Quem lê, atenda! -Sidney Fernandes – 

QUEM LÊ, ATENDA!
Sidney Fernandes – 


LÉON DENIS
Não obstante as imensas dificuldades provocadas por sua meia cegueira, Léon Denis — o apóstolo do Espiritismo — guardava imensa força de trabalho. Seu cérebro, em constante ignição, a prodigiosa memória, a ordem e o método mantinham a vivacidade do seu espírito.
O método Braille, que ele achava muito demorado, às vezes cedia espaço ao lápis e à grade de metal, que lhe permitiam escrever sem remontar as linhas umas sobre as outras. De vez em quando, todavia, ocorria algum desapontamento.
Certa ocasião, apresentou muitas páginas para que sua dedicada secretária, Claire Baumard — que passou a trabalhar com o mestre em 1918, quando ela já contava 45 anos de idade — revisasse, nas quais nada estava escrito.
— Como? Dizes que está em branco?! — exclamou desoladamente. Não é possível!
Ele havia escrito com a ponta do lápis quebrada e perdera o produto do seu pensamento. Em seguida, esforçou-se para  reconstituir o texto.
FELICIDADE
— A felicidade existe, entretanto, aqui embaixo, pois que Deus dispôs por toda a parte as alternâncias da alegria e da dor, para o progresso e a educação dos seres.
— A felicidade se esconde como todas as coisas gentis e delicadas. É em vão que se a procure nos gozos terrestres que o sopro da morte carrega.
Com tais palavras, Léon Denis ressaltava que, esgotados os meios suasórios da justiça divina, resta a dor como único recurso com poder supremo de depuração do homem, que a pede e depois a renega, quando retorna à Terra. Raros a entendem ou se resignam a aceitá-la. Esses se fortalecem ao reconhecer sua finalidade e a consideram como um Leitmotiv, isto é, verdadeiro fio ou meio condutor, no caso à felicidade.
PROVAÇÕES
Cada espírito reage de maneira diversa, perante a dor. Uns a amarguram, outros melhoram. Alguns caem e sucumbem, outros reerguem-se, retiram de suas provas a experiência e a beleza moral e passam a vislumbrar as próprias belezas interiores que lhes foram outorgadas por Deus. Os bens do mundo passam a lhes parecer precários e transitórios. Daí a oportuna expressão de Léon Denis a respeito da felicidade:
— É em vão que se a procure nos gozos terrestres que o sopro da morte carrega.
QUEM LÊ, ATENDA!
Alguns minutos de leitura do Evangelho podem nos trazer essência para toda a existência. Esse conteúdo poderá ser resumido n’O Sermão da Montanha, cujo teor poderá ser ainda mais resumido, a alguns segundos, se utilizarmos a magna expressão de Jesus, que sintetiza toda a sua gloriosa mensagem:
— Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também a eles. Mateus, 7:12
Alerta-nos, no entanto, Emmanuel, que, embora as expressões de Jesus sejam altamente significativas e nos remetam a encontrar a felicidade por caminhos alternativos à dor, parece que nós, homens, insistimos em ler, sem entender os desígnios de Deus e sem cumprir a justiça divina.
SINAIS
Inúmeros alertas são encontrados na história da humanidade, para chamar a atenção do homem para o verdadeiro caminho. Não estamos falando apenas de exortações filosóficas ou religiosas, mas de acontecimentos espontâneos, cujos significados são esquecidos ou ignorados pelo ser humano.
FÁTIMA
Durante o ano de 1916, três crianças da Vila Aljustrel, pertencente ao Distrito de Beja, região do Sul de Portugal — Lúcia (dez anos), Francisco (oito anos) e Jacinta (sete anos) — testemunharam três aparições de um espírito, que seria o Anjo de Portugal e, no ano seguinte, 1917, seis aparições de uma entidade de intensa luz, mais tarde identificada como sendo Nossa Senhora, mãe de Jesus, em livro de 1937, denominado Memórias da Irmã Lúcia.
Esses fenômenos foram exaustivamente estudados pelo Vaticano. Já permitiram a canonização de Francisco e Jacinta e, atualmente, uma equipe trabalha na canonização de Irmã Lúcia.
Fora de dúvida que os videntes de Fátima foram escolhidos para chamar a atenção dos homens, concitando-os à espiritualização com revelações da alta espiritualidade.
VOLTOU PARA AUXILIAR A VIÚVA
Quando os espíritos têm permissão, podem fazer extraordinárias revelações.
Vejamos mais um exemplo:
Uma senhora acabara de perder o marido após trinta anos de vida conjugal e se encontrava a ponto de ser expulsa de seu domicílio, sem nenhum recurso, por seus enteados, junto aos quais tinha feito o papel de mãe.
