Quando a Vida perde a graça -Sidney Fernandes – 

QUANDO A VIDA PERDE A GRAÇA
Sidney Fernandes – 


Inabitual aumento de tráfego do site e do número de e-mails com pedidos de ajuda chamou a atenção dos voluntários do CVV — Centro de Valorização da Vida —, a ponto de os plantonistas pedirem, com o passar dos dias, reforços para seus atendimentos.
O inesperado movimento foi atribuído ao lançamento de conhecida série televisiva, insistentemente mencionada nos atendimentos, que, infelizmente, não cumpriu recomendações da OMS — Organização Mundial da Saúde.
Os capítulos, com o passar dos dias de exibição, apresentaram, seguidamente, linguagens, descrições, cenas e imagens que despertaram, estimularam e motivaram desordens psiquiátricas, que desaguaram em crises de ansiedade depressivas e indutoras do suicídio em grande número de espectadores.
Os efeitos Werther e Papageno
O fenômeno não é inédito e veio trazer novas evidências para velhas hipóteses de influenciação de livros, filmes, peças teatrais e séries da televisão em mentes que passam por crises existenciais. A associação mais antiga que se conhece, entre a mídia e a emulação de transtornos emocionais, aconteceu em 1774, com a publicação de Os Sofrimentos do Jovem Werther, de autoria do alemão Johann Wolfgang Von Goethe.
Mais importante, no entanto, do que publicizar gatilhos de tragédias, é dar ênfase aos fatores de proteção de que a sociedade dispõe e nem sempre se utiliza. Ao lado do chamado Efeito Werther e outros que tais, existe o Efeito Papageno. Esse nome se deve ao personagem da ópera A Flauta Mágica, de Wolfgang Amadeus Mozart, que conseguiu sair de sua crise existencial graças à solidariedade de outros personagens que lhe mostraram outras maneiras de resolver seus problemas.
Não é exatamente disso que temos que tratar, numa sociedade que deve caminhar para a resiliência de suas dificuldades, conscientizando-se de que, quando um problema é de um, o problema é de todos?
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Ansiedade, depressão e desinteresse pela vida Estudos demonstram que tudo começa com o estresse, que evolui ou se confunde com a ansiedade, que gera a angústia e a prostração por motivos nem sempre evidentes. O passo seguinte é a depressão, que, em patamares mais elevados, desembarca na perda ou diminuição de interesse pela vida.
Causas físicas, psicossociais e espirituais Os desequilíbrios na bioquímica cerebral — com a diminuição dos chamados neurotransmissores da felicidade, como a endorfina e a serotonina — promovem não apenas a infelicidade crônica, como também queda do sistema imunológico, aumento de processos inflamatórios e de fatores de risco para diversas doenças, dentre elas as cardiovasculares.
Além dos fatores físicos internos, há os relacionados com as convenções e hábitos da sociedade — excesso de peso, uso excessivo de internet e redes sociais, vícios, sedentarismo e dietas desregradas —, os decorrentes de doenças e acidentes — transtornos psiquiátricos, traumas, lesões na cabeça, enxaqueca crônica e problemas cardíacos —, e os psicossociais, como separações conjugais, desemprego, pressões por resultados, morte na família e solidão.
Finalmente, há os fatores espirituais. Os espíritos não provocam doenças, medos, angústias, dificuldades de concentração, irritabilidade ou baixa autoestima, mas exacerbam a indolência, o afastamento da religião, os comportamentos compulsivos, o pessimismo e os pensamentos relacionados com a morte. Funcionam como potencializadores de nossos desajustes e incentivadores de tendências imobilizadoras.
Tratamento e cura – Como vencer a depressão? E a solidão? Como nos protegermos de irmãos infelizes? Como voltar a ter gosto pela vida?
Sendo esse mal de múltiplas facetas, com inúmeros sintomas e dezenas de fatores de risco, não há uma única fórmula mágica para debelá-lo. Dessa forma, apresentaremos proposições de várias origens, cabendo ao doente, ou aos seus familiares, adequarem-se às que mais se aplicam aos seus casos específicos.
