Por que sofremos? – A dor da morte. -Sidney Fernandes

Por que sofremos? – A dor da morte.

-Sidney Fernandes

 
Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei.
Mateus, 11:28
Boris Fausto, o notável historiador, professor e cientista político — um dos mais profundos conhecedores da história do Brasil —, jamais cogitara do tema morte. Diante da avassaladora dor causada pelo falecimento de sua esposa, precisava encontrar alguma forma de digerir aquela insuportável ausência.
Num final de semana, num cenário irreal, chegou a imaginar que tudo aquilo não era verdade e que o telefone iria tocar e Cynira iria lhe dizer que ele foi um bobo:
— Tudo não passou de brincadeira, e você sofreu tanto.
Já, já volto para casa e vamos dormir juntos no melhor momento do dia.
Prefere não usar o termo morte, que é definitiva e sim falecimento.
— Falecimento — diz ele — lembra desfalecimento, saída de cena temporária.
A imensa obra que ele produziu, e que o tornou referência na história e na política brasileira, não o vacinou contra o esmagamento da dor da morte, que o pegou desprevenido e, como diriam os antigos, de calças curtas.
No seu livro O brilho do bronze — que ele chama de diário não diário, —, exorciza o seu luto e repele a ideia de que Cynira esteja ali, no cemitério, e muito menos — horrorizado com alguns sacerdotes — na eternidade, contemplando a face de Deus.
Encontrou na atividade que mais gosta, e para a qual tem inclinação, a de escrever, a maneira de superar a dor da separação e sobreviver à imensa ausência da sua companheira de tantos anos, como se fosse a amputação de um membro de seu corpo. Nesse livro, ele desnuda toda a sua metamorfose, diante da morte:
— Não consigo e nem quero pensar que há ali apenas um memorial. Prefiro pensar que, de algum modo, nos comunicamos, com muito amor.
O autor, com o seu novo livro, não quer ensinar ninguém a superar nada. Apenas, inteligentemente, admite ter mudado completamente o seu modo de pensar e mostra como é difícil de aceitar que uma pessoa querida possa sumir de vez.
Recusa-se a tentar engolir essa patacoada de, de repente, uma pessoa desaparecer, e não uma pessoa qualquer, mas a mais importante... Manteve-se, mentalmente, comunicando-se com ela, em suas visitas mensais ao seu túmulo, no cemitério do Morumbi 
***
Imagino que o Professor Hermínio Miranda  teria ficado muito feliz com a introspecção vivida pelo consagrado historiador Boris Fausto. Com a morte, muitos homens de saber — geniais cientistas, excelentes escritores, professores, artistas, líderes de toda sorte — ao chegar à espiritualidade, tiveram imensas dificuldades de adaptação, motivadas por sua crassa ignorância a respeito da realidade espiritual.
Poderíamos, seguindo a sua linha de pensamento, arriscar-nos a dizer que evoluímos, pois, já existem muitos homens cultos acreditando que o seu eu, e os dos seus entes queridos, sobreviverão à morte. Infelizmente, a maioria não cogita dessas questões, achando que elas existem apenas para os outros, julgando que viverão para sempre, na Terra.
Esses não atentam para uma sábia anotação de Lucas:
E direi à minha alma: — Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga.
Mas Deus lhe disse: — Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
– continua na segunda parte –
REFERÊNCIAS:
(1) O brilho do bronze, artigo de Roberto Pompeu de Toledo, publicado na Revista Veja, de 10 de
dezembro de 2014 e entrevista Diálogos com Mário Sérgio, na Globo News.
(2) As mil faces da realidade espiritual, livro de Hermínio C. Miranda.
(3) Novo Testamento, Evangelho de Lucas, Capítulo12, versículos19 e 20.