Por que sofremos ? Não há almoço grátis! Sidney Fernandes

POR QUE SOFREMOS?
Não há almoço grátis!

Sidney Fernandes


Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nenhum jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido.
Mateus, 5:18
Nos bares do velho oeste americano havia uma tradição muito comum de se oferecer comida de graça para os clientes que gastavam com bebidas. Muitos desses alimentos eram bem salgados, para estimular o consumo da cerveja.
Embora não se saiba exatamente a data de sua primeira aparição, calcula-se que, entre as décadas de 1930 e 1940, tornouse popular a expressão there is no free lunch. Sua tradução literal seria não existe almoço grátis, expressando a ideia de que é impossível conseguir alguma coisa sem dar algo em troca.
Físicos correlacionam-na com a Segunda Lei da Termodinâmica, que afirma ser impossível produzir um trabalho útil sem a alimentação de energia do exterior. A expressão foi popularizada pelo escritor de ficção científica Robert A. Heinlein e, mais recentemente, pelo economista Milton Friedman, em 1975, como título de um de seus livros.
Reconheça-se que uma pessoa ou uma sociedade, seja do plano espiritual ou material, não pode obter qualquer vantagem, sem que se pague a conta correspondente, isto é, há sempre um custo, embora, às vezes, ele pareça inexistir ou esteja oculto.
No livro Nosso Lar, de André Luiz, há a expressão:
— Aqui, nada existe sem preço, e para receber é indispensável dar alguma coisa.
Como vemos, lá, como aqui, não existe o tal almoço grátis.
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Inúmeras são as recomendações da espiritualidade para que sejamos prudentes, evitemos os excessos, respeitemos nossa máquina física, afastemo-nos dos vícios, do exagero alimentar e do sedentarismo. Da mesma forma, somos instados a fugir da ociosidade, da maledicência, do pessimismo e dos pensamentos negativos. São atitudes que minam nosso corpo e nosso espírito, abreviando nossa vida, qual veículo desregulado que consome mais combustível do que deveria.
Richard Simonetti  chega a comparar os que destroem seus corpos de fora para dentro e de dentro para fora, aos suicidas, com idênticos problemas de adaptação, porquanto morrem antes da hora, com penosas impressões gravadas em seu perispírito.
De outra parte, o mesmo autor identifica, no seu personagem Felício (2) , de oitenta e cinco anos de idade, um apaixonado pela vida, que encontrou o segredo da felicidade no cumprimento das responsabilidades e das exigências da existência física.
E quando o nosso destino parece já estar traçado e se aproxima o momento de grave resgate ou do desencarne? Nada mais há a se fazer? A vaca já foi para o brejo e nada mais demove  a espada da Dâmocles sobre nossa cabeça?
De quantas moratórias nos dá notícias a Doutrina Espírita?
Um sem número de devedores se reajustaram e minimizaram as dores e as provações que lhes estavam decretadas.
O homem pode, com sua conduta, fazer com que não se deem muitos acontecimentos que lhes estavam, adrede, reservados.
Quem tem medo da morte? – Editora CEAC.
Uma receita de vida – Editora CEAC.
Questão nº 860, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
Da mesma forma, mesmo em relação ao instante exato da morte, ainda assim, não raras vezes, encontramos a intervenção dos Espíritos superiores, quando assim é permitido.
— Alexandre, meu filho encontra-se em estado gravíssimo
— quem assim clamava era Justina, pedindo ajuda ao mentor espiritual.
— Antônio é viúvo faz vinte anos – explicou Alexandre – e está nas vésperas de vir ter conosco, no plano espiritual. Nosso amigo, porém, necessita de mais alguns dias na esfera da Crosta para deixar alguns problemas sérios devidamente solucionados.
O Senhor nos concederá a satisfação de colaborar no reerguimento provisório de suas forças.
Reconhecendo a urgência do assunto, exclamou o orientador:
– A caminho! Não temos um segundo a perder!
Chegando à residência, Alexandre inclinou-se paternalmente sobre o doente e detectou trombose em uma das artérias do cérebro. O desencarne era iminente. Iniciou complicadas operações magnéticas, ministrando energias novas no filho de Justina, funcionando como verdadeiro magnetizador. Utilizandose dos fluidos de companheiro encarnado especialmente convocado para o auxílio, Alexandre transferiu vigorosos fluidos para o organismo moribundo.
Passados quinze minutos, chamou Justina:
— O coágulo acaba de ser absorvido. Seu filho terá cinco meses a mais de permanência na Terra.
Texto adaptado do livro Missionários da Luz, de André Luiz – Francisco Cândido Xavier.
Alexandre ainda preveniu a prestimosa mãe dos cuidados que seu filho deveria adotar, sob pena de desencarnar antes do tempo concedido.
A genitora agradeceu, comovida, em lágrimas de contentamento.
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De que poder estava investida aquela bondosa entidade espiritual, que pôde atender as rogativas da mãe aflita? Que extraordinária força tinha aquele Espírito, para conseguir, aparentemente, derrogar as leis da natureza?
A força do mérito! Não apenas a do próprio doente, que tinha bom coração, embora se encontrasse no círculo de pensamentos desregrados. Também e, principalmente, fora considerada a imensa bagagem de créditos da abnegada mãe.