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Fora de dúvida que o distúrbio precisa ser tratado com a medicina tradicional, assim que se manifesta. O tratamento poderá ser desenvolvido por um psiquiatra ou por um psicólogo, ou em conjunto por ambos.
Há que considerar a necessidade de se regular a química do cérebro para compensar eventuais desequilíbrios e, também, de pesquisar as causas do problema e de como ele poderá ser solucionado, de acordo com o perfil de cada paciente.
Há um ditado chinês que diz:
— A preocupação é uma ave que pousa na nossa cabeça. A sabedoria da vida é não deixar que essa ave faça ninho nela.
Esforço pessoal e boa alimentação A postura do doente será fator fundamental para sua recuperação. Levando em conta que, em muitas vezes, a depressão pode durar certo tempo, assim que a tristeza, a melancolia ou a preocupação comecem a dar seus sinais, será importante que ele reavalie sua rotina de vida e a gerencie, preenchendo sua vida com atividades úteis e edificantes. 
Boas leituras, compartilhamento de dificuldades, cabeça ativa, livre de pensamentos negativos e novos aprendizados, são medidas eficazes para espantar as preocupações excessivas, trazer de volta o otimismo e recuperar o bem-estar emocional.
Pesquisas recentes, realizadas por especialistas em nutrição, dão conta de que determinados alimentos do cardápio mediterrâneo — azeite de oliva, peixes, frutas e oleaginosas (nozes, castanhas, etc.) —, bem dosados, podem incentivar a liberação de substâncias importantes ao humor do paciente.
Apoio magnético e influência espiritual Sem prejuízo do suporte psicológico/psiquiátrico, as causas psicossociais da depressão pedem outras medidas de apoio. O magnetismo da imposição de mãos — reiki, johrei, toque terapêutico e passe espírita —, além de proporcionar energias
capazes de despertar reações positivas do paciente, tem o condão de fortalecê-lo para o enfrentamento de outro componente importante, geralmente presente quando surge o desequilíbrio emocional: a influência espiritual.
Assim como as moscas são atraídas pelas chagas físicas, espíritos doentes também se aproximam dos portadores de chagas morais — ensina-nos o Evangelho Segundo o Espiritismo. Se não existissem homens desequilibrados, espíritos maus não seriam atraídos para o seu derredor. Quando passamos a gerar ondas espirituais negativas, atraímos de longe espíritos doentes e infelizes.
Dedicar-se à religião
O apoio proporcionado pelas filosofias e religiões é fator fundamental para a prevenção, administração e cura da ansiedade, do estresse, da depressão e seus desdobramentos mais graves, que podem atingir a própria sobrevivência do indivíduo. Nessas horas, mais do que nunca, o paciente deverá apegar-se à sua igreja, seu templo religioso ou ao seu centro espírita, buscando ajuda dos anjos protetores da vida.
A casa espírita
Nesse particular, a casa espírita tem muito a oferecer aos que sofrem do mal da depressão. Quando se detecta um componente espiritual atuante — muito comum nessas situações —, faz-se necessário o suporte por intermédio dos passes dispersivos, magnéticos, dentro de específicas técnicas direcionadas para os distúrbios emocionais. Além disso, o trabalho de desobsessão, através de diálogos com espíritos
desencarnados que se aproximam do depressivo, representa valioso recurso, tanto para fortalecer o doente, como para esclarecer o obsessor.
Allan Kardec
Não podemos nos esquecer de preciosa orientação dos mentores contida na questão 469, de O Livro dos Espíritos:
— Como superar a má influência dos espíritos? Fazendo o bem e colocando toda a nossa confiança em Deus.
Chico Xavier
Chico Xavier complementava essa orientação, dizendo:
A depressão pede o remédio do trabalho. A pessoa triste necessita ser motivada para as pequenas tarefas que consiga executar. Na depressão o médico pode ajudar muito, mas se o deprimido não estiver disposto a se ajudar...
