráveis na carne, em verdadeiros monstros mentais, que vagarão sem rumo, por tempo indeterminado, na espiritualidade.
Como se transformarão?
Ensina André Luiz que há mil processos de reajuste, que se chamam aflição, desencanto, cansaço, tédio, sofrimento e cárcere.
Quando isso não funcionar, infelizmente, muitas vezes esses espíritos poderão precisar de dolorosas reencarnações expiatórias, com recursos extremos como Síndrome de Down, hidrocefalia, paralisia, cegueira, epilepsia, transtornos mentais e muitos outros.
Mentes desequilibradas necessitam de semelhantes processos para despertar para as obrigações que lhes competem.
O homem e a mulher, com seus pensamentos e atitudes, palavras e atos, criam, no íntimo, a verdadeira forma espiritual a que se acolhem. Cada crime, cada queda, deixam aleijões e sulcos horrendos no campo da alma, tanto quanto cada ação generosa e cada pensamento superior acrescentam beleza e perfeição à forma perispirítica, dentro da qual a individualidade real se manifesta, mormente depois da morte do corpo denso.
No corpo físico ou agindo fora do corpo físico, o espírito é senhor da constituição de seus atributos. Responsabilidade não é título variável. Tanto vale numa esfera, quanto em outras. Todos somos livres para sugerir ou assimilar isso ou aquilo.
André Luiz
REFERÊNCIAS: Nos Domínios da Mediunidade e Sexo e Destino, André Luiz.