Quando o NÃO é necessário -Sidney Fernandes – 

Quando o NÃO é necessário
Sidney Fernandes – 


Lamentamos, muitas vezes, ao ouvir um não. A vida, porém, nos ensina que aprendizado, não raramente, exige dificuldade e superação.
No livro Nosso Lar, de André Luiz, o marido de Dona Laura pede, respeitosamente, aos filhos:
— Ah, filhos meus, alguma coisa tenho a pedir-lhes do fundo de minha alma! Roguem ao Senhor para que eu nunca disponha de facilidades na Terra, a fim de que a luz da gratidão e do entendimento permaneça viva em meu espírito.
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Primeiro caso
Lembro-me de fato ocorrido, décadas atrás, quando compareci ao velório da mãe de um grande amigo de trabalho.
Fazia muito calor e, depois de uma noite de velatório, diria a razão que se procedesse, logo de manhã, ao enterro. Ocorre que uma das filhas da falecida ainda não havia chegado e, piedosamente, aguardaram algumas horas além do previsto, para o encaminhamento ao cemitério.
Com a chegada da distante familiar, diria novamente o bom senso que não se fizesse a abertura da urna funerária, por motivos óbvios. Naquela época a prática do embalsamamento era cara e não muito comum, nos meios mais simples. Com isso, com a alta temperatura local, era de se deduzir que a abertura do caixão traria sérios transtornos à condução do velório. Meu amigo, líder da família, opôs-se ferrenhamente à exposição da falecida, no que foi criticado por todos os demais irmãos. Lembro-me da cena dramática:
— Por caridade, abram o caixão para que a filha se despeça da mãe.
Não houve outro jeito, senão proceder-se à abertura. A decomposição do corpo já havia se iniciado e o cheiro insuportável acabou com o velório. Ninguém, a não ser os mais fortes, conseguiu permanecer no local e, mesmo assim, para, apressadamente, tornar a lacrar a urna funerária. Meu amigo tinha toda razão em, inicialmente, dizer não.
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Segundo caso
Em Missionários da Luz, André Luiz descreve os cuidados com os preparativos da reencarnação de Segismundo. Quando duas senhoras desencarnadas, amigas da mãe grávida, Raquel, vieram visitá-la, educada, mas, energicamente, assim se expressou o mentor que cuidava de sua proteção:
— Como responsáveis pela organização primordial do novo corpo de carne do nosso irmão Segismundo, agradecemos a atenção de todos, porém não podemos autorizar a visita a esta hora.
Explicou ainda o mentor que, naquele momento, ele e sua equipe estavam oferecendo à mente maternal delicados serviços de magnetização. Afável e sorrindo, informou que após o vigésimo primeiro dia, quando o embrião atingisse a configuração básica, a visita seria autorizada.
Os visitantes, imbuídos das melhores intenções, sem desejar, de forma alguma, perturbar os trabalhos, entenderam a negativa e postergaram o carinhoso abraço pessoal para o momento adequado.
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Nem tudo o que pedimos a Deus, conseguimos. Pelo menos, dentro da visão limitada que ainda temos, na existência física, e com a evolução a que já chegamos.
Mesmo assim, nossas orações são atendidas de forma tão sutil, que nem notamos a intervenção do Alto. Por outro lado, diz a sabedoria popular que aquilo que é adquirido com facilidade não é valorizado, e com facilidade perdemos.
Digamos sim, quando pudermos e se assim entendermos ser justo. Digamos não, quando nosso sim fizer mais mal do que bem, e também entendermos ser o mais justo e adequado.
Não nascemos para sofrer. O mergulho no planeta Terra, com o escafandro da carne, tem por objetivo maior a nossa transformação, com vistas ao progresso. No entanto, quando empacamos e nos recusamos a adequar nossa vida ao comportamento preconizado pela espiritualidade, as esporas se fazem necessárias, para que aprumemos a marcha.
Vivamos de tal forma que os nãos sejam adstritos ao desconforto de viver num mundo de expiações e provas, para que eles sejam necessários tão somente nos momentos em que nos esqueçamos dos compromissos. Se deles sempre nos lembrarmos, evitaremos as esporas da força bruta e as dores que alinham a existência e, aí sim, poderemos receber mais sins, da providência divina.