Quem sofre de depressão deve fugir da cama, do sofá...
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Embora existam muitas outras maneiras de auxiliar o depressivo, o espírito de síntese deste texto nos conduz ao  encerramento, que faremos com este precioso texto de Richard Simonetti.
A Receita da Tia Grace
Como vencer a depressão? Como vencer a solidão? Como voltar a ter gosto pela vida?
Certo dia, Nardi estava arrumando alguns pertences, quando encontrou um livro encadernado. Ao abri-lo constatou, com surpresa, que se tratava de um diário. Maior o seu espanto ao verificar que eram anotações pessoais de Grace, uma tia-avó já falecida. Nardi convivera algum tempo com ela, durante a infância, e lembrava-se bem de sua maneira de ser. Seu traço marcante era a jovialidade. Curiosa, Nardi abriu o diário.
Leu, surpreendida, que Grace enfrentara situação difícil, tormentosa mesmo. Na juventude, conheceu um rapaz e apaixonou-se. Namoraram, noivaram e marcaram a data do casamento.
Então aconteceu a tragédia: ele faleceu num acidente. Foi terrível!
Todos os seus sonhos de um lar feliz, abençoado por filhos, ruíram como mero castelo de cartas. Sem pretender casar-se, porquanto o amor que dedicava ao noivo preenchia todos os espaços de sua vida, todos os anseios de seu coração, Grace escreveu no diário:
— Sei que minha situação não vai mudar, o noivo não vai voltar. Portanto, quem deve modificar-se sou eu. Algo devo fazer para sair da desolação em que estou vivendo. Tenho meditado sobre meus problemas. Para superá-los, estabelecerei um conjunto de normas simples que procurarei pôr em prática.
Queira Deus este plano me liberte da desolação em que vivo.
E orou, pedindo a Deus a inspirasse no seu propósito.
Como sempre acontece quando oramos de coração contrito, o Senhor não a deixou sem resposta.
Sob inspiração de generosos mentores espirituais, que vieram em seu socorro, Grace compôs a receita salvadora que passaria a nortear sua existência.
Era feita de seis regrinhas simples que poderia colocar em prática imediatamente.
1 – Fazer algo por alguém;
2 – Fazer algo por si mesma;
3 – Fazer algo que não tenha vontade, mas deve ser feito;
4 – Fazer um exercício físico;
5 – Fazer um exercício mental;
6 – Orar, agradecendo a Deus a dádiva da existência.
Limitara-se àquelas regras por sentir que representavam um desafio viável, a que poderia dedicar-se sem maiores problemas.
E tratou de colocá-las em prática.
Podemos viver como quem cumpre uma receita? — pergunta agora Nardi.
E responde ela mesma:
— Só sei que, desde que comecei a seguir esses preciosos preceitos, tornei-me mais dedicada aos outros e, consequentemente, menos preocupada comigo mesma.
—Deixando a lamentação, adotei o lema de tia Grace:
Florescer onde estou plantada!
Acrescentaríamos outra expressão sábia da Tia Grace:
— É preciso sair do sarcófago do egoísmo!
Deixar a exacerbada preocupação com nosso bem-estar, conscientes de que estaremos bem sempre que nos mantivermos em movimento, jamais esmorecendo, em face dos desafios da existência humana.
Adaptado do livro Uma Receita de Vida, de Richard Simonetti
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Buscar o socorro da medicina; desenvolver atividades dignificantes; tentar o remédio do trabalho; fugir da autopiedade; exercitar pequenas boas ações; melhorar a alimentação; dedicar-se à sua religião e confiar em Deus — são poderosos antídotos para a depressão, que nos permitirão ver as coisas da vida sob outro prisma e a reencontrar a graça da nossa existência.
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Toquem música, encham a casa de flores, façam cantar os passarinhos, levem-na para ver o pôr do sol no mar, deem-lhe tudo o que possa fazê-la feliz.
Não há remédio que cure o que a felicidade não cura.
Gabriel García Márquez