Respeitado por Gregos e Troianos -Sidney Fernandes

RESPEITADO POR GREGOS E TROIANOS

Sidney Fernandes


E quem é o meu próximo?
Lucas, 10:29
Enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis.
Prefácio de Os Miseráveis, Victor Hugo Uma das cenas mais famosas de todos os tempos, repetida incessantemente em peças teatrais, filmes e musicais, é o encontro de Jean Valjean com o Bispo de Digne, do livro Os Miseráveis, de Victor Hugo.
Jean Valjean havia acabado de ser libertado da prisão, depois de cumprir dezenove anos de trabalhos forçados, por ter roubado pão para seus sobrinhos, que passavam fome.
Dom Bienvenu (Monsenhor Benvindo) o acolhe. Dá-lhe comida e pouso. Que retribuição recebe? Jean Valjean, na madrugada, rouba seus
talheres de prata. Preso novamente, desta vez para cumprir pena perpétua, é defendido pelo bispo, que afirma ter dado a prataria de presente ao criminoso.
Este gesto generoso muda a vida de Jean Valjean, que, até o resto de seus dias, torna-se um homem de bem.
O bem é sempre contagioso, diz a sabedoria popular.
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Bienvenu, o generoso bispo de Digne, distribuía os dezoito mil francos que recebia do Estado aos pobres, aos  presos, aos desvalidos, aos professores e às instituições de beneficência da região.
Vivia sobriamente com apenas mil francos anuais. Teria Victor Hugo se inspirado em algum personagem real para criar o personagem Bienvenu?
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Aurélio Agostinho nasceu na África no dia 13 de novembro de 354. De temperamento impulsivo e veemente, em sua juventude não gostava muito de estudar. Viveu muitos anos com o ânimo disperso, vazio de Deus e distanciado do devotamento cristão de sua mãe Mônica (Santa Mônica).
A chave para sua transformação e aquisição dos preciosos ensinamentos religiosos de sua mãe surgiu no ano de 386.
Estava em um jardim de Milão, quando ouviu a voz de uma criança invisível, que cantava repetidamente:
Toma e lê, toma e lê. Ele tomou a epístola de Paulo ao Romanos e leu, no capítulo 13, versículos 13 e 14, o texto que o conduziu definitivamente à sua transformação moral.
Tornou-se um dos maiores intelectuais e oradores do cristianismo.
Comia frugalmente, trabalhava incansavelmente, desprezava fofocas e tentações e era prudente na gestão financeira dos negócios da Igreja.
Sua vida nunca foi tranquila: pregava até duas vezes ao dia, ministrava catequese, resolvia questões de justiça e atendia pobres e órfãos, mesmo com posição e autoridade de bispo.
Seu pensamento influenciou profundamente a visão do homem medieval. Conseguiu uma proeza extraordinária:
- É considerado Santo na Igreja Católica e na Igreja Anglicana;
- É considerado Pai Teólogo de muitos dos protestantes, notadamente os calvinistas e os luteranos;
- É louvado na Igreja Ortodoxa Oriental; e
- É respeitado e citado pelos espíritas.
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Fazei o que fazia, quando vivi na
Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar.
Santo Agostinho em O Livro dos Espíritos de Allan Kardec
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Quem é o meu próximo? Indaga o Doutor da Lei. A pergunta é respondida pelos exemplos de Dom Bienvenu e Santo Agostinho, que honraram as recomendações de Jesus.
Eles realmente esqueceram-se de si mesmos e passaram a dedicar suas vidas ao bem.
Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado? (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Questão 919)
Esta é a reflexão que devemos fazer diariamente, fazendo o melhor possível ao nosso alcance.
Iludimo-nos, colocando nossos esforços considerando apenas esta vida, a material, que é passageira.
Buscando a nossa transformação moral e desenvolvendo o sentimento de caridade e amor, estaremos nos habilitando a identificar o próximo,
fazendo com ele exatamente o que gostaríamos que fizesse conosco.
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As reflexões de Santo Agostinho foram e continuam sendo respeitadas por todos nós. Sigamos o seu exemplo e façamos da mesma maneira.