Por que sofremos? Morrer bem - Sidney Fernandes

POR QUE SOFREMOS?
Morrer bem - Sidney Fernandes


Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
João, 8:51
Diz Alexandre Caldini (1) que as pessoas costumam evitar o tema morte. Alegam que está tudo bem, tudo certo e acabam se esquivando e se esquecendo do assunto. Mesmo que alguém venha relembrá-las de que em algum dia vão morrer, dizem que esse assunto é mórbido e fazem de conta que os outros morrerão, menos elas.
Todos nós — lembra Caldini — já morremos e renascemos muitas vezes. Por isso, devemos compreender a morte como natural decorrência da vida.
Discutir a morte é fundamental. Se queremos morrer bem e desejamos aprender a aceitar eventual morte de um ente querido, devemos refletir sobre o assunto.
Como lidar com a morte? Preocupamo-nos em ganhar dinheiro para ter uma vida confortável. Não nos preocupamos tanto em ganhar conhecimento para ter uma morte confortável.
— Ainda não está na minha hora, preciso me reconciliar com o meu irmão!
— Não posso partir, a minha empresa precisa muito de mim.
— Meus filhos são pequenos, eu não posso deixá-los.
Qualquer apego dificulta o nosso desligamento, na hora da morte — continua Caldini. A partir do momento em que  Alexandre Caldini nasceu em Sorocaba, em 1962, e é autor de A morte na visão do Espiritismo, seu segundo livro. Este texto foi parcialmente extraído e adaptado do vídeo Morte, veiculado pelo Youtube, também de sua autoria.
Compreendemos essa realidade, temos condições de partir com tranquilidade, em paz, para a outra vida.
Como lidar com a morte do outro?
A tristeza é compreensível. A surpresa é mais compreensível ainda. Do dia para a noite, a pessoa que estava ali comigo não está mais. O vácuo da ausência é entendível. É preciso considerar, no entanto, que não perdemos aquela pessoa querida.
Há pessoas que costumam afirmar:
— Ah, a pessoa morreu cedo!
Sêneca afirma que nos preocupamos em viver muito, quando na verdade deveríamos nos preocupar em viver bem.
Viver muito não está no nosso controle. Viver bem está!
O que é viver bem?
Compreendendo-se. Estudando-se. Gostando-se.
— Antes eu era irritado, sem paciência, agora estou bem melhor. Eu era agressivo, agora estou menos nervoso, mais paciente... Estou conseguindo dominar a mim mesmo. Consigo agora conviver melhor comigo mesmo.
Estou conseguindo conviver melhor com o próximo?
Quando consigo me tornar útil ao próximo, à minha família, à sociedade... Tudo isso é parte do viver bem e vai fazer diferença na hora de nossa morte.
Ruim é chegar ao final da vida e ter que dizer:
— Nada fiz. Passei por aqui e não marquei o meu caminhar nesta encarnação, que pena, que perda...
Não deixemos as coisas chegarem a esse estágio, atuemos durante a encarnação para que, na hora de morrer, possamos dizer:
— Puxa vida, olha só. Foi muito bom! Foram tantos anos e a minha vida foi muito boa. Consegui caminhar por onde devia.
***
Caldini volta a fazer um importante alerta, a respeito dos pedidos que fazemos para os entes queridos que já morreram.
Se tivermos que pedir alguma coisa, peçamos aos bons Espíritos. Nem sempre nossos entes queridos têm discernimento e grau evolutivo para atender nossos pedidos. Temos que respeitar a sua nova situação, pois podem não estar prontos para nos ajudar.
Além disso, devem ter muito o que fazer, no plano espiritual, para dar continuidade ao seu ciclo evolutivo. Não devemos trazêlos de volta para perto de nós e sim libertá-los, para que sejam felizes.
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E a respeito da saudade dos que já se foram?
Podemos sentir saudade? Claro que sim, mas a saudade boa, relembrando os bons momentos. A saudade boa é uma homenagem que fazemos aos nossos queridos que partiram, é o reatamento do amor que nos une a eles.
Como é a má saudade? É aquela azeda, pesada, que traz de volta a pessoa que partiu e a ancora aqui:
— Ah, você me deixou. Isso está acabando com a minha vida. Estou aqui nesse mar de lágrimas. Quero ir também...
Se esse Espírito consegue captar nossas queixas, ele vai concordar com elas e, com isso, será prejudicado.
É isso, realmente, que devemos fazer para as pessoas que dizemos que amamos?
Isso é amor? Ou seria apego? E nesse caso estaríamos pensando muito mais em nós, do que nas pessoas que dizemos que amamos. Tudo isso é apego. Apego aprisiona! Amor liberta!
— conclui Caldini.
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Fiquemos com a poesia de Auta de Souza, que, embora em vida fosse melancólica e mística, do plano espiritual volta a escrever, por intermédio da pena de Francisco Cândido Xavier, referindo-se à morte como libertação do exílio:
ADEUS
O sino plange em terna suavidade,
No ambiente balsâmico da igreja;
Entre as naves, no altar, em tudo adeja
O perfume dos goivos da saudade.
Geme a viuvez, lamenta-se a orfandade;
E a alma que regressou do exílio beija
A luz que resplandece, que viceja,
Na catedral azul da imensidade.
— Adeus, Terra das minhas desventuras…
—Adeus, amados meus… — diz nas alturas
A alma liberta, o azul do céu singrando…
— Adeus… — choram as rosas desfolhadas,
— Adeus… — clamam as vozes desoladas
De quem ficou no exílio soluçando…
Auta de Souza nasceu em 12 de setembro de 1876, em Macaíba, Rio Grande do Norte, e desencarnou em 7 de fevereiro de 1901. No livro Parnaso de Além-Túmulo, primeira obra psicografada por Francisco Cândido Xavier, lançada em 09/07/1932, pela Federação Espírita
Brasileira, o médium reproduz fielmente o estilo simples e triste da poetisa potiguar.