Em várias obras de André Luiz encontramos inúmeros casos de encarnados ou desencarnados, com merecimentos, buscando proteger seus amados. Neste caso, a simples solicitação da mãe de um doente prestes a desencarnar, ao rogar mais tempo para que a passagem lhe fosse menos custosa, mobilizou um grande número de trabalhadores da espiritualidade.
Note-se que, embora as solicitações intercessórias não digam respeito aos interesses diretos dos detentores de elevados méritos espirituais, não deixam eles de ser beneficiados, com suas generosidades. Quem ora em favor do outro ajuda a si próprio.
Quem dá o bem é o primeiro beneficiado, assim como quem acende uma luz é o que se ilumina em primeiro lugar.
Em qualquer situação, todavia, o merecimento e o comportamento dos próprios assistidos são levados em consideração. Quando o próprio André Luiz foi recolhido por intercessão de sua mãe, Clarêncio não deixou de exortá-lo à gratidão:
— Não desejas ser grato, mantendo-te tranquilo no exame das próprias faltas? 
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E na hora da morte, vigora o mesmo sistema?
Gostaríamos de encerrar estas reflexões em torno do mérito, com algumas observações de André Luiz, no momento em que participa de um atendimento a um acidente, com grande número de desencarnados .
Forte nevoeiro provocara o acidente de uma aeronave, com quatorze vítimas fatais. Imediatamente chegou à espiritualidade solicitação de remessa de equipe adestrada para a remoção de seis das quatorze entidades desencarnadas no doloroso sinistro.
O auxílio do Alto chegou ao local, com colaboradores rigorosamente treinados para o trabalho de natureza muito especial. André Luiz indaga ao mentor, por que motivo fora rogado auxílio para apenas seis das quatorze vítimas. Ao que obteve a seguinte resposta:
— O socorro no avião sinistrado é distribuído indistintamente, contudo, não podemos esquecer que, se o desastre é o mesmo para todos os que tombaram, a morte é diferente para cada um. No momento serão retirados da carne tão somente aqueles cuja vida interior lhes outorga a imediata liberação. Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o afastamento rápido da armadura física, permanecerão
ligados, por mais tempo, aos despojos que lhes dizem respeito.
— Quantos dias? – perguntou colega de André Luiz.
— Depende do grau de animalização dos fluidos que lhes retêm o Espírito à atividade corpórea – respondeu o mentor.
Alguns serão detidos por algumas horas, outros, talvez, por  Nosso Lar, de André Luiz – Francisco Cândido Xavier.
Ação e Reação, de André Luiz – Francisco Cândido Xavier.
longos dias... Quem sabe? Corpo inerte nem sempre significa libertação da alma. O gênero de vida que alimentamos no estágio físico dita as verdadeiras condições de nossa morte.
André Luiz ainda recebe informações relativas à necessidade de os encarnados se submeterem às disciplinas do espírito, na busca de atitudes que representem o respeito à carcaça física, bem como à valorização da oportunidade de progresso que representa uma nova encarnação.
Curioso, André Luiz volta a indagar, querendo saber o destino dos acidentados que não puderam ser desligados de seus corpos imediatamente.
— Ninguém vive desamparado — respondeu o mentor. Os irmãos que se demoram enredados em mais baixo teor de experiência física compreenderão, gradativamente, o socorro que se mostram capazes de receber.
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Não há prece sem resposta. E a oração, filha do amor, não é apenas súplica. É comunhão entre o Criador e a criatura, constituindo, assim, o mais poderoso influxo magnético que conhecemos .
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Encerrando o capítulo que tratou do assunto, André Luiz reproduziu as recomendações recebidas dos altos mentores, especializados em missões de assistência semelhantes à acima descrita, que agora, amigo leitor, repasso-lhe, na esperança de que todos nós um dia nos conscientizemos de nossas obrigações físicas e espirituais, num verdadeiro preparo cotidiano para a grande passagem.
Os Mensageiros, de André Luiz – Francisco Cândido Xavier.
Incentivemos o serviço do bem através de todos os serviços ao nosso alcance. A caridade e o estudo nobre, a fé e o bom ânimo, o otimismo e o trabalho, a arte e a meditação construtiva constituem temas renovadores, cujo mérito não será lícito esquecer, na reabilitação de nossas ideias e, consequentemente, de nossos destinos.
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Claro fica, para todos nós que, se não há almoço grátis aqui na Terra, muito menos existe na espiritualidade, onde colheremos o que houvermos semeado.
A nobre exceção à regra universal de que ninguém dá nada sem exigir a respectiva contrapartida fica por conta do Espírito mais perfeito que aqui esteve na Terra, simplesmente por amor:
Jesus.
Mas Jesus assinala a sua passagem pela Terra com o selo constante da mais augusta caridade e do mais abnegado amor.
Suas parábolas e advertências estão impregnadas do perfume das verdades eternas e gloriosas. A manjedoura e o calvário são lições maravilhosas, cujas claridades iluminam os caminhos milenários da humanidade inteira, e sobretudo os seus exemplos e atos constituem um roteiro de todas as grandiosas finalidades, no aperfeiçoamento da vida terrestre. Com esses elementos, fez uma revolução espiritual que permanece no globo há dois milênios.
A Caminho da Luz, de Emmanuel – Francisco Cândido Xavier.