Seu desespero estava no auge quando então numa noite o marido lhe apareceu e lhe disse para segui-lo até seu escritório. 
Lá, ele mostrou sua escrivaninha, que ainda estava com os lacres judiciais, e, por um efeito de segunda vista, fez com que ela visse seu interior. Indicando-lhe uma gaveta secreta que ela não conhecia e da qual explicou-lhe o mecanismo, ele acrescentou:
—Previ o que está acontecendo e quis assegurar teu futuro; nesta gaveta estão minhas últimas disposições: está assegurado o usufruto para ti desta casa e de uma renda mensal.
Depois disso desapareceu. No dia da abertura do testamento, ninguém podia abrir a gaveta; a senhora então contou o que lhe havia acontecido. Ela abriu-a, seguindo as indicações de seu marido, e encontrou o testamento, conforme o que lhe havia sido anunciado.
CHICO E UM CASO DE ASSASSINATO
Em 1976, um jovem foi acusado de matar um amigo. Seus pais receberam uma carta psicografada por Chico Xavier, de autoria da vítima, dois anos mais tarde, inocentando o acusado.
— Fui eu mesmo quem começou a lidar com a arma! 
A carta por intermédio de Chico, que morava em Minas Gerais, e não conhecia o caso, trouxe detalhes da cena do crime e falou da família da vítima, que morava em Goiás. A assinatura da carta, semelhante à do morto, chamou a atenção dos jurados. Numa sentença inédita, o réu foi absolvido
TOMA E LÊ!
Aurélio Agostinho nasceu na África no dia 13 de novembro de 354. De temperamento impulsivo e veemente, em sua juventude não gostava muito de estudar. Viveu muitos anos com o ânimo disperso, vazio de Deus e distanciado do devotamento cristão de sua mãe Mônica (Santa Mônica).
A chave para sua transformação e aquisição dos preciosos ensinamentos religiosos de sua mãe surgiu no ano de 386.
Estava em um jardim de Milão, quando ouviu a voz de uma criança invisível, que cantava repetidamente: Toma e lê, toma e lê.
Ele tomou a epístola de Paulo ao Romanos e leu, no capítulo 13, versículos 13 e 14, o texto que o conduziu definitivamente à sua
transformação moral.
Tornou-se um dos maiores intelectuais e oradores do Cristianismo. Comia frugalmente, trabalhava incansavelmente, desprezava fofocas e tentações e era prudente na gestão financeira dos negócios da Igreja.
Sua vida nunca foi tranquila: pregava até duas vezes ao dia, ministrava catequese, resolvia questões de justiça e atendia pobres e órfãos, mesmo com posição e autoridade de bispo.
Seu pensamento influenciou profundamente a visão do homem medieval. Conseguiu uma proeza extraordinária:
- É considerado Santo na Igreja Católica e na Igreja Anglicana;
- É considerado Pai Teólogo de muitos dos protestantes, notadamente os calvinistas e os luteranos;
- É louvado na Igreja Ortodoxa Oriental; e
- É respeitado e citado pelos espíritas.
Fazei o que fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar.
Santo Agostinho, em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec
NÃO HÁ DOZE HORAS DE LUZ NO DIA? João, 11:9
Com essa expressão de Jesus, Emmanuel nos chama a atenção para o tempo que perdemos durante a existência, diante das mensagens, avisos, alertas e do próprio Evangelho, oferecidos à humanidade terrestre.
Quantos abandonam seus postos, alegando falta de tempo?
Quantos permanecem na zona da preguiça, porque aconteceu isto ou aquilo? Ou então, por bagatelas, quantos, que deveriam ser homens dignos e servidores fiéis, permanecem nas sombras?
DE QUE ADIANTA?
De que adianta sermos abençoados com extraordinárias visões da espiritualidade? Ou recebermos a visita de entes queridos que já morreram? Ou sermos contemplados com valiosos testemunhos dos desencarnados? Ou ainda convivermos com elevadas criaturas do nível de um Santo Agostinho?
Estamos mais honestos e benevolentes?
DOR OU AMOR?
Os alertas divinos estão aí à disposição de todos os homens, para que tenham mais empatia e solidariedade. A divindade tem paciência e compreensão e oferece inúmeras oportunidades para a depuração do espírito.
No entanto, quando se esgotam os recursos da compaixão divina, como nos alerta Léon Denis, resta a dor como um Leitmotiv — verdadeiro condutor — à felicidade, único meio com poder supremo para a renovação do homem.


REFERÊNCIAS: Vinha de Luz e Pão Nosso, Emmanuel; Léon Denis na intimidade, Claire Baumard; Revista Espírita (1859), Allan
Kardec; Estudo sobre a Mediunidade, Sílvio e Clarice Seno Chibeni; Ser Feliz é uma Arte, Sidney Fernandes.