PADRINHOS DO ALÉM
Sidney Fernandes -
Chico Xavier costumava dizer que a sua proteção maior vinha dos padrinhos do além. Referia-se, o grande medianeiro, aos parentes desencarnados dos pobrezinhos que ele assistia, na periferia de Uberaba.
Falava sempre:
— Os espíritos amigos daquele povo vêm todos me ajudar.
Como Chico, a todo momento encontramos essa proteção, oriunda do bem que fazemos ao semelhante e à vida. Ao invés do resgate de faltas pretéritas, a justiça divina nos oferece uma moeda alternativa à dor, pois o amor surge no momento em que praticamos a caridade.
— O amor cobre a multidão de pecados, já dizia Pedro em sua epístola.
No livro Voltei, escrito sob o pseudônimo de Irmão Jacó, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, Frederico Figner em determinado momento surpreendeu-se com um bando de aves que se aproximou de uma professora nimbada de luz. Recebeu a informação de que não eram aves e sim de parentes de crianças, que vieram recebê-la, depois do desencarne, retribuindo todo o carinho que ela prestara aos seus pequenos alunos, na Terra.
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Sempre falei sobre esse assunto em minhas palestras, com a finalidade de motivar meus ouvintes à prática do bem e da verdadeira caridade, contida nos pequenos gestos de carinho que oferecemos aos semelhantes que nos circundam.
Até que eu mesmo, pessoalmente, vivenciei notável experiência. Encontrava-me em Presidente Prudente, em jornada de palestras pela região, quando fui surpreendido por um telefonema.
Chorando, uma de minhas filhas comunicava-me o falecimento de sua filha, minha netinha, com apenas dez dias de vida.
Todos nós passamos por momentos difíceis em nossas vidas, mas aquele instante, particularmente, foi triste e pesaroso. Recolhime ao quarto do hotel onde estava hospedado para orar e pedir forças ao Alto, para continuar minha jornada.
No meio da oração, em estado de semidormência, senti claramente a aproximação de uma entidade desconhecida, que se comunicou comigo dizendo:
— Não esmoreça, meu filho. Sua netinha já está sendo cuidada por nós. Prossiga seu trabalho que estamos atentos aos acontecimentos e tudo ficará sob controle.
Mentalmente, indaguei quem era aquele espírito desconhecido.
— Você não me conhece, mas eu o conheço muito bem. Sou avô da Betinha e, desde o momento em que você passou a cuidar dela e de minha família, granjeou nossa confiança e simpatia. Continue com seu trabalho que não faltará apoio a você, sua filha e sua netinha.
Betinha, Betinha.... Não me lembrava de qualquer assistida com esse nome. Terminei as palestras, voltei à minha cidade, prestei assistência à filha e me esqueci do assunto.
Tempos mais tarde, fui convidado para ser padrinho natalino de uma das crianças da creche mantida pela entidade a que pertenço. Ser padrinho é uma coisa muito especial. Você recebe uma relação de coisas a comprar, um pequeno enxoval, escreve uma cartinha para sua afilhada e, no dia marcado, entrega os presentinhos pessoalmente.
Quando fui consultar a cartinha do ano anterior, encontrei o nome da Betinha. Ela havia sido a minha afilhada no Natal passado.
Fui mais longe e descobri que, sem nada saber, a família de Betinha recebia, mensalmente, uma das cestas básicas que eu patrocinava para
os nossos assistidos.
Emocionado, constatei que tudo o que eu havia falado para outras pessoas, nas minhas palestras, havia acontecido comigo, com todas as letras. E o mais interessante foi saber que eu havia feito um amigo espiritual, que se autonomeou meu novo padrinho, um padrinho do além.
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Quero voltar a falar de Frederico Figner. Certa ocasião, ele foi procurado em sua loja por um pobre pai de família desempregado, em penosa situação econômica. Ouviu o relato de suas aflições, deulhe um pouco de dinheiro e orou por ele. Dias mais tarde, voltou o homem, com o sorriso dos mais felizes, e lhe narrou:
— Já estou trabalhando e brevemente virei restituir seu dinheiro. Fui procurado por uma pessoa que me convidou para um emprego inteiramente inesperado.
Figner se entusiasmou e repetiu o atendimento a pedidos semelhantes, com resultados sempre positivos. Passou a consagrar sua vida ao serviço em favor dos outros.
Em 1920 desencarnou sua filha primogênita, Rachel Figner — citada em seu livro Voltei —, deixando a esposa inconsolável.
Ouvindo falar da médium de materialização Anna Prado, de Belém do Pará, para lá embarcou com toda a família, em 1921.
E a bondade de Figner não ficou sem resposta da espiritualidade maior. Num dos feitos mediúnicos mais expressivos da médium, a
filha materializou-se na presença do pai, um fenômeno que foi registrado por intermédio de fotografias e moldes em parafina de
flores, mãos e pés materializados, comprovando a continuidade da vida.
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Como vemos, amigos leitores, quando nos dedicamos ao próximo, seus familiares, que já se encontram na espiritualidade,
simpatizam e aproximam-se de nós, agradecidos pelo bem que prestamos. A partir daí, passamos a contar com abnegados protetores,
verdadeiros padrinhos do além.