POR QUE SOFREMOS?
O sofrimento aperfeiçoa o homem?
- Sidney Fernandes
Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a vida por amor de mim, achá-la-á.
Mateus, 16:25
Fiódor Dostoiévski foi escritor, filósofo e jornalista russo, considerado um dos maiores romancistas da história e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos. Ele sofreu intensamente e afirmou que a única coisa que temia era não ser digno de seus sofrimentos. Queria dizer que nele o sofrimento deveria resultar em aprimoramento, evolução e melhoria do seu interior. Costumava afirmar que o sofrimento aprimora o homem.
Seríamos, dessa forma, semelhantes à pedra bruta preciosa, cuja beleza somente surge depois de lapidada, ou a uma planta, que, sem poda, não embeleza e tende a perecer de fraqueza. Assim também como a terra que, se não for arada e sulcada, não se tornará fértil.
Em todas as épocas da humanidade, almas se tornaram grandes, depois de muito sofrerem. No entanto, de nada adiantaria o sofrimento se essas almas não se diferenciassem de todas as outras, com uma mágica transformação: converter o sofrimento em fonte de grandeza e não de dor.
Para nós, espíritas, esse, realmente, é o grande desafio:
Transformar poda em crescimento; lapidação em brilho; terra arada em fértil, e sofrimento em aprendizado e transformação moral.
***
Importante lembrar que o sofrimento, por si só, não eleva o homem. Representa o sino de Deus, plangendo para avisar o desavisado que ele precisa reavaliar suas ações e fugir de seus erros. Fora de outra forma, o masoquista, que provoca sofrimento em si mesmo, seria um santo, quando na verdade o que se espera é a sua transformação. Os sofrimentos voluntários não nos elevam perante Deus.
A dor é um balizador de comportamentos. É como se caminhássemos pela vida resvalando nos espinhos que formam as balizas de um corredor. Para o que se propõe a progredir, a dor é quase inevitável, porquanto, sem saber ainda exatamente o rumo a seguir, acaba esbarrando nos aguilhões que o ferem.
Assim, os que desde o princípio seguem o caminho do bem, superam mais rapidamente suas imperfeições e chegam mais depressa aos objetivos da criação. Quando assim se comportam, têm menos tormentos e torturas que se originam dos seus defeitos .
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 726.
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 133.
Como é quase impossível progredir sem as lutas e tribulações da vida corporal, Dostoiévski generaliza a necessidade do sofrimento para o aprimoramento do homem. Nascendo simples e ignorantes, completamente brutos, necessitamos da fadiga e do trabalho para o desgaste das arestas, que acontecerá com pouca ou muita dor.
O que aprende a lição, ao menor roçar do sofrimento, previnese contra os atritos do futuro e continua a progredir sem a necessidade da dor.
Daí concluir-se que, embora necessário ao aprimoramento da grande maioria dos protagonistas do processo evolutivo, para uma minoria o sofrimento não é indispensável e sim mero balizador de comportamentos.
O que acontece com nossos excessos? Quando ultrapassamos os limites das nossas necessidades, eles provocam males em nosso organismo.
Assim também a lei divina: se atendêssemos à voz interior que nos diz — basta, evitaríamos a maior parte de nossos males.
Na codificação da Doutrina Espírita, particularmente na elaboração do livro O Céu e o Inferno, Allan Kardec interrogou milhares de Espíritos, que foram acompanhados desde o momento O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 633. em que desencarnaram, buscando saber quais seriam as mudanças que neles se operariam.
Concluiu que os sofrimentos sempre guardavam relação com a vida que levaram, quando encarnados, cujas consequências ora experimentavam. Os que sofrem — afirma Allan Kardec —, somente podem se queixar de si mesmos, quer no outro mundo, quer neste.
Concluímos, amigo leitor, com a frase de Fiódor Dostoiévski, que, pelo menos em parte, tinha razão: o sofrimento aprimora o homem. Melhora-o, todavia, desde que o motive e o impulsione à sua transformação moral e aos esforços para domar suas inclinações más.
Espíritos tornam-se felizes pelo bem que praticam.
A felicidade, no entanto, é proporcional à elevação de cada um. De cada ser depende consegui-la, com trabalho, persistência no bem e a consciência de que está efetivamente contribuindo com o projeto divino.
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 257.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, capítulo XVII, item